quinta-feira, 15 de abril de 2010

textos para estudo (1º ano)

FILOSOFAR


O que é filosofar?

Na imagem ao lado vemos um filósofo [Platão] apontando para o alto. E outro [Aristóteles] mostrando para o lado. Explicações dessa imagem dão conta de que o fato de olhar e apontar para cima significa que esse pensador está preocupado com as coisas elevadas da alma. E o direcionamento ao horizonte é destacar a dimensão ética--prática da realidade cotidiana. O correto será o equilíbrio entre as coisas da alma e das atividades diárias.

Essa imagem e outras práticas cotidianas dos filósofos dos professores e professoras de Filosofia criaram nas pessoas [sobretudo no senso comum] a mentalidade de que o filósofo vive no mundo das nuvens.

Mais importante do que o papel do professor de Filosofia é a importância da Filosofia no desenvolvimento de competências e habilidades para formar o aluno do ensino médio.

Não é função só da Filosofia — também envolve outras disciplinas — no entanto a Filosofia tem papel preponderante na formação de competência reflexiva do aluno, elevando-os/as a um nível de consciência política existencial. A escola do nosso século tem a função de inferir e interferi na realidade política e social. A interferência no realidade cria nos alunos valores éticos/cidadãos. A educação deve formar valores, focando também os conteúdos — produção de conhecimento.

A maior problemática: é como ensinar Filosofia? No processo histórico recente do Brasil, o filósofo, filósofa e a

A interdisciplinaridade da Filosofia e outras disciplinas são importantes. A própria história da Filosofia pode ser trabalhada em parceria com o professor de história. A consciência ética e bioética com a biologia e assim com outras disciplinas.

Fonte revista filosofia Ed nº44

O homem, um ser social e político




Movidos pelo instinto gregário, os animais passam a viver juntos com a finalidade de sobreviver e conservar a espécie. Se por qualquer razão essa convivência pacífica é ameaçada, eles se opõem, lutam entre si, sobrevivendo apenas os mais aptos.

Os seres humanos também não vivem sozinhos; não como animais solitários. Impelidos pelos instintos de sobrevivência, segurança, reprodução e satisfação, para citar os mais importantes e conhecidos, os homens se associam uns aos outros. Em que eles diferem dos animais?

O indivíduo não existe, como ser humano, fora do meio social. Além dos impulsos vitais que levam os homens a se juntar ou a se opor uns aos outros, eles são estimulados a compartilhar sua existência com os demais, movidos pela necessidade de buscar o bem comum. A coexistência e a cooperação entre os indivíduos e grupos são necessárias para as constituições sociais e políticas que, por sua vez, garantem o bem-estar individual e coletivo e coletivo.

Para possibilitar uma convivência harmoniosa, resultado da associação permanente entre os indivíduos diferentes, o homem estabelece normas e padrões de conduta, promulga leis que regulam a vida em sociedade. Nesse sentido, além de ser social, o homem é um ser político: governa com habilidade o destino de sua pólis (cidade).

A sociabilidade é inerente ao ser humano e garante a perpetuação de sua história. A convivência social permite-lhe compartilhar experiências e vivências passadas e presentes, bem como projetar realizações futuras pelo uso contínuo da linguagem.

A linguagem é um fenômeno eminentemente social, resultado da convivência humana, que possibilita a comunicação escrita e oral entre os homens. Por meio da linguagem é possíveis a transmissão da cultura, a conservação do passado, o registro do presente e a construção do futuro. A comunicação pessoal e social é intermediada pelo uso que os homens fazem da linguagem, nas suas mais variadas formas.
Qual é a “utilidade” da filosofia?




Para responder à questão, precisamos saber primeiro o que entendemos por utilidade. Ora, vivemos em um mundo marcado pela busca dos resultados imediatos do conhecimento. Sob essa perspectiva, é considerada importante a pesquisa da cura do câncer; ou o estudo de matemática no ensino médio porque “entra no vestibular”; ou ainda a seleção das disciplinas que vão interessar no exercício de determinada atividade. Por isso, com freqüência, o estudante se pergunta: ”Para que vou estudar filosofia, se não precisarei dela na minha profissão?”.

Seguindo essa linha de pensamento, a filosofia seria realmente “inútil”: não serve para nenhuma alteração imediata de ordem pragmática. Neste ponto, ela é semelhante à arte. Se perguntarmos qual é a finalidade de uma obra de arte, veremos que ela tem um fim em si mesmo e, nesse sentido, é “inútil”. Entretanto, não ter utilidade imediata não significa ser desnecessário. A filosofia é necessária.

Onde está a necessidade da filosofia? Está no fato de que, por meio da reflexão (aquele desdobrar—se, lembra—se?), a filosofia nos permite ter mais de uma dimensão, além da que é dada pelo agir imediato no qual o “indivíduo prático” se encontra mergulhada. E a filosofia que dá o distanciamento para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos e dos fins a que eles se destinam;

11am; reúne o pensamento fragmentado da ciência e o reconstrói na sua unidade; retoma a ação pulverizada no tempo e procura compreendê-la.

Portanto, a filosofia é a possibilidade da transcendência humana, ou sei a, a capacidade de superar a situação dada e não-escolhida. Pela transcendência, a pessoa surge como ser de projeto, capaz de ser livre e de construir o seu destino, O distanciamento é Justamente o que provoca a nossa aproximação maior com a vida. Whitehead, lógico e matemático britânico, disse que “a função da razão é promover a arte da vida”.A filosofia recupera o processo perdido no imobilismo das coisas feitas (mortas porque já ultrapassadas).A filosofia impede a estagnação.

Por isso, o filosofar sempre se confronta com o poder, e sua investigação não fica alheia à ética e à política. E o que afirma o historiador da filosofia François Châtelet: “Desde que há Estado — da cidade grega às burocracias contemporâneas —, a idéia de verdade sempre se voltou, finalmente, para o lado dos poderes (ou foi recuperada por eles, como testemunha, por exemplo, a evolução do pensamento francês do século XVIII ao século XIX). Por conseguinte, a contribuição específica da filosofia que se coloca ao serviço da liberdade, de todas as liberdades, é a de minar, pelas análises que ela opera e pelas ações que desencadeia, as instituições repressivas e simplificadoras: quer se trate da ciência, do ensino, da tradução, da pesquisa, da medicina, da família, da policia, do fato carcerário, dos sistemas burocráticos, o que importa é fazer aparecer a máscara, desloca-la, arranca-la

A filosofia é, portanto, a crítica da ideologia, entendida como forma ilusória de conhecimento que visa a manutenção de privilégios. Atentando para a etimologia do vocábulo grego correspondente à verdade (a-létheia, a-lethe-úein,”desnudar”), vemos que a verdade consiste em por a nu aquilo que está escondido, Eis a vocação do filósofo: o desvelamento do que está encoberto pelo costume, pelo convencional, pelo poder.

Finalmente, a filosofia exige coragem. Filosofar não é um exercício puramente intelectual. Descobrir a verdade é ter a coragem de enfrentar as formas estagnadas do poder que tentam manter o status quo, é aceitar o desafio da mudança. Saber para transformar. Lembremos que Sócrates foi aquele que enfrentou com coragem o desafio máximo da morte.

E bem verdade, alguns dirão, que sempre houve e haverá os pensadores bajuladores do poder, aqueles que estão a serviço da manutenção do status quo e que emprestam suas vozes e argumentos para defender tiranos. Mas, aí, estamos diante das fraquezas do ser humano, seja por estar sujeito a enganar-se, seja por sucumbir ao temor ou ao desejo de prestígio e glória. Segundo Karl Jaspers,”a anti-filosofia é uma filosofia, embora pervertida, que, se aprofundada, engendraria sua própria aniquilação”.



Texto 02



Inútil? Útil?

O primeiro ensinamento filosófico é perguntar: “O que é o útil?”, “Para que e para quem algo é útil?”, “O que é o inútil?”, “Por que e para quem algo é inútil?”.

O senso comum de nossa sociedade considera útil o que dá prestígio, poder, fama e riqueza. Julga o útil pelos resultados visíveis das coisas e das ações, identificando sua possível utilidade, como na famosa expressão “levar vantagem em tudo”. Não poderíamos, porém, definir o útil de uma outra maneira?

Platão definia a Filosofia corno “um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício dos seres humanos para que vivam numa sociedade justa e feliz”,

Descartes dizia que a Filosofia “é o estudo da sabedoria, conhecimento perfeito de todas as coisas que os humanos podem alcançar para o uso da vida, a conservação da saúde e a invenção das técnicas e das artes com as quais ficam menos submetidos às forças naturais, às intempéries e aos cataclismos”.

Kant afirmou que a Filosofia “é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que pode conhecer o que pode fazer e o que pode esperar, tendo como finalidade a felicidade humana”.

Marx declarou que a Filosofia havia passado muito tempo apenas contemplando o mundo e que se tratava, agora, de conhecê-lo para transformá-lo, transformação que traria justiça, abundância e felicidade para todos.

Merleau-Ponty escreveu que a Filosofia “é um despertar para ver e mudar nosso mundo”.

Espinosa afirmou que a Filosofia “é um caminho árduo e difícil, mas que pode ser percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade”.

Qual seria, então, a utilidade da Filosofia?

Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido dos criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.


Fonte: CHAUÍ, Marilena, Convite à Filosofia, Ed. Ática, 2004.SP


AS RELAÇÕES SOCIAIS NA PRÉ-HISTÓRIA E NA HISTÓRIA.



Neste texto o autor imagina uma sociedade primitiva, que chama pelo nome inventado de UGH-UGH – e descreve como teriam evoluído o modos de produção e as relações sociais nesta sociedade.

EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS NAS SOCIEDADES PRIMITIVAS.

Suponhamos uma sociedade primitiva nos primórdios da história da humanidade, que nos servirá como modelo.Chamemos esta sociedade de Ugh-ugh – um som que aprendemos ,pelas histórias em quadrinhos e pelo cinema, identificar com homens bastante primitivos.

Nos primórdios de Ugh-Ugh,naturalmente ,os homens não se distinguiam muito dos animais, pois sua tecnologia - ou seja ,basicamente ,seus instrumentos e seus meios de produção- era extremamente precária. Contudo,a inteligência, o uso da palavra e das mãos já marcavam Ugh-ugh como uma coletividade muito diferente de um grupo ,digamos de macacos superiores .E justo que os primeiros líderes de Ugh-Ugh eram simplesmente os mais fortes , que podiam impor sua vontade.

como, entretanto,mesmo os membros mas fortes de uma coletividade do tipo de Ugh-Ugh não podem enfrentar todos os outros membros conjuntamente,o que aconteceu foi os mais fortes trocavam seus privilégios por algumas formas de serventia à comunidade. Liderando o combate contra inimigos humanos e animais tomando a frente em caçadas e assim por diante.

Com o correr do tempo e os avanços tecnológicos, por outro lado, simplesmente ser suficiente para mandar em Ugh-Ugh. Por exemplo, se um Ugh-Ughiano de inteligência do discernimento superiores inventou a primeira arma( vãos dizer, uma lança primeira, ou um machado de pedra, é evidente que a força física já era contrabalançada por algo que aumentava consideravelmente. Assim a tecnologia ,desde o começo passou a ter um papel muito importante. O controle da tecnologia passou,portanto a significar que se podia escrever decisões coletivas, a tecnologia se igualou ao poder. Quem tinha machados ou lanças tinha poder.

Por outro lado, avanços tecnológicos em outras áreas que não a de armamentos ,avanços por exemplos, relacionados com uma produção mais eficiente de alimentos e abrigos , também introduziam profundas novidades em Ugh-ugh. Se , no começo os ugh-ughiianos dependiam dos frutos que pudessem colher e dos animais que conseguem capturar é evidente que sua situação era precária. O misterioso “poder” estava mais concentrada na natureza, pois lanças, pedras e machados de pouco adiantavam um escassez eventual de caças ou plantas comestíveis. (...)

O início do cultivo intencional e organizado de plantas comestíveis é do pastoreio de animais é por conseguinte, avanço importantíssimo para Ugh-Ugh. A coletividade se torna mais forte,mais capaz de reunir a crises ,mais capaz de sobrevier e aumentar sua população ,mais de fortalecer sua cultura, através da contribuição da experiência dos mais velhos.(...)felicidade de encontrar um

O poder não é o as armas, muito mais, dos que detém a tecnologia do cultivo e do pastorío Não é impossível, inclusive , que Ugh-Ugh se veja obrigada a enfrentar vizinho predatório que não sabendo eles mesmos criar gado ou plantar,resolvam, pela, pilhar o patrimônio ugh-ughiano – o que alias, pode muito bem estar na raiz do surgimento da profissão militar, que tende a assumir grande importância em Ugh-Ugh.

Por seu turno,os avanços tecnológicos vão gerar o que se chama habitualmente de “divisão social do trabalho”,enquanto os hgh-Ughianos se limitam a colher frutas selvagens e a matar os animais que tivessem a infelicidade de encontrar um Ugh-ghiano armado pela frente ,o trabalho da coletividade e provavelmente, a propriedade eram praticamente indiferenciados – uma conseqüência mesma da simplicidade das tarefas desempenhada pela coletividade. Com o cultivo e o pastoreio, a divisão já começava a assimilar-se. Acrescente-se a isso novos avanços tecnológicos provocados exatamente pelo cultivo e pelo pastoreio. Por exemplo, muitas plantas domesticadas ( o trigo e o milho,para criar duas ,eram originalmente espécies rudes de grama que por uma seleção genética aos trancos e barrancos, pendiam na poeira do tempo,acabaram transformando no que são hoje. Dependiam, para seu consumo eficaz, de preparação. É necessário que se colha o trigo que se selecionem as espigas, que se faça farinha e que ao fogo, se produza o pão.

Todas essas novas atividades, que gradualmente se distribuirão por diversos setores da coletividade, bem como as atividades geradas pelo pastoreio, tais como a matança, o uso peles, a preservação da carne por diante.

Muitas atividades requererão, por assim dizer, equipes com a tendência a se formarem grupos especiais e a se formalizar alguma via para a transmissão do conhecimento especializado às novas gerações. Outras atividades, por uma razão ou por outra tornarão ao desvalorizadas ou subordinadas a outra. Pode-se,enfim, imaginar a complexidade de situações que se vão criando com cada etapa do desenvolvimento de Ugh-Ugh.