segunda-feira, 19 de setembro de 2011

TEXTO BASE PARA O ESTUDO DIRIGIDO LÓGICA 1° ANO

CENTRO EDUCACIONAL 06-GAMA/DF



PROF: DENYS F. DA COSTA


DISCIPLINA : FILOSOFIA


1º SÉRIE


NOME:_________________________________________Nº____TURMA___


ESTUDO DIRIGIDO: LÓGICA



Introdução

       A lógica faz parte do nosso cotidiano. Na família, no trabalho, no lazer, na política, enfim, sempre que nos dispomos a conversar com as pessoas, usamos argumentos para expor e defender nossos pontos de vista. Os pais discutem com seus filhos adolescentes sobre o que podem ou não fazer, e eles rebatem com outros arrazoados. Nos encontros entre amigos nem sempre todos têm opinião idêntica a respeito de assuntos tais como: se a fidelidade é importante nas relações amorosas, se a política é ou não importante na vida de todos, se o aborto é uma maneira adequada de resolver uma gravidez não- desejada, se clonar humanos é urna prática eticamente correta, e assim por diante.

      Outras vezes, porém, enfrentamos situações em que desejamos persuadir alguém a respeito de nossas idéias. Por exemplo, o político deseja o voto do eleitor, o advogado quer convencer O juiz ou o promotor da inocência do seu cliente, o gerente defende a implantação de urna estratégia a ser avaliada pelos proprietários da empresa. Nesses casos, não se trata apenas de simples exposição de um raciocínio, em que predominam elementos racionais, mas apela—se também para a emoção, a fim de melhor convencer o ouvinte. Essas técnicas são conhecidas da retórica, a arte do discurso persuasivo.

      Não é esse aspecto persuasivo que nos interessa neste capítulo, mas o estudo da lógica, importante instrumento para organizarmos nossas idéias de forma mais rigorosa, de maneira a não tirarmos conclusões inadequadas a partir de enunciados dados.

Neste capítulo vamos examinar as principais características da lógica aristotélica e indicar o percurso da lógica pós—aristotélica. Na Segunda parte, abordaremos alguns tópicos da lógica contemporânea, conhecida como lógica simbólica ou matemática.

1. Definição e princípios

       Embora os sofistas e também Platão tenham se ocupado com o que poderíamos chamar de questões lógicas, nenhum deles o fez com a amplitude e o rigor alcançados por Aristóteles (sé e. IV a.C.), na obra Analíticos. Como o próprio nome diz, trata-se de urna análise do pensamento nas suas partes integrantes. Essa e outras obras sobre que o assunto foram denominadas mais tarde, em conjunto, Organon, que significa “instrumento” (instrumento para se proceder corretamente no pensar). O próprio Aristóteles não usou a palavra lógica que só apareceu mais tarde.

         Etimologicamente, a palavra lógica vem do grego logos, que significa “palavra”, “expressão”, “pensamento”, “conceito”, “discurso”, “razão”. Podemos defini-la como o estudo dos métodos e princípios da argumentação. Ou, então, como a investigação das condições em que a conclusão de um argumento se segue de suas premissas. Por exemplo, vejamos as seguintes argumentações:

4. Tipos de argumentação

       Tradicionalmente dividimos os argumentos em dois tipos, os dedutívos e os indutivos, sendo que a analogia constitui apenas uma forma de indução.

Dedução

       Em um argumento dedutivo correto a conclusão é inferida necessariamente das premissas. Ou seja, o que está dito na conclusão é extraído das premissas, pois na verdade já está implícito nelas. Na dedução lógica, o enunciado da conclusào não excede o conteúdo das premissas, isto é, não se diz mais na conclusão do que já foi dito. Aliás, etimologicamente, dedução vem do latim de-ducere, que significa “conduzir a partir de”.

        A matemática usa predominantemente processos dedutivos de raciocínio. A proposição matemática é demonstrada quando a deduzimos de proposições já admitidas como verdadeiras, quando fazemos ver que a conclusão decorre necessariamente das proposições que a antecedem. Mas a dedução matemática não se confunde com a dedução lógica, pois a matemática manipula também outros símbolos, revelando novas relações, o que torna a dedução matemática mais ampla e fecunda.

        Retomando os quatro silogismos que examinamos nos itens anteriores, podemos vê-los como exemplos de dedução. Acrescentamos que o silogismo é um raciocínio que parte de pelo menos uma proposição geral e cuja conclusão pode ser uma proposição geral ou uma proposição particular.

        Nos exemplos a seguir, a primeira dedução parte de premissas gerais e chega a uma conclusão também geral; no segundo caso, a conclusão é particular:

Todo brasileiro é sul—americano.

Todo paulista é brasileiro.

Todo paulista é sul—americano.



Todo brasileiro é sul—americano.

Algum brasileiro é índio.

Algum índio é sul-americano.



(Exemplo 1)

Toda estrela brilha com luz própria.

Ora, nenhum planeta brilha com luz

própria.

Logo, nenhum planeta é estrela.

(Exemplo 2)

Todos os cães são mamíferos.

Ora, todos os gatos são mamíferos.

Portanto, todos os gatos são cães.

         As premissas são as proposições iniciais nos exemplos, as duas primeiras a partir das quais tiramos a conclusão. No segundo exemplo, logo percebemos que o argumento não é válido, mas nem sempre isso é visto com tanta clareza, porque, em outras vezes, a argumentação nos parece correta, sem ser. Por isso precisamos nos instruir sobre regras que possam nos orientar.

Mais adiante, voltaremos a esses conceitos para melhor compreendê-los.

Segundo Aristóteles, a lógica se subdivide em:

lógica formal (ou menor), que estabelece a forma correta das operações do pensamento. Se as regras forem aplicadas adequadamente, o raciocínio é considerado válido.

lógica material (ou maior),que trata da aplicação das operações do pensamento segundo a matéria ou natureza dos objetos a conhecer. Enquanto a lógica formal se ocupa com a estrutura do pensamento, a lógica material investiga a adequação do raciocínio à realidade. E também chamada metodologia, e como tal procura o método próprio de cada ciência.

       Uma das mais duradouras contribuições da lógica aristotélica está no estabelecimento dos primeiros princípios que, por serem anteriores a qualquer raciocínio, servem de base a todos os argumentos. Esses princípios, que se relacionam entre si, também dependem da concepção metafisica aristotélica ,São eles o princípio de não-contradição, o princípio de identidade e o princípio do terceiro excluído.

        E assim que Aristóteles formula na Metafísica o princípio de não-contradição: “E impossível que o mesmo (o mesmo determinante) convenha e não convenha ao mesmo ente ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto”. Isso significa que duas proposições contraditórias não podem ser verdadeiras, que não é possível afirmar e negar simultaneamente a mesma coisa, isto é, nenhum enunciado pode ser verdadeiro e falso. Por exemplo: se for verdade que “alguns seres humanos não são justos”, é falso que “todos os seres humanos sejam justos”.

         Segundo o princípio de identidade, se um enunciado é verdadeiro, então ele é verdadeiro. O princípio do terceiro excluído afirma que um enunciado ou é verdadeiro, ou é falso.

2. Proposição e argumento

Com o auxilio da psicologia, podemos constatar que chegamos às nossas conclusões por meio de elementos racionais, embora existam também fatores emocionais e intuitivos, tais corno divagação, associação de idéias, imaginação. recursos cujos resultados podem ser desde crenças e opiniões até sentenças científicas. No entanto, os aspectos psicológicos não interessam à lógica, cujo objetivo é a análise do argumento. O argumento é um discurso em que encadeamos proposições de maneira a chegar a uma Conclusão. A proposição é tudo o que pode ser afirmado ou negado. Por exemplo, “Todo cão é mamífero” ou então “Animal não é mineral”.

Aos dois exemplos de argumentos que apresentamos na introdução do capítulo, vamos acrescentar mais um:



           Nos exemplos dados, há três proposições em que a última, a conclusão (ou conseqüente), deriva logicamente das duas anteriores, chamadas premissas (etimologicamente, “que foram colocadas antes”) ou antecedentes. Nem sempre (na verdade quase nunca. .) a argumentação se formaliza claramente como nos exemplos citados. Quando expomos nossas idéias, seja oralmente ou por escrito, às vezes começamos pela conclusão, além de, com freqüência, omitirmos premissas, deixando—as subentendi das. Por isso, um dos trabalhos do l6gico é montar o raciocínio redescobrindo sua estrutura e avaliando se a conclusão se segue das premissas.

Por exemplo, quando dizemos: “Preste atenção, a palavra Malu não tem acento!”, estamos enunciando a conclusão de um raciocínio subentendido que pode ser montado assim:” Toda palavra oxítona terminada em i ou u tônicos só é acentuada quando precedida de vogal. Ora, na palavra Malu o u tônico não é precedido de vogal, portanto não deve ser acentuado”.

A passagem das premissas para a conclusão corresponde à inferência (do latim infere, “levar para”). A inferência é um processo de pensamento pelo qual, a partir de certas proposições. chegamos a uma conclusão. Cabe ao lógico examinar a forma da inferência, a concatenação existente entre os diversos enunciados, a fim de verificar se é válido chegar a determinada conclusão. Em outras palavras, a lógica examina se a estrutura da inferência é válida ou inválida.

3. Validade e verdade

          Podemos dizer das proposições que elas são verdadeiras ou falsas. Mas quando se trata de argumentos, dizemos que são válidos ou inválidos. Uma proposição é verdadeira quando corresponde ao fato que expressa. Um argumento é válido quando sua conclusão é conseqüência logica de suas premissas.

          Retomemos as argumentações já citadas: no primeiro exemplo (estrelas e planetas) e no terceiro (sobre o mercúrio), as proposições que constituem o antecedente, bem como a conclusão, são verdadeiras e a inferência é válida, Já no segundo exemplo (cães e gatos),as proposições que constituem o antecedente são verdadeiras, a conclusão é falsa e a inferência é inválida.

          Vamos complicar um pouco mais? Pode acontecer de todas as proposições que constituem o antecedente e o conseqüente serem verdadeiras e a inferência ser inválida, corno no exemplo a seguir.

(Exemplo 4)

Todo inseto é hexápode (tem seis patas).

Ora, todo inseto é invertebrado.

Logo, todo hexápode é invertebrado.

          Para justificar o que dizemos, é preciso antes compreender alguns conceitos. Esse tipo de argumento é chamado por Aristóteles de silogisino, que significa “ligação”: é a ligação de dois termos por meio de um terceiro. Retomando o primeiro exemplo, dado no item 1, vemos três termos: “estrela”, “brilha com luz própria” e “planeta”. Chamamos termo médio aquele que faz a ligação entre os outros dois. No exemplo, “brilha com luz própria” liga “estrela” e “planeta”, de modo que a conclusão segue-se necessariamente das premissas. Além disso, o enunciado da conclusão não excede o conteúdo das premissas, isto é, não se diz mais na conclusão do que já foi dito.

         Para justificar que a conclusão não excede o que foi dito no antecedente é preciso saber que existem proposições gerais e proposições particulares.

          Uma proposição é geral quando o sujeito da proposição é tomado na sua totalidade. Por exemplo: “Toda baleia é mamífero”. E preciso prestar atenção, pois às vezes usamos apenas o artigo definido (o, a) para indicar a totalidade: “O homem é livre”. Observe também que não importa se nos referimos a uma parte de outra totalidade; se na proposição tomamos todos os elementos que a constituem, trata-se de uma proposição geral, uma vez que o termo é total (ou distribuído). Na proposição “Os paulistas são brasileiros”, não importa que os paulistas sejam uma parte dos brasileiros, mas que nesse caso estamos nos referindo à totalidade dos paulistas.

         Uma proposição é particular quando o sujeito da proposição é tomado em apenas uma parte indeterminada: “Alguns homens são injustos”, “Certas pessoas são curiosas”. Uma proposição particular pode ser singular, quando o sujeito se refere a um indivíduo: “Esta flor é bonita”, “São Paulo é uma bela cidade”, “Sócrates é filósofo”.

         Outro aspecto a observar é a extensão do termo. Chamamos de extensão a amplitude de um termo, ou seja, a coleção de todos os seres que ele designa. Por exemplo, a extensão de estarmos atentos à extensão dos termos no argumento para verificarmos a validade dele.

Precisamos ainda de mais um instrumental de apoio, ou seja, as oito regras do silogismo:

• o silogismo só deve ter três termos o maior, o menor e o médio);

• de duas premissas negativas nada resulta:

• de duas premissas particulares nada resulta:

• o termo médio nunca entra na conclusão:

• o termo médio deve ser pelo menos uma

vez total;

• nenhum termo pode ser total na conclusão sem ser total nas premissas;

• de duas premissas afirmativas não se conclui uma negativa;

• a conclusão segue sempre a premissa niais fraca (se nas premissas uma delas for negatIva, a conclusão deve ser negativa; se uma for particular, a conclusão deve ser particular).

Examinemos agora os argumentos já vistos a fim de aplicar neles o que aprendemos. Escolhemos os exemplos 2 e 4, por serem inválidos. Vejamos por quê.

          No exemplo 2 (dos cães e gatos), o termo médio — que aparece na primeira e na segunda proposições — é “mamífero”, e é assim chamado por fazer a “ligação” entre “cão” e “gato”. Ora, segundo uma das regras do silogismo, esse termo deveria ser pelo menos uma vez total, mas nas duas proposições ele é particular, como se disséssemos: “Todos os cães são (alguns dentre os) mamíferos” e “Todos os gatos são (alguns dentre os) mamíferos”. Portanto, na conclusão, afirmamos mais do que foi dito nas premissas. o que torna a inferência inválida)

          No exemplo 4, temos três termos: inseto, liexápode e invertebrado. O termo “inseto” é o termo médio. No entanto, o termo maior “hexápode” é particular na premissa maior: “Todo inseto é (algum dentre os) hexápode”. Já na conclusão, “hexápode” é tomado em toda extensão (todo hexápode), o que significa afirmar no consequente mais do que foi afirmado no antecedente.

          Quanto aos dois outros exemplos, o 1 e o 3, exercite você mesmo, aplicando neles todas as regras, a fim de confirmar sua validade. “mamífero” é a classe de todos os seres que mamam. Veremos adiante como é importante É verdade que a dedução é um modelo de rigor. Mas também é estéril, na medida em que não nos ensina nada de novo, apenas organiza o conhecimento já adquirido. Condillac, filósofo francês do século XVIII, compara a lógica aos parapeitos das pontes: “impedem—nos de cair, mas não nos fazem ir adiante”. Isso significa que a conclusão nada acrescenta àquilo que as premissas já disseram. No entanto, se a dedução não inova, isso não significa que não tenha valor algum, já que sempre fazemos deduções e é preciso investigar quando são válidas ou inválidas.

Indução

           A indução por enumeração é uma argumentação pela qual, a partir de diversos dados singulares constatados, chegamos a proposições universais. Nesse tipo de argumento ocorre uma generalização indutiva. Enquanto na dedução a conclusão deriva de proposições universais já conhecidas, a indução, ao contrário, chega à conclusão a partir de evidências parciais. Exemplos:

           Esta porção de água ferve a cem graus, e esta outra, e esta outra...; logo, a água ferve a cem graus.

           O cobre é condutor de eletricidade, e o ouro, e o ferro, e o zinco, e a prata também...; logo, o metal (isto é, todo metal) é condutor de eletricidade.

           Diferentemente do argumento dedutivo, o conteúdo da conclusão da indução excede o das premissas. Enquanto a conclusão da dedução está contida nas premissas, e retira daí a prova de sua verdade, a conclusão da indução tem apenas pio- habilidade de ser correta. Portanto, segundo Wesley Salmon, “podemos afirmar que as premissas de um argumento indutivo correto sustentam ou atribuem certa verossimilhança à sua conclusão”.

            Apesar da aparente fragilidade da indução. Que não alcança o rigor do raciocínio dedutivo, trata-se de uma forma muito fecunda de pensar. Responsável pela fundamentação de grande parte dos nossos conhecimentos na vida diária e de grande valia nas ciências experimentais. Além disso, todas as nossas previsões têm base na indução, ou seja, no raciocínio que, partindo de alguns casos da experiência presente, nos faz inferir que o mesmo poderá ocorrer mais tarde.

            Cabe ao lógico especificar as condições sob as quais devemos tomar a indução como correta. Há vários tipos de indução, e aqui vamos examinar alguns.

Existe indução completa quando há condições de serem examinados cada um dos elementos de um conjunto:

A visão, o tato, a audição, o gosto, o olfato (que chamamos sentidos) têm um órgão corpóreo.

Portanto, todo sentido tem um órgão

corpóreo.

            No entanto, o caso mais comum é o da indução incompleta, em que de alguns elementos conclui-se a totalidade. A generalização indutiva é precária quando feita apressadamente e sem critérios. E preciso examinar se a amostragem é significativa e se existe número suficiente de casos que permitam a passagem do particular para o geral.

           Ao fazer a prévia eleitoral, um instituto de pesquisa consulta amostras significativas dos diversos segmentos sociais, segundo metodologia científica, Ao considerar que dentre os eleitores da amostra 25% votarão no candidato X, e 10% no Y conclui-se que a totalidade dos eleitores votará segundo a mesma proporção.

Analogia

Como dissemos, a analogia é um caso de indução, mas vamos analisa-la separadamente por ter algumas características específicas.

           Analogia (ou raciocínio por semelhança) é uma indução parcial ou imperfeita, na qual passamos de um ou de alguns fatos singulares não a uma conclusão universal, mas a uma outra enunciação singular ou particular, inferida em virtude da comparação entre objetos que, embora diferentes, apresentam pontos de semelhança:

Paulo sarou de suas dores de cabeça com este remédio.

Logo, João há de sarar de suas dores de cabeça com este mesmo remédio.

             É claro que o raciocínio por semelhança fornece apenas probabilidade, e não certeza, mas desempenha papel importante na descoberta ou na invenção parte de nossas conclusões diárias baseia—se na analogia. Se lermos um bom livro de Graciliano Ramos, provavelmente compraremos outro do mesmo autor, na suposição de que deverá ser bom também. Se formos bem atendidos numa loja, voltaremos da próxima vez, na expectativa de tratamento semelhante. Da mesma forma, se mal atendidos, evitaremos retornar. Quando as explicações de determinado fato nos parecem complexas, costumamos recorrer a comparações, que na verdade são analogias: “Quem não está habituado a ler, sofre como um nadador iniciante, engole água e perde o fôlego”. Do mesmo modo, o texto literário é enriquecido pela metáfora, que é uma forma de estabelecer semelhança: “Amor é fogo que arde sem se ver” (Camões).

               A ciência também se vale de analogias. O médico britânico Alexander Fleming estava cultivando colônias de bactérias e observou que elas morriam em torno de uma mancha de bolor que tinha sido formada casualmente. Investigando o novo fato, reconheceu os fungos do gênero Penicillium. Por analogia, supôs que, se o bolor destruía as bactérias na cultura in vitro, poderia ser usado como medicamento para curar doenças em organismos ou seres mais complexos.

               As analogias podem ser fracas ou fortes, dependendo da relevância das semelhanças estabelecidas entre objetos diferentes. Embora a fisiologia dos seres humanos não seja idêntica à das cobaias, em experiências biológicas podem ser feitas comparações que tornam a analogia adequada e fecunda. Se o biólogo constatar determinados efeitos de uma droga ministrada em cobaias, é possível sustentar que os efeitos provocados em humanos sejam semelhantes.

                No entanto, convém observar que tipo de diferentes objetos comparamos para chegar a uma conclusão e qual é o critério de relevância que estamos usando, Assim, será fraca a analogia em que, embora a conclusão se baseie em diversas considerações, todas são irrelevantes. Por exemplo, se desejo comprar um carro que tenha o mesmo rendimento do carro do meu amigo, a analogia será fraca se eu levar em conta as semelhanças de cor, estofamento, recursos do painel e aquisição por meio da mesma agência de automóveis. A analogia será forte se, ao contrário, considerar a marca, o modelo, a potência, o número de cilindros, o peso da carroceria.

            Esse exemplo, dado pelo professor norte- americano Irving Copi, serve para ressaltar que “o fator de relevância deve ser explicado em função da causalidade” e que, portanto, “para apreciar argumentos analógicos são requeridos alguns conhecimentos das conexões causais”.

5. Falácias

                A falácia é um tipo de raciocínio incorreto, apesar de ter a aparência de correção. E conhecida também como sofisma ou paralogismo, embora alguns estudiosos façam uma distinção, pela qual o sofisma teria a intenção de enganar o interlocutor, diferentemente do paralogismo.

                As falácias podem ser formais, quando contrariam as regras do raciocínio correto, ou não- formais, quando, segundo Irving Copi, os erros decorrem de “inadvertência ou falta de atenção ao nosso tema, ou então porque somos iludidos por alguma ambigüidade na linguagem usada para formular nosso argumento”.

São inúmeros os tipos de falácia e por isso vamos nos restringir a alguns poucos.

Falácias não-formais

Comecemos pelas falácias não-formais, bastante comuns na vida diária.

               Muitas falácias decorrem do fato de algumas premissas serem irrelevantes para a aceitação da conclusão, mas são usadas com a função psicológica de convencer, mobilizando emoções como medo, entusiasmo, hostilidade ou reverência.

               Por exemplo, o argumento de autoridade é um tipo de indução aceitável, desde que a autoridade seja um especialista, tornando—se irrelevante se, por exemplo, reõorrermos à autoridade do cientista Einstein para justificar posições religiosas ou ao jogador Pelé para avaliar política. Trata-se de recurso desviante, em que é usado o prestígio da autoridade para outro setor que não é da sua competência. Isso é muito comum na propaganda, quando artistas famosos “vendem” desde sabonetes até idéias, quando, por exemplo, apóiam um candidato às eleições.

                 Há ainda o argumento de autoridade “às avessas”, no sentido de ser pejorativo e ofensivo, conhecido como argumento contra o homem. Ocorre quando consideramos errada uma conclusão porque parte de alguém por nós depreciado. Ao refutar a verdade, atacamos quem fez a afirmação: por exemplo, desvalorizar a filosofia de Francis Bacon porque ele perdeu seu cargo de Chanceler da Inglaterra depois de serem constatados atos de desonestidade; ou ainda desmerecer o valor musical de Wagner a partir de sua adesão aos movimentos anti-semitas.

                Na falácia de acidente, considera—se essencial algo que não passa de acidente como, por exemplo, concluir que a medicina é inútil por causa do erro de um médico. Ou quando se aplica o que é válido como regra geral em circunstâncias particulares e “acidentais” em que a regra é inaplicável. E o caso de pessoas excessivamente moralistas ou legalistas, que julgam a partir da letra fria das normas e das leis, independentemente da análise cuidadosa das circunstâncias específicas dos acontecimentos.

                A falácia de ignorância da questão consiste em se afastar da questão, desviando a discussão. Um advogado habilidoso, que não tem como negar o crime do réu, enfatiza que ele é bom filho, bom marido, trabalhador etc.; um vereador acusado de ter gasto sem a autorização da Câmara põe em relevo a importância e urgência dos gastos; ou, ainda, o deputado que defende o governo acusado de corrupção em comissão de inquérito não se detém para avaliar os fatos devidamente comprovados, mas discute questões formais do relatório da comissão ou enfatiza o pretenso revanchismo dos deputados oposicionistas.

              Há também falácias como a petição de princípio, ou círculo vicioso, que consiste em supor já conhecido o que é objeto da questão. Por exemplo: “Por que o ópio faz dormir? Porque tens uma virtude dormitiva” ou “Tal ação é injusta porque é condenável; e é condenável porque é injusta”. Nessas citações é fácil perceber o erro, mas nem sempre se descobre à primeira vista que a afirmação da conclusão está presente entre as premissas, como no exemplo relatado por Irving Copi: “Permitir a todos os homens uma liberdade ilimitada de expressão deve ser sempre, de um modo geral, vantajoso para o Estado; pois é altamente propício aos interesses da comunidade que cada indivíduo desfrute de liberdade, perfeitamente ilimitada, para expressar os seus sentimentos”.

             Outras vez conceitos ou frases não são suficientemente esclarecidos ou são empregados com sentidos diferentes nas diversas etapas da argumentação. Trata— se de equívoco usarmos a palavra. fim em dois sentidos diferentes como se fosse o mesmo: “O fim de uma coisa é a sua perfeição; a morte é o fim da vida; logo a morte é a perfeição da vida”.

Falácias formais

            Nas falácias formais, o argumento não atende às regras da inferência válida. Como no presente capítulo não vamos nos estender na exposição dessas regras, daremos apenas alguns exemplos.

             Entre as regras da conversão de proposições nas chamadas inferências imediatas, só se pode converter simplesmente uma proposição universal quando se trata de uma definição ou quando na recíproca os termos mantêm a mesma quantidade. Por exemplo: “Todo quadrado é um losango que tem um ângulo reto, portanto, todo losango que tem um ângulo reto é um quadrado”. Caso contrário, trata—se de falácia: “Todos os mamíferos são vertebrados, logo, todos os vertebrados são mamíferos”.

Lembrando os quatro argumentos já expostos neste capítulo, vimos que o 2 e o 4 eram inválidos e, portanto, são falácias. Para completar. vamos ver mais dois exemplos:

(Exemplo 5)

Todos os homens são loiros.

Ora, eu sou homem.

Logo, eu sou loiro.

(Exemplo 6)

Todos os elefantes são vertebrados.

Ora,Jumbo é vertebrado.

Logo, Jumbo é elefante.

               À primeira vista ficamos tentados a dizer que o argumento 5 não é válido e o 6 é válido. Mas não é assim tão simples. Embora o 5 tenha a primeira premissa materialmente falsa (ou seja, o conteúdo dela não corresponde à realidade), trata—se de um argumento formalmente correto. Segundo as regras da lógica, colocadas tais premissas, necessariamente segue—se a conclusão

             Por outro lado, o argumento 6, que tende- usos a considerar válido, é formalmente inválido. Não importa que a conclusão seja verdadeira, ruas sim que não se trata de uma construções, as falácias não—formais decorrem de ambiguidades e falta de clareza, quando logicamente válida. Basta lembrar uma das regras do silogismo, segundo a qual o termo médio “vertebrado” é particular nas duas proposições (os elefantes são alguns dentre os vertebrados, e Jumbo é um dos vertebrados).

           Os exemplos 5 e 6 são portanto falácias, sendo o 5 uma falácia quanto à matéria, embora se trate de argumento formalmente correto, enquanto o 6 é uma falácia quanto à forma, pois desatende a uma regra do argumento válido. Retomando os silogismos falaciosos dos exemplos 2 e 4, constatamos que primeiramente são falácias quanto à forma, embora o 2 também seja quanto à matéria.

Enfim, para se provar (demonstrar) a verdade da conclusão é preciso: a) partir de premissas verdadeiras; b) utilizar um argumento válido que conduza a essa conclusão.

6. A lógica pós-aristotélica

             Até o século XIX, a lógica aristotélica nào passou por mudança essencial, apesar de ter sofrido as mais diversas críticas.

              Na Idade Média foram introduzidas as célebres fórmulas mnemônicas, para facilitar a retenção pela memória: por meio de palavras latinas era possível identificar as combinações possíveis das premissas e da conclusão que redundavam em silogismo válido, a fim de distingui-los dos sofismas. Também foram organizadas as oito regras do silogismo, a que já nos referimos.

                 Hostil a Aristóteles, a filosofia na Idade Moderna procura caminhos diferentes daqueles trilhados pelo filósofo grego e pelos medievais. E assim que Descartes (século XVII), tendo estudado com os jesuítas de La Fleche, repudia os procedimentos silogísticos da escolástica medieval e procura um novo método para a filosofia que possibilite a invenção e a descoberta e não se restrinja à demonstração do já sabido. Também a física moderna exigia um instrumento diferente da lógica formal. Daí a importância da geometria analítica de Descartes e do cálculo infinitesimal de Leibniz.

               Francis Bacon (1561—1626), filósofo inglês, escreve o Novum Organum e, como sugere o título da. obra, pretende se opor ao Organon, à lógica de Aristóteles. Bacon reflete o novo espírito da Idade Moderna, que prestigia a técnica, a experiência, a observação dos fatos e repudia a vocação medieval para os debates puramente formais e as estéreis demonstrações silogísticas. A estas contrapõe outras formas de indução, que não a simples enumeração, por considera-las mais fecundas. A parte mais original de sua obra é a que indica as possíveis ocasiões de erro por causa dos preconceitos, a que Bacon chama de ídolo As preocupações com o método das ciências serão retomadas por Stuart Mil no século XIX, quando formula os cinco “cânones” clássicos da inferência indutiva.2 Segundo Irving Copi, “os métodos de Mil patenteiam-se como instrumentos para testar hipóteses. Os seus enunciados descrevem o método da experiência controlada, que é uma arma absolutamente indispensável no arsenal da ciência moderna”.

                A lógica aristotélica persiste por mais de dois mil anos, sendo que até cerca de 150 anos atrás pensava-se que representava uma forma definitiva de organização do pensamento, o que, como veremos na Segunda parte deste capítulo, não correspondeu à realidade dos fatos. No entanto, isso não significa que tenha sido abandonada, ao contrário, continua sendo um instrumento eficaz para a verificação da validade dos argumentos, servindo de base inclusive para as novas lógicas que a complementam e para as outras que a ela se opõem.





Obs: texto extraído do livro Filosofando, ed: Moderna

ESTUDO DIRIGIDO LÓGICA 1° ANO

CENTRO EDUCACIONAL 06-GAMA/DF


PROF: DENYS F. DA COSTA

DISCIPLINA : FILOSOFIA

1º SÉRIE

NOME:_________________________________________Nº____TURMA___

ESTUDO DIRIGIDO: LÓGICA

PARTE 01: OBJETIVA - VALE 1,5

• Julgue os itens referentes às afirmações sobre a lógica.

(A) O Título da obra de Aristóteles chamando ORGANON, tem o significado de pensar.

(B) Etimologicamente a palavra Lógica significa expressão.

(C) A analogia constitui apenas uma forma de indução.

(D) A matemática é um processo intuitivo.

(E) No exemplo 02 do texto, o silogismo exposto tem na conclusão uma falácia.

(F) A lógica material é conhecida como formal.

(G) A inferência é a passagem da premissa para a conclusão.

(H) Só existe preposições gerais.

(I) Quando ocorre a amplitude de um termo, o mesmo é caracterizado por extensão.

(J) Existe caso um termo pode ser total na conclusão ser total nas premissas.

(K) Um pode ser total na premissa, sendo total nas premissas.

(L) Parte de nossas conclusões diárias baseia-se na analogia.

(M) Só os cientistas estão capacitados para se fazer uma analogia

(N) As analogias são classificadas como fracas e fortes.

(O) Veja o exemplo a seguir: ‘todos comentam sobre o Flamengo. Porque é um bom Time. Essa afirmação exemplifica a falácia como petição de princípio.









PARTE 02: SUBJETIVA. (1,5)

(2.1) A analogia está relacionada à indução? Se a resposta for sim, explique como ocorre.

(2.2) De acordo com o texto , identifique as partes do silogismo, definindo se é uma falácia ou não.

* Um pássaro é um bípede plumado. (____________________________)

O ser humano é um bípede; (___________________________)

Logo, o ser humano é um bípede com penas.(_________________________)

(2.3) Quais e quantos são os princípios da lógica Aristotélica.

(2.4) Em quantas partes pode-se dividir o argumentos e quais são elas?

(2.5) Quando que uma proposição é geral? Exemplifique.

(2.6) A seguinte preposição: Alguns seres humanos são de alta estatura. Essa preposição é geral ou particular. Justifique a resposta.

(2.7) Cite as oito regras do silogismo.

(2.8) Como chegamos a uma conclusão universal?

(2.9) Quais são os tipos de falácias? Explique-as

(2.10) Nas chamadas inferência imediatas, quando é que se pode converter uma preposição universal.

(2.11) A partir da leitura do texto, dê um exemplo de indução.

(2.12) Só a lógica se apropria da analogia.

(2.13) Quantos tipos de analogia existem? Diga quais são.

(2.14) O que seria um argumento de autoridade as avessas?

(2.15) Contextualize a lógica pós-aristotélica.



OBS: ENTREGAR EM FOLHA ANEXA

Entrega:04/10/11

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

CONCEITOS BÁSICOS DE LÓGICA

CONCEITOS BÁSICOS DE LÓGICA.


LÓGICA: (do grego clássico λογική logos, que significa palavra, pensamento, ideia, argumento, relato, razão lógica ou princípio lógico), é uma ciência de índole matemática e fortemente ligada à Filosofia. Já que o pensamento é a manifestação do conhecimento, e que o conhecimento busca a verdade, é preciso estabelecer algumas regras para que essa meta possa ser atingida. Assim, a lógica é o ramo da filosofia que cuida das regras do bem pensar, ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento do pensar. A aprendizagem da lógica não constitui um fim em si. Ela só tem sentido enquanto meio de garantir que nosso pensamento proceda corretamente a fim de chegar a conhecimentos verdadeiros. Podemos, então, dizer que a lógica trata dos argumentos, isto é, das conclusões a que chegamos através da apresentação de evidências que a sustentam. O principal organizador da lógica clássica foi Aristóteles, com sua obra chamada Organon. Ele divide a lógica em formal e material.

DEDUÇÃO: é toda inferência que parte do universal para o particular (aspecto convergente). Utiliza-se da confrontação de duas proposições (uma generalizadora e outra particularizadora) para extrair uma conclusão.

Note-se que o aspecto geral (universal) pode permitir diversas conclusões para uma mesma premissa. Portanto, o aspecto convergente da dedução advém da identificação de uma característica particular (peculiaridade) do elemento analisado que conduza a um resultado único, distinto das demais conclusões possíveis.

* Raciocinar ou argumentar é um ato característico da inteligência humana. Trata-se de um tipo de operação discursiva do pensamento que consiste em encadear premissas para deles extrair uma conclusão

INDUÇÃO: A indução é o raciocínio que, após considerar um número suficiente de casos particulares, conclui uma verdade geral. A indução, ao contrário da dedução, parte da experiência sensível, dos dados particulares

• * Indução em filosofia é considerado o método de pensamento ou raciocínio em que se extrai de certos fatos conhecidos, mediante observação, alguma conclusão geral que não se acha rigorosamente relacionada com eles.

• Indução pode ser considerada também a inferência conjectural que conclui, da regularidade de certos fatos, a existência de outros fatos ligados aos primeiros na experiência anterior.

• Indução de Francis Bacon Afirma que o cientista deve observar e descrever fatos empíricos, organizar e transpor em uma linguagem matemática. A partir dai, salta-se das sensações particulares aos axiomas mais gerais e descobre axiomas intermediários, dando-se pouca ênfase à elaboração de hipóteses.

A indução consiste em afirmar acerca de todos, aquilo que foi possível observar em alguns. Ou seja, através de uma amostra definimos uma teoria genérica, incluindo elementos que não faziam parte dessa amostra/estudo. A indução faz a generalização, isto é, cria proposições universais a partir de proposições particulares. É, portanto, uma forma de raciocínio pouco credível e muito mais susceptível de refutação. Esta operação mental foi desenvolvida por Aristóteles.

ANALOGIA: é o raciocínio que se desenvolve a partir da semelhança entre casos particulares. Através dele não se chega a uma conclusão geral, mas só a outra proposição particular. Além disso, assemelha-se à indução, mas considera somente um caso particular como ponto de partida.

Na nossa vida prática, são comuns as ações por analogia:

• Se a minissaia fica bem numa atriz de TV, muitas espectadoras tendem a pensar que também ficaria bem nelas;

• Se tal remédio fez bem para um amigo meu, logo deverá fazer bem a mim também;

• Se fulana emagreceu com um tipo de regime da lua, logo cicrano também emagrecerá; e assim por diante.

FALÁCIA: é toda inferência que parte do universal para o particular (aspecto convergente). Utiliza-se da confrontação de duas proposições (uma generalizadora e outra particularizadora) para extrair uma conclusão.o. Reconhecer as falácias é por vezes difícil. Os argumentos falaciosos podem ter validade emocional, íntima, psicológica ou emotiva, mas não validade lógica.

É importante conhecer os tipos de falácia para evitar armadilhas lógicas na própria argumentação e para analisar a argumentação alheia.

*Falácia é uma palavra de origem grega utilizada pelos escolásticos para indicar o “silogismo sofistico” de Aristóteles.

Segundo Pedro Hispano: “Falácia é a idoneidade fazendo crer que é aquilo que não é, mediante alguma visão fantástica, ou seja, aparência sem existência”. (p. 426)

Pedro Hispano (Papa João XXI) dedicou metade de sua obra Súmula logicales (séc. XIII) a refutação das falácias. Na lógica medieval, as falácias foram muito cultivadas, perdendo sua importância na lógica moderna.

Atualmente, falácia é entendida como qualquer erro de raciocínio, seguido de uma argumentação inconsistente. Considerando que um raciocínio pode falhar de inúmeras maneiras, as falácias foram classificadas em formais (tentativa de um raciocínio dedutivo válido, sem o ser) e informais (outro erro qualquer).

SILOGISMO :Um silogismo (do grego antigo συλλογισμός, "conexão de idéias", "raciocínio"; composto pelos termos σύν "com" e λογισμός "cálculo") é um termo filosófico com o qual Aristóteles designou a argumentação lógica perfeita, constituída de três proposições declarativas que se conectam de tal modo que a partir das primeiras duas, chamadas premissas, é possível deduzir uma conclusão. A teoria do silogismo foi exposta por Aristóteles em Analíticos anteriores.

Num silogismo, as premissas são um ou dois juízos que precedem a conclusão e dos quais ela decorre como consequente necessário dos antecedentes, dos quais se infere a consequência. Nas premissas, o termo maior (predicado da conclusão) e o termo menor (sujeito da conclusão) são comparados com o termo médio, e assim temos a premissa maior e a premissa menor segundo a extensão dos seus termos.

Um exemplo clássico de silogismo é o seguinte:

Todo homem é mortal.

Sócrates é homem.

Logo, Sócrates é mortal.



CONHECIMENTO A PRIORI: A priori (do latim, « partindo daquilo que vem antes »), é uma expressão filosófica que designa uma etapa para se chegar ao conhecimento, que consiste no pensamento dedutivo. Mais especificamente, o conhecimento proposicional não pode ser adquirido através da percepção, introspecção, memória ou testemunho. É, assim, uma anterioridade lógica e não cronológica que é designada na noção "a priori". O conhecimento a priori se complementa com o conhecimento a posteriori, aquele que se adquire com a experiência.



CONHECIMENTO A POSTERIORI (do latim, « partindo daquilo que vem depois ») refere-se à etapa para se chegar ao conhecimento que é realizada através da experiência. É um conceito fundamental da epistemologia, na teoria do conhecimento. Os defensores de que o conhecimento a posteriori é o único fiável são conhecidos como empiristas. Para eles, julgamentos e conhecimento não podem se subscrever à experiência, o homem não pode conhecer que aquilo que lhe é accessível pela experiência, e antes tudo pela percepção sensorial. Também rejeitam a validade do conhecimento a priori que, não podendo ser submetido à verificação, é consequentemente desprovido de valor. David Hume, representante do cepticismo empirico, chega até a negar a existência do "eu": este é inconhecível e os seres humanos são de « feixes das percepções ».

Os racionalistas têm uma posição mais moderada, admitem simultaneamente a possibilidade de conhecimento a priori e de conhecimento a posteriori. Entretanto, os empiristas não negam a validez dos julgamentos analíticos, que podem ser apreendidos apenas pela compreensão do enunciado. Por exemplo, o enunciado "todos os cães pretos são cães" é necessariamente verdadeiro, independentemente de toda experiência real, desde que o atributo seja contido no sujeito.

Mas estes tipos de verdades excedem o estrito campo da pesquisa epistemológica: John Locke qualifica-os de « insignificantes » e John Stuart Mill de « puramente verbais ».

Desse ramo do pensamento filosófico é nascido o conceito pedagógico moderno de "influência pelo meio", que entende que o meio habitado pela criança tem maior influência na formação de seu caráter que questões de ordem, como por exemplo a genética.

Os principais defensores deste pensamento foram John Locke e David Hume.

FONTE: WIKIPÉDIA,

UOL EDUCAÇÃO

TEXTO BASE PARA O ESTUDO DIRIGIDO DA IDADE MÉDIA 1° ANO

CENTRO EDUCACIONAL 06- GAMA


DISCIPLINA : FILOSOFIA

PROF: DENYS F. DA COSTA



TEXTO BASE PARA O ESTUDO DIRIGIDO

1º ANO



filosofia na Idade Média – por A. S. McGrade

Como era fazer filosofia na Idade Média? [...]



O que nós conhecemos como filosofia medieval emergiu no fim do Império Romano a partir de uma acomodação mútua da fé cristã e do pensamento clássico. Essa mistura passou por séculos de dormência no Ocidente, enquanto ao mesmo tempo começou a tomar ar fresco no mundo islâmico. No século XI e XII a filosofia emergiu numa nova Europa, em forma alterada e contra algumas oposições. Então, aumentada e desafiada pelo trabalho dos pensadores islâmicos e judeus, alcançou no século XIII uma idade de ouro de análise sistemática e especulação correspondente a um novo grau de racionalização na política e na sociedade. Finalmente, a significância do século XIV permanece contestada, a despeito de muitos estudiosos recentes demonstrarem seu brilho. [...]



EMERGÊNCIA DA FILOSOFIA MEDIEVAL NO IMPÉRIO ROMANO TARDIO



A emergência da filosofia medieval é surpreendente à luz da oposição entre o Cristianismo e a filosofia, oposição que data dos tempos em que São Paulo denunciava a “sabedoria do mundo” (especificamente, a sabedoria dos gregos). Mas falando historicamente, quando Paulo foi realmente confrontado com filósofos no monte do Areópago em Atenas, assumiu uma linha conciliatória, notando semelhanças entre seus ensinamentos e os versos de um poeta estóico. No antigo mundo mediterrâneo, a filosofia não consistia de uma reflexão separada do dia-a-dia. Ela exigia um engajamento total da pessoa. Assim, no século II e III, a filosofia, como praticada pelos Estóicos, Platônicos e Epicuristas, começava a ficar muito parecida com o Cristianismo professado entre gregos e romanos convertidos.



A filosofia medieval nasceu neste ambiente intelectual. Não por coincidência, essas eram as circunstâncias sob as quais o Cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano. De fato, é apenas um ligeiro exagero caracterizar a conversão legal iniciada no século IV pelo imperador Constantino como um epifenômeno de um meio cultural mais geral, que incluía o espalhamento das comunidades judaicas e de sua religião pelo Mediterrâneo, com a correspondente helenização do pensamento judeu a partir da aquisição de idéias filosóficas gregas. Por volta do século III, um discurso comum floresceu entre a elite – um discurso bem semelhante, seja pagão, judeu ou cristão. A constituição de Constantino foi somente fazer da variante cristã a dominante, eventualmente por meios opressivos, a partir do século IV. Mas o aparato conceitual, as inclinações intelectuais e as ferramentas interpretativas que foram usadas no curso desse processo não eram nem especificamente cristãs, nem eram novas. [...]



Os primeiros séculos a partir da conversão do Império Romano observaram a maturação de uma especulação cristã que, em grande parte, continuava os padrões de pensamento da Antiguidade, padrões que precediam a conversão ou que eram evidentes após a conversão de Roma em correntes filosóficas externas ao círculo de influência cristã. Conseqüentemente, a primeira fase da filosofia medieval pode ser considerada como fazendo parte de uma trajetória histórica que conecta a filosofia da Grécia Clássica com a praticada no mundo moderno.



A situação mudou dramaticamente do fim do século VI em diante. (…) Reflexos da tradição anterior era encontrada na Espanha, na época sujeita a reinos dos Visigodos. Em todos os outros lugares do Ocidente, a atenção deslocou-se somente para fins narrativos, afetivos e práticos. Mesmo a escrita sobre assuntos religiosos tornou-se menos teológica, no sentido de ter se tornado menos compromissada com o exame e a exploração sistemática das doutrinas, e mais devocional e movida pela inspiração. Na parte ocidental do Império, o imperador Justiniano é comumente acusado de ter fechado as escolas de filosofia em Atenas em 529. Se houve um fechamento de fato (pois filósofos pagãos continuaram a atrair estudantes a Atenas depois de Justiniano), isso não deveria ser pensado como o suspiro de morte para a filosofia Greco-Romana. Também em Atenas, naquela época, a filosofia já não estava mais no centro da atenção intelectual.



Isso nos leva à segunda parte da filosofia medieval, que segue até o meio do século XI. A partir do fim do século VI a metade ocidental do mundo mediterrâneo sofreu uma série de profundos choques econômicos e demográficos, que derrubaram o comércio, a política e, finalmente, a cultura dos centros vitais do Império Romano e da economia no Leste falante do grego. O que se seguiu não foi a extinção do estudo clássico latino que havia florescido na primeira fase da filosofia medieval, mas um estreitamento de foco e um redirecionamento de interesse. Já no século V, as escolas públicas de Latim e de literatura haviam desaparecido. Romanos e Germanos proeminentes que aspiravam à eminência estudavam Letras em casa, talvez com um tutor privado. Esses eram os indivíduos que carregaram o que sobrava do discurso literato, enquanto a política e a economia do Império dissolviam-se. Era entre bispos cristãos e nos grupos de dependentes e conselheiros em torno deles que a cultura ocasionalmente elevava-se acima do nível elementar. Contudo, as ferramentas disponíveis não incluíam o que as gerações prévias chamavam filosofia, nem mesmo as ferramentas conhecidas como o trivium, a lógica ou a dialética. O que era estudado em casa era simples gramática, o que incluía familiaridade com os clássicos da prosa e da poesia latina, e rudimentos de retórica ou estilo. Os produtos compostos nos salões episcopais de alta cultura eram primariamente sermões, enumerações de milagres e história.



Assim, começou o período de dormência da filosofia medieval. Com raríssimas exceções, houve pouco nesses séculos que hoje nós identificaríamos como “filosófico”, e, talvez mais importante, não havia muito que Agostinho ou Boécio teriam chamado filosofia tampouco. Em vez disso, a inspiração e o veículo para o aprendizado eram assentados com uma nova cultura dos monastérios. Quando o pensamento abstrato especulativo e analítico emergiu novamente no fim do século XI, todavia, emergiu no ambiente monástico. (…)



Com a exceção da erudição do período Carolíngeo, a cultura monástica ocidental na Idade Média central manteve um estudo direcionado para a ascese, capaz de produzir maravilhosas peças de canto, oração e liturgia, mas dificilmente trabalhos de importância especulativa. (…)



As raízes da transformação social ocidental posterior têm origem no século X no que viria a tornar-se uma revolução econômica na Europa medieval. Por uma combinação de inovações tecnológicas e uma reconfiguração da estrutura social que estava anteriormente amarrada ao feudalismo, o noroeste da Europa evoluiu entre 900 e 1100 de uma paisagem rural esparsamente povoada de agricultura de subsistência a uma topografia mais complexa de excesso de produção, população rapidamente crescente, emergentes cidadelas (ou mesmo pequenas cidades), e o início de um mercado significante.



Foi essa transformação fundamental, de uma sociedade imóvel para uma dinâmica, que explica o avanço do Ocidente no fim da era medieval e no início dos tempos modernos. Sinais internos dessa nova ordem podem ser vistos no revigoramento das monarquias reais na França e na Inglaterra, na aparição de comunas urbanas auto-governadas na Itália, e na reforma da hierarquia eclesiástica da Igreja, evidenciada na pressão pelo celibato clerical e na maior independência do controle secular. Externamente, a mudança anunciou-se numa postura mais agressiva em relação aos vizinhos da Europa Latina. A Reconquista – a expansão militar dos principados cristãos do Norte na Espanha muçulmana – estava acontecendo pelo meio do século XI. Em 1054 um Papado mais seguro e autônomo em Roma excomungou o patriarca de Constantinopla. O cisma com a Ortodoxia Oriental remonta a esse tempo. Algo mais famoso aconteceu em 1095, quando começou a primeira das massivas, e por duzentos anos periódica, invasões de soldados ocidentais visando fortuna e salvação no Oeste mediterrâneo, as Cruzadas. (…)



Com relação à filosofia, esses eventos significaram o nascimento de uma sociedade na qual os homens cultos eram livres para direcionar seus esforços à análise e à especulação por seus próprios esforços (…). Sintomas de novos hábitos mentais e de um tipo de cultura literária inteiramente diferente de qualquer outro apareceram nas instituições de ensino e de produção literária mais características da Europa Ocidental na Idade Média: os monastérios. Eles não estiveram apenas na vanguarda das devoções religiosas e da escrita histórica característicos da Idade Média do segundo período, mas também proveram as fundações pedagógicas para essas áreas. Como indicado acima, essa fundação incluía gramática e retórica, mas não a lógica. Começando no século XI, alguns dos mais capazes monges começaram a procurar entre os textos lógicos de Aristóteles e Boécio, que estavam conservados em suas livrarias, por algo que sentiam faltar em sua educação. (…)



Este novo modelo de busca intelectual reviveu uma forma de discurso por muito tempo ausente do Ocidente. Também alterou o caráter desse discurso. Com sua ênfase excepcional na lógica, infundiu a erudição da Alta Idade Média com uma visão profundamente analítica. Em seus diálogos sobre a verdade, o livre-arbítrio ou a queda do Demônio, mesmo os devotos contemplativos professores medievais podem soar mais como mestres universitários do fim do século XIX do que como os medievais da primeira fase. A necessidade pela lógica assumiu um lugar central no fim do século XI e no início do XII com uma velocidade estonteante. (…)



Agora a lógica encontrava-se no coração de todo o conhecimento e constituía o paradigma para a investigação em todos os campos. Começando com a leitura e exposição literal na classe de aula dos textos fundamentais em um assunto, um sistema formal de questões e respostas aparecia, a partir do qual os estudantes poderiam tanto exercitar suas habilidades lógicas em debate e por as palavras das autoridades sob as lentes da análise crítica, avançando na direção de uma maior compreensão, ganhando consistência de exposição e maior claridade de entendimento. Tal método de sala de aula de análise, debate e resolução rapidamente tornou-se padrão entre as escolas emergentes. As mais importantes disciplinas do ensino da Alta Idade Média começaram a tomar forma, cristalizadas à volta de novos livros-texto recentemente compostos e rapidamente adotados universalmente e eram estruturadas como coleções de debates de pontos que tocavam todos os aspectos significantes do assunto tratado.



McGRADE, A.S. The Cambridge Companion to Medieval Philosophy. Cambridge: Cambridge University Press, 2006. Tradução: Gustavo Bertoche.





patrística



Termo que designa, de forma genérica, a filosofia cristã nos primeiros séculos logo após o seu surgimento, ou seja, a filosofia dos Padres da Igreja, da qual se originará, mais tarde, a *escolástica. A patrística surge quando o Cristianismo se difunde e consolida como religião de importância social e política, e a Igreja se firma como instituição, formulando-se então a base filosófica da doutrina cristã, especialmente na medida em que esta se opõe ao paganismo e às heresias que ameaçam sua própria unidade interna. Predominam assim os textos apologéticos, em defesa do Cristianismo. A patrística representa a síntese da filosofia grega clássica com a religião cristã, tendo seu início com a escola de *Alexandria, que revela um pensamento influenciado pelo espiritualismo neoplatônico e pela doutrina ética do estoicismo. Destacam-se aí, S. Justino Mártir (c. 105- c.165), Clemente de Alexandria (c.150-c.215), Orígenes (c.185-254). A escola de Capadócia desenvolveu-se no Império Romano do Oriente (Constantinopla), com S. Basilio (330-389), S. Gregório Nazianzeno (c.329-c.390) e S. Gregório de Nissa (c.335-c.395). Temos ainda, na tradição grega do Oriente, o Pseudo-Dionísio, o Areopagita (séc. VI), S. Máximo, o Confessor (580-662) e S. João Damasceno (c.674-c.749), todos de influência neoplatônica. O principal filósofo de tradição patrística, pelo grau de elaboração de sua obra, por sua originalidade e influência durante o desenvolvimento da filosofia cristã no período medieval é Sto. Agostinho, sendo seu tratado Sobre a doutrina cristã, um dos mais representativos dessa tradição. A principal fonte para o conhecimento de textos de patrística é a Patrologia grega e latina, editada por J.P. Migne no século XIX, publicada em Viena.



A Escolástica (ou Escolasticismo) é uma linha dentro da filosofia medieval, de acentos notadamente cristãos, surgida da necessidade de responder às exigências da fé, ensinada pela Igreja, considerada então como a guardiã dos valores espirituais e morais de toda a Cristandade. Por assim dizer, responsável pela unidade de toda a Europa, que comungava da mesma fé.

A Filosofia que até então possuía traços marcadamente clássicos e helenísticos sofreu influências da cultura judaica e cristã, a partir do século V, quando pensadores cristãos perceberam a necessidade de aprofundar uma fé que estava amadurecendo, em uma tentativa de harmonizá-la com as exigências do pensamento filosófico. Alguns temas que antes não faziam parte do universo do pensamento grego, tais como: Providência e Revelação Divina e Criação a partir do nada passaram a fazer parte de temáticas filosóficas. A Escolástica possui uma constante de natureza neoplatônica, que conciliava elementos da filosofia de Platão com valores de ordem espiritual, reinterpretadas pelo Ocidente cristão. E mesmo quando Tomás de Aquino introduz elementos da filosofia de Aristóteles no pensamento escolástico, esta constante neoplatônica ainda é presente.

Basicamente, a questão chave que vai atravessar todo o pensamento escolástico é a harmonização de duas esferas: a fé e a razão. O pensamento de Agostinho, mais conservador, defende uma subordinação maior da razão em relação à fé, por crer que esta venha restaurar a condição decaída da razão humana. Enquanto que a linha de Tomás de Aquino defende uma certa autonomia da razão na obtenção de respostas, por força da inovação do aristotelismo, apesar de em nenhum momento negar tal subordinação da razão à fé. Para a Escolástica, algumas fontes eram fundamentais no aprofundamento de sua reflexão, por exemplo os filósofos antigos, as Sagradas Escrituras e os Padres da Igreja, autores dos primeiros séculos cristãos que tinham sobre si a autoridade de fé e de santidade.

Os maiores representantes do pensamento escolástico são os dois pensadores citados acima, que estão separados pelo tempo e pelo espaço: Agostinho de Hipona, nascido no norte da África no fim do século IV e Tomás de Aquino, nascido na Itália do século XIII. Embora seja arriscado dizer que sejam as únicas referências relevantes do período medieval, ambos conseguiram sintetizar questões discutidas através de todo o período: Agostinho enquanto mestre de opinião relevante e autoridade moral e Tomás de Aquino, pelo uso de caminhos mais eficazes na obtenção de respostas até então em aberto.

SANTO AGOSTINHO: A FÉ REABILITA A RAZÃO

Oficialmente, o cristianismo triunfa em 313, quando o imperador Constantino (c. 280-337), pelo edito de Milão, concede liberdade de culto aos cristãos. Na prática, po¬rém, o cristianismo, com seus fiéis solidamente organi¬zados sob a autoridade dos padres, dos bispos e do papa, já possuía uma instituição bastante influente: a Igreja (do grego ekklesía, isto é, "assembléia").

Mas a elevação formal da Igreja de Roma a centro da cristandade acirrou também a disputa entre as interpre¬tações divergentes da mensagem de Jesus. No plano po¬lítico, esse confronto de opiniões seria resolvido no Con¬cílio de Nicéia (325), convocado por Constantino, e em outras reuniões do gênero, em que se estabeleceu a orto¬doxia (literalmente, "opinião correta") da doutrina cristã. Desse processo - do qual fizeram parte violências con¬tra os considerados hereges - resultou a Igreja Católica, que em grego significa Igreja universal.

A consolidação da ortodoxia exige, no entanto, mais do que um ato de poder que a decrete. Ela também pre¬cisa ser convincente, apresentando-se não apenas como revelação mas também como resultado de raciocínios. A filosofia patrística (dos santos padres) representa, em algumas de suas vertentes, esse esforço de munir a fé de argumentos racionais.Dentre os Santos padres, Santo Agostinho é quem leva mias longe a conciliação entre a fé e a razão: elabora a filosofia cristã, como ele a chamaria.





O Verbo em cada um

A vida de Santo Agostinho, minuciosamente narrada por ele próprio em Confissões, é quase uma demonstra¬ção, na prática, de seu pensamento: experimentou o ceti¬cismo quanto ao conhecimento, sofreu o abismo do ho¬mem em pecado, reencontrou a esperança na graça divi¬na, conheceu a felicidade e a certeza da verdade na fé.

Agostinho nasceu em 354 em Tagaste, na província ro¬mana de Numídia, na atual Argélia. Educou-se em Cartago, onde se tornou professor de retórica. Mudou-se para Roma e, depois, para Milão. Durante esse período, mostrou grande inquietação intelectual: leu Cícero e uma versão latina de Categorias, de Aristóteles. Em seguida aderiu ao maniqueísmo, seita fundada pelo sábio persa Mani (c. 215-276), baseada na crença de dois princípios absolutos que regeriam o mundo: o Bem e o Mal.

Mais tarde, desiludido com os maniqueus, conheceu as concepções da Academia platônica, tomadas por um profundo ceticismo. Leu também PIotino, mas a influên¬cia decisiva veio de Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão, que indicaria a Agostinho o caminho da fé. Por fim, converteu-se em 386.

Retirou-se para sua terra natal e escreveu obras como Contra os Acadêmicos, Da Ordem e De Magistro. Ordenado padre de Hipona (na atual Argélia), e, em 395, tornado bispo da cidade, passou a dedicar-se ao sacerdócio, mas não parou de escrever. Confissões, Da Trindade e A Cidade de Deus são desse período. Ele morreu em 430, com Hipona cercada por vândalos, um povo germano, que, junto com outros povos ditos "bárbaros", aniquilava o Império Romano .

Os séculos IV e V, em que Agostinho vive, são uma época em que a filosofia, talvez com exceção do neopla¬tonismo de PIotino, perdeu a confiança na razão. Mergu-lhada no ceticismo, ela duvida da possibilidade do co¬nhecimento da verdade. Cabe então a Agostinho restau¬rar a certeza da razão, e isso, paradoxalmente, por meio da fé. Para ele, o conhecimento da verdade é um fato, como provam as demonstrações matemáticas e lógicas, irrefutáveis. Resta então saber como tal conhecimento é possível, qual o seu aval.

O homem e seu intelecto, mutáveis e perecíveis, não podem ser os avalistas do conhecimento, pois a verdade deve ser eterna. Assim, a verdade só pode ser assegura-da por algo que se coloque acima dos homens e das coi¬sas: Deus. Se a razão, na busca de sua certeza, depara com a fé em Deus, é também a fé que permite resgatar a digni-dade da razão: "Compreender para crer, crer para com¬preender", escreve ele.

Agostinho situa-se na passagem do mundo greco-ro¬mano para a Idade Média, cujo valor preponderante é o cristianismo. De certo modo, ele próprio representa essa passagem: nutriu-se dos resquícios da cultura helenística para depois converter-se à fé cristã. Ao romper com o passado, introduzindo uma noção de Deus alheia à filo¬sofia de até então, Agostinho o faz de um modo que ca¬racteriza uma certa continuidade da tradição filosófica.

A rigor, essa continuidade é a confiança na razão, sem o que a filosofia nem sequer existiria. Ao contrário de alguns representantes da filosofia patrística - como Tertuliano (c. 155-220), célebre pela fórmula "creio porque é absurdo, a ele atribuída - , Agostinho esforça-se por reabilitar a razão diante da fé. Ela serviria ao menos (mas não só isso) Para demonstrar a necessidade do credo.

A continuidade também se manifesta nos temas que Agostinho aborda: o universo e o princípio que o gover¬na, a questão da possibilidade do conhecimento/a ética e a política - mas revestidos da ideologia cristã. Por exemplo, ele concorda com a Academia platônica de sua época, para a qual nada há de comum entre as coisas e as palavras que as designam, mas disso não conclui que o conhecimento só pode chegar ao provável. Traduzin¬do a idéia estóica de que tudo participa do logos, que é corpóreo, Agostinho afirma que o conhecimento é dado pela presença íntima, em cada homem, do Verbo feito carne (Cristo), cuja verdade e certeza o ser humano ex¬pressa por meio das palavras.

As cidades, dos homens e de Deus

Para Agostinho, Deus, como o Uno de PIotino é o transcendente absoluto, indizível pois nada se compara à sua divina perfeição. Por isso, sua teologia (conhecimen¬to a respeito de Deus) é de caráter muito mais negativo do que ,afirmativo: "Se não podeis" escreve, "compreen¬der agora o que Deus é,compreendei ao menos o que Ele.

Insondável acima da razão humana, Deus é único mas também três: Pai é a essência divina indizível; Fi¬lho é o Verbo e o Logos; Espírito Santo é o Amor divino que cria tudo o que existe. A Trindade assemelha-se, em parte, às três hipóstases idealizadas por Plotino: o pró¬prio Uno, que é absolutamente transcendente; a Inteligência que torna inteligíveis as coisas; e a Alma, que dá vida aos seres.

Feito à imagem e semelhança de Deus, o homem re¬produz nele mesmo a Trindade: a existência (Pai), o co¬nhecimento (Filho) e a vontade (Espírito Santo). A ordem do universo também é análoga à Santíssima Trindade e manifesta-se de vários modos, sempre em tríades. O mundo, por exemplo, constitui-se de coisas inanimadas,seres vivos e seres inteligentes, que são os homens, por sua vez dotados de corpo, alma e espírito, e assim por diante. A ordem do mundo é bela e boa, pois é criação de Deus. Isso significa que o mal propriamente não exis¬te: é apenas o afastamento em relação a Deus, o que no homem se manifesta como pecado.

O pecado é a subversão da bela e boa ordem criada por Deus, e aparece, por exemplo, quando a alma se torna serva do corpo. O livre-arbítrio, a vontade humana é im-potente para buscar a salvação. O próprio Agostinho ser¬ve como testemunha disso, pois, como narra em Confissões, não conseguia fugir do pecado, a salvação só lhe veio quando Deus assim quis. Era um eleito, predestina¬do pela Vontade divina. Nesse sentido, para Agostinho, a bondade e a caridade não são meios de salvação, pois tais atos são resultado da eleição divina. Nesse aspecto, o pensamento agostiniano é radicalmente contrário à tra¬dição filosófica, que via na salvação (ou na felicidade) o resultado do esforço do homem, pela filosofia. O Deus dos filósofos não é o Deus cristão, e, se Agostinho per¬corre os caminhos da filosofia/ é para reafirmar com maior vigor sua fé na onipotência de Deus.

A história da humanidade é a história do pecado do homem, por livre-arbítrio, e a salvação de alguns predes¬tinados, pela graça divina. Os que pecam formam a cida¬de terrestre, que é o mundo dos homens. Essa cidade não é necessariamente má, mas, governada pela vontade hu¬mana, tende para o pecado e é de tempos em tempos castigada por Deus – como foi o caso, por exemplo, do Dilúvio universal. Por outro lado, porém, em meio aos homens ergue-se aos poucos, mas de modo firme, a cidade de Deus, cons¬truída pelos predestinados. Agostinho propõe assim uma filosofia da história: a finalidade da história, que coinci¬de com o seu fim, é a vitória definitiva da Cidade de Deus, com o retorno do Messias e o Juízo Final.



SÃO TOMAS: UM CAMINHO ATÉ DEUS





Quem analisa as provas da existência de Deus elabo¬radas por Santo Tomás de Aquino tem a impressão de estar diante de um pensador extremamente racionalista. Ledo engano. Ele é, acima de tudo, teólogo e religioso, para quem a filosofia deve servir à fé. Não no sentido de auxiliá-la, mas de submeter-se a ela. Para Tomás, quan¬do a fé e a razão entram em desacordo, é sempre esta que se equivoca. A Igreja soube reconhecer essa intransigen¬te defesa: em 1323, Tomás de Aquino foi canonizado e, no século XIX, seu pensamento assumiu a condição de doutrina oficial do catolicismo.

Para ele, não há conflito entre fé e razão - a tal ponto que lhe é possível demonstrar a existência de Deus. Re¬cusa a solução apressada de Santo Anselmo, para quem Deus, sendo perfeito, deveria ter como um de seus atri¬butos perfeitos o da existência. Segundo Tomás de Aquino, definir Deus como ser perfeito ainda não impli¬ca sua existência. A definição é uma idéia, e nada garan¬te que uma idéia possa existir na realidade.

O ponto de partida, então, é o mundo sensível, percebi¬do pelos sentidos. Estes indicam que o mundo é dotado de movimento. Mas, segundo Aristóteles, nada se move por si. A causa do movimento deve ser causada e, se não se quiser estender a série das causas ao infinito (o que não explicaria o movimento presente), é preciso admitir uma causa absolutamente imóvel e primeira: Deus. O mesmo raciocínio vale para a causa em geral. As coisas são ou cau¬sa ou efeito de outras, não sendo possível ser causa e efei¬to ao mesmo tempo. Deve haver, então, ou uma sucessão infinita de causas - o que é absurdo -, ou uma causa absolutamente primeira e não causada.

Os dados dos sentidos também mostram que as coisas existem e perecem. Isso significa que a existência não lhes é necessária, essencial mas apenas uma possibilidade contingente. Por isso, a existência depende de uma cau¬sa, exatamente aquela que tenha a existência como essên¬cia, uma existência necessária.

Além disso, o mundo apresenta uma série de seres me¬nos ou mais perfeitos e que são comparados entre si de maneira relativa. Mas como saber o que é mais perfeito do que outro se não houver um padrão a partir do qual se possa medir os graus de perfeição? A hierarquia das coisas relativas depende então de um ser que seja a me¬dida absoluta e eterna da perfeição.

Por fim, essa hierarquia apresenta-se como uma ordem, em que cada ser cumpre sua finalidade: os seres vivos reproduzem-se constantemente, e os corpos sempre bus¬cam o seu lugar natural, mesmo que disso não tenham conhecimento. Se a finalidade de cada ser é assim atingi¬da, mesmo que inconscientemente, deve haver uma In¬teligência que conheça e organize o mundo de acordo com

sua finalidade.

Desse modo, a razão, por vários meios, atinge o conhecimento da existência de Deus. A razão que demonstra e a fé que revela estão, por isso, em acordo, sem que entre elas haja contradição. Ambas são modos diferentes pelos quais se manifesta a mesma e única Verdade.

ESTUDO DIRIGIDO IDADE MÉDIA 1° ANO

CENTRO EDUCACIONAL 06-GAMA/DF

Disciplina: FILOSOFIA

PROF: DENYS F.DA COSTA
NOME: __________________________________________________Nº_______
1º PARTE ( VALOR 1,0)



JULGUE OS ITENS ABAIXO E JUSTIFIQUE AS alternativas ERRADAS.

A) O APOGEU DA FILOSOFIA MEDIEVAL OCORREU NO SÉCULO XII.

B) A FILOSOFIA CRISTÃ, TORNOU-SE OPOSTA AO CRISTIANISMO.

C) A PRIMEIRA FASE DA FILOSFIA MEDIEVAL NÃO FOI UMA TRANSIÇÃO.

D) NO SÉCULO VI, AS ESCOLAS DE FILOFIA, FORAM FECHADAS EM ROMA POR JUSTINIANO.

E) A FILOSOFIA MEDIEVAL TEVE UM PERÍODO DE RECESSÃO.

E) PARA EXPLICAR A TRANSFORMAÇÃO DO MUNDO MEDIEVAL, A SOCIEDADE

ESTAVA NUM ESTADO DINÂMICO E PASSOU PARA UMA SOCIEDADE ESTÁVEL.

G) NO SÉCULO XI, APARECERAM INSTITUIÇÕES DE ENSINO DE PRODUÇÃO LITERÁRIA.

H) OS MONGES COMEÇARAM A BUSCAR CONHECIMENTO NOS FILÓSOFOS COMO PLATÃO E ARISTÓTELES.

I) ANÁLISE, DEBATE E RESOLUÇÃO,FAZIAM PARTE DE UM MÉTODO QUE TORNOU-SE PADRÃO NA IDADE MÉDIA.

J) A LÓGICA NÃO FAZIA PARTE DAS DOUTRINAS ENSINADAS NA IDADE MÉDIA.

PARTE 02 (VALE 2,0)

LEIA, PENSE, REFLITA E DRESPONDA AS QUESTÕES ABAIXO.

2) Em algum momento desse período do histórico a filosofia praticada pelos estóicos, aproximou-se do cristianismo ? (4 linhas)





3) O termo patrística resume-se apenas em seu conceito genérico que é filosofia cristã? Comente.( 4 linhas)



4) Porque Agostinho é considerado o principal filósofo da patrística?



5) Em qual filósofo grego a patrística se fundamentou em sua base teórica?

(5 linhas)



6) A Escolástica era uma linha parte da filosofia medieval? Responda com argumentos(4 linhas)



7) De que forma a escolástica conciliou a questão entre a fé e a razão? (4 linhas)



8) Qual era o contexto Histórico para que culminou ascensão do cristianismo na Idade Média? (4 linhas)



9)Em um período de sua formação intelectual, stº Agostinho aderira ao maniqueísmo. Assim comente essa doutrina. (4 linhas)



10) Comente a seguinte afirmação”compreender para crer, crer para compreender.” (4 linhas)



11) Faça um breve comentário sobre a suposta contradição no pensamento de Stº Agostinho. (4 linhas)



12)Como Stº Agostinho define o pecado? (4 linhas)



13) Como Stº Agostinho entende o conhecimento? (4 linhas)



14) Para Tomás de Aquino, a fé é dogmática (uma verdade incontestável).Assim destaque do texto o argumento que comprova essa idéia. (4 linhas)



15) Qual a importância da hierarquia para São Tomás de Aquino?























BOM TRABALHO