segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

TEXTO BASE PARA O ESTUDO DIRIGIDO (OS PRÉ- SOCRÁTICOS)

CENTRO EDUCACIONAL 06- GAMA/DF

PROFº : DENYS F. DA COSTA

DISCIPLINA : FILOSOFIA

PRÉ-SOCRÁTICOS: FÍSICOS E SOFISTAS



  1. Sábios. Filósofos. Físicos. Sofistas



Entre todos os povos aparecem homens que se notabilizam por seu saber. Os gregos já tinham a memória de vários sábios ilustres quando, no século VI a.C., começaram a aparecer, nas colônias gregas da Jônia (Ásia Menor), os primeiros sábios de um tipo que a tradição posterior chamou filósofos. Eles não foram, provavelmente, vistos por seus contemporâneos como sendo essencialmente diferentes de outros sábios. Eram homens de grande saber, teórico e prático, aos quais foram atribuídos feitos notáveis, como prever eclipses, medir a distância de navios no mar (Tales), traçar mapas da Terra, construir relógios de sol (Anaximandro). Alguns desses feitos dependeram de conhecimentos astronômicos e matemáticos adquiridos provavelmente junto a sábios babilônios e egípcios. Não é por conta disso, pois, que esses primeiros filósofos se distinguiram de outros sábios.

Sua originalidade começa a aparecer melhor quando se consideram suas explicações sobre fenômenos naturais como a chuva, o raio, o trovão; suas descrições do cosmo; suas explicações sobre a origem mesma do universo. É na comparação dessas suas explicações sobre o mundo natural com aquelas dadas pelos mitos e pelas crenças populares que nos damos conta da emergência de algo novo: o uso da especulação racional na tentativa de compreender a realidade que se manifesta aos homens.

Durante todo o século VI, foi sobre a physis, o mundo natural, que se exerceu sobretudo a especulação racional dos gregos. A filosofia nasceu como física, e os primeiros filósofos foram, acertadamente, também chamados físicos.

Mas note-se que, apesar de nossa palavra física provir de physis, a realidade que os gregos chamaram por esse nome não corresponde exatamente àquela que é objeto da física atual. Os gregos não apreenderam a physis, por exemplo, num contraste com o biológico ou mesmo com o psíquico. Ao contrário. Physis vem de phyein (emergir, nascer, crescer, fazer nascer, fazer crescer) e designa tudo o que brota, cresce, surge, vem a ser.

O contraste que os gregos vão descobrir é entre physis e nomos, que se poderia entender, grosso modo, como o contraste entre ordem natural e ordem humana. Para nós, esse contraste pode parecer óbvio: de um lado, leis naturais — eternas, imutáveis, inexoráveis, leis que os homens podem descobrir, mas não constituir ou alterar, que podem usar em seu proveito, mas a que não podem deixar de submeter-se; e, de outro lado, leis humanas, escritas ou orais, costumes, regras de conduta, a própria linguagem — toda uma realidade que parece constituída pelo homem e dele dependente.

Esse contraste, entretanto, não é notado espontaneamente por qualquer cultura. Uma sociedade pré-filosófica pode apreender as leis e costumes sociais como tão inexoráveis quanto as leis naturais

— umas e outras fundadas no sagrado, constituídas pela vontade divina. Foi a profunda dessacralização da sociedade grega que permitiu que, a partir do século v a.C., alguns sábios começassem a refletir sobre a natureza do nomos. Ora, o contato com culturas diferentes já havia revelado a diversidade dos valores, das leis, dos costumes, das regras de conduta que regem as sociedades humanas. E esses sábios foram levados a concluir que o nomos não era “natural’ mas sim produto da convenção humana. Esses sábios foram os sofistas.

Tendo assim tirado ao nomos seu fundamento absoluto, divino, os sofistas passavam a fundá-lo no próprio arbítrio dos homens. E esses homens, eles, sofistas, propunham educar, preparando-os para assumir plenamente sua condição de cidadãos. E ser bom cidadão consistia não apenas em bem conduzir-se, mas em ser capaz de bem administrar a cidade.

Fosse qual fosse o conteúdo do ensinamento sofístico, parte integrante dele era a técnica de bem compor discursos, de bem usar a palavra, de bem falar sobre todas as coisas. Ora, no regime democrático que então florescia em Atenas, aquele que tivesse o domínio da palavra teria o domínio da assembléia e, dessa forma, o poder político. Numa cultura em que o indivíduo se realiza dentro de sua polis (Cidade-Estado) e em função dela, o sucesso na política se confundia com o sucesso pessoal, com a vida bem-sucedida, com a própria felicidade. Não havia, pois, saber mais cobiçado do que esse que os sofistas diziam ter e poder transmitir.

Para os atenienses em geral, Sócrates (469-399 a.C.) talvez fosse um sofista como os outros. Ele se ocupava do mesmo tipo de questões, tipicamente humanas, e vivia cercado de jovens ávidos de aprender. Platão, entretanto, marcou uma oposição fundamental entre Sócrates e os sofistas. Nada tendo escrito, o Sócrates que conhecemos é o personagem que aparece em quase todos os diálogos de Platão. Os escritos dos sofistas, por outro lado, foram todos perdidos, deles só restando fragmentos. Dessa forma, tanto de Sócrates quanto dos sofistas temos, praticamente, a imagem que deles nos deixou Platão. E, para Platão, enquanto Sócrates é o filósofo por excelência, os sofistas... esses, coitados, não são nem sábios nem filósofos. São charlatães, ilusionistas cujo saber se resume em “saber usar a palavra” e com ela criar, graças à ignorância do público a quem se dirigem, uma falsa aparência de saber.

É muito devido à imagem que Platão nos legou de Sócrates e dos sofistas que os historiadores da filosofia consagraram a expressão filósofos pré-socráticos, reconhecendo em Sócrates uma linha divisória, o momento em que a ênfase do pensamento racional mudou de objeto, passando da physis para o fomos. A reflexão sobre assuntos humanos já tinha sido, em verdade, inaugurada por sofistas anteriores a Sócrates; mas neles a história da filosofia, com ou sem justiça, não reconhece filósofos dignos desse nome.

Infelizmente, tanto dos físicos pré-socráticos quanto dos sofistas, todos os escritos foram perdidos; assim sendo, só podemos conhecê-los por fragmentos e pela doxografia. Mas tentaremos abordar os grandes lemas de seu pensamento, dando, aqui e ali, amostras dos farrapos que oram preservados, ou dos testemunhos que nos chegaram sobre eles. convém lembrar entretanto que esses testemunhos, sobretudo no caso dos sofistas, nem sempre tiveram a preocupação de fidelidade.

THALES DE MILETO c. 624546 A.C.

Considera-se que a filosofia ocidental tenha se iniciado no século VI a.c. em Mileto, cidade localizada no litoral jônico da Ásia Menor. A Jônia1 era geograficamente um ponto de encontro entre o Oriente e o Ocidente, sendo também a pátria de Homero. Os primeiros filósofos milesianos, Thales, Anaximandro e Anaxímenes, eram abertos não somente a influências orientais e à tradição homérica, mas também à matemática egípcia e babilônica, assim como às idéias e informações que fluíam ao longo das rotas de comércio que passavam através da Jônia.

O que se conhece a respeito de Thales de Mileto chegou até nós exclusivamente por meio dos relatos de outros, uma vez que nada dos seus escritos originais sobreviveu até nossos dias. Thales era, fato comum entre os gregos, versado em diferentes campos do conhecimento. O pensador provavelmente viajou para o Egito para estudar astronomia, geometria e práticas relacionadas à mensuração e ao manejo do solo e da água. De acordo com Heródoto, ele previu um eclipse solar ocorrido em 585 a.c. Seus conhecimentos de geometria capacitaram-no a conduzir navios e a medir as pirâmides, tendo por referência a sua sombra em determinada hora do dia. Como relata Heródoto, Thales também solucionou um problema logístico relacionado à travessia de um corpo militar por um rio sem pontes. A solução encontrada por Thales foi desviar o curso d’água, de modo a alcançar a retaguarda do acampamento e fazendo com que o canal diante dele estivesse raso o suficiente para ser atravessado a vau. Também é relatado que ele foi politicamente muito astuto. Como se sabe, o filósofo advertiu os jônicos para estabelecerem uma única câmara deliberativa na cidade de Teos, no centro da Jônia, e considerar as demais cidades enquanto demes2 ou localidades portuárias de menor expressão subordinadas àquela sede. Thales distinguiu-se na história da matemática como criador da prova geométrica. De acordo com Proclus3, Thales elaborou um conjunto de proposições que, embora não se apresentassem numa seqüência lógica correta, estavam ainda assim relacionadas umas com as outras de modo dedutivo, método requerido numa prova geométrica.

Mas não foram esses grandes feitos que garantiram a Thales o reconhecimento como filósofo. Antes, foi sua preocupação em elaborar uma descrição e uma análise racional do mundo. Esse projeto racional distinguiu significativamente seu pensamento dos anteriores, que trabalhavam numa base mitológica para explicar o universo. Para a questão de qual seria a origem de todas as coisas, sua resposta era: a água. Thales sustentava — de acordo com aqueles que escreveram a seu respeito4 — que todas as coisas tem sua origem na água e que a própria Terra flutuava nela, como um pedaço de madeira. Aristóteles discute essa perspectiva em sua Metafísica. Ele mostra que Thales parecia não considerar que a água, na qual a Terra se sustentava, deveria ela mesma se sustentar em algo. Aristóteles sugere que Thales chegou a esta suposição de que a água é a substância primordial, mantendo sua natureza própria enquanto serve de base para a existência de outras coisas, pela observação de que tudo é alimentado pela umidade, e que as sementes e o esperma são úmidos.5

Deve-se recordar que as idéias de Thales, assim como as dos demais milesianos, chegaram até nós configuradas pelo olhar e pelo entendimento daqueles que transmitiram seus ensinamentos. Tem sido sugerido que Aristóteles, que conhecia Thales apenas indiretamente — visto estar separado deste em pelo menos trezentos anos —, pode não ter tido uma compreensão completa das suas idéias. Há uma argumentação de que Thales teria se inspirado numa concepção popular à época, na qual o mundo estaria rodeado e sustentado por uma extensão ilimitada de água. Assim, para ele, não haveria o problema levantado por Aristóteles sobre a questão da sustentação última.

A concepção de que a Terra repousa na água constituía uma antiga crença egípcia, e fazia parte também da tradição homérica. O pensamento de Thales provocaria, assim, uma pequena mas decisiva mudança, partindo da perspectiva da água enquanto suporte para todas as coisas e chegando à idéia da água como origem delas. Mas os detalhes das idéias de Thales a respeito do relacionamento da água com tudo o mais são desconhecidos. Aristóteles pode ter elaborado, por extensão, suas próprias inferências baseado nas principais concepções de Thales. É digno de nota, sobretudo, que Thales tenha sustentado sua cosmogonia — isto é, sua teoria sobre o universo — na observação do mundo natural e não nas referências mitológicas e nos provérbios.

A sua segunda grande afirmação sobre a natureza do universo foi a de que “todas as coisas estão cheias de deuses”. O exato significado dessa afirmação também não é inteiramente claro, porém a sua acepção mais comum é que algum tipo de força vital permearia o mundo, que todas as coisas são de alguma forma animadas, constituindo parte de um único conjunto ou de uma vitalidade unificadora. É desconhecido se Thales propôs uma relação entre a água e os “deuses (presentes) em todas as coisas’ mas seria difícil negar algum tipo de relação entre ambos, dada a premissa de que a água é a origem de tudo.

A visão de Thales sobre a natureza do mundo pode primeiramente parecer mais uma teoria das ciências naturais do que uma filosofia. Seu conteúdo filosófico e importância, porém, seriam elucidados, com suprema lucidez, pelo filósofo Friedrich Nietzsche:



ANAXIMENES.585-528 a.C.



Anaxímenes foi o terceiro do trio de filósofos conhecidos corno milesianos. Especula-se que tenha elaborado suas idéias por volta de 540 a.c.. Diógenes Laerte recorda, em sua obra Vidas de filósofos famosos, provavelmente compilada no século terceiro antes de Cristo, que ele foi discípulo de Anaximandro.

Como Anaximandro, Anaxímenes argumentou que o princípio primordial de todas as coisas seria o infinito. Mas, diferentemente, buscou especificar a natureza desse princípio primordial que, para ele, era o ar. Teofrasto, discípulo de Aristóteles, falando sobre Anaxímenes, relata a respeito de sua crença de que as substâncias materiais eram derivadas do ar por meio de processos dc rarefação e condensação:

Sendo mais sutil, ele [o ar] torna-se fogo, sendo mais espesso, torna-se vento, então nuvem, então [quando mais espesso ainda] água, então terra, então pedras, e todo o resto vem a ser a partir destes. Ele também produz o movimento eterno, dizendo que a mudança também acontece por meio dele.

A única frase escrita remanescente de Anaxímenes é: “Como nossa alma, sendo ar, nos mantêm unidos e nos controla, assim faz o vento [ou o hálito J e [o] ar guarda o mundo inteiro” . Embora Anaximandro, mais do que Anaxímenes, seja freqüentemente considerado como o ponto mais alto da filosofia milesiana, podemos argumentar que o segundo foi, de certo modo, um pensador mais avançado. E certo que sua produção filosófica suplanta a de Thales. pois especifica como a terra. o fogo e a água podem possuir origem em urna substância primordial, no caso, o ar. Mas sua elaboração também é um avanço com relação à de Anaximandro, que postulava uma substância indefinida como primordial. Ademais, ela recorre mais ao senso-comum do que à mitologia — visto estar fundamentada na observação dos processos naturais —, ao mesmo tempo enraizada na crença tradicional pela qual o ar é a origem da vida.

Anaximenes imaginava que a Terra era chata e envolvida pelo ar, sendo que para ele as estrelas eram “implantadas como pregos na transparência [do céul”] e os corpos celestiais moveriam-se em volta da terra, “assim como um boné de feltro envolve nossa cabeça” O filósofo explicava a ocorrência dos terremotos levando em consideração as variações existentes entre as condições secas e úmidas na terra. Quando a terra seca, ela “racha e chacoalha pelos picos que são assim interrompidos subitamente e desmoronam [para dentro da falha]”. A chuva, ele argumenta, é produzida quando o ar muito condensado forma as nuvens, as quais são então comprimidas, a ponto de a umidade se esvair delas. O granizo seria o resultado da aglutinação da água e da neve cm queda quando o vento se une com a umidade. Aécio atribui ao pensador a fala pela qual o Sol “é chato como uma folha” e todos os corpos celestes seriam flamejantes, mas tendo corpos terrestres entre eles6. Anaxímenes não só tenta desenvolver explicações de fundo natural para todos os fenômenos como também parece, por meio da sua concepção do ar como elemento de união tanto das almas humanas como do mundo em si mesmo, sugerir uma unidade orgânica que abarcaria todas as coisas existentes, incluindo os seres humanos.

Embora a marca dos milesianos para o desenvolvimento da filosofia ocidental tenha sido o advento do pensamento científico e racional e, ademais, a mudança do mito para a razão, recordemos que este processo não foi súbito. Ao longo da consolidação de tal processo, mito e razão interagiram, influenciando-se mutuamente, ou seja, as crenças tradicionais sobre elementos como o ar e a água foram gradualmente transformadas pelo desenvolvimento da reflexão racional e da consciência do mundo natural. A mudança de atitude ocorreu baseada na superação da explicação do mundo que tinha por referência deuses e poderes estranhos, para uma explicação recorrendo à ordem natural de causas e regularidades. Os milesianos podem ser considerados cientistas, por observarem o mundo e desenvolverem suas teorias com base nessas observações. Porém, também foram filósofos, em razão da sua questão principal não dizer respeito somente a uma explicação de como o mundo é, mas como ele veio a existir enquanto tal. Esses pensadores pretendiam não somente descrever os fenômenos, mas descobrir sua razão última.



ANAXIMANDRO C. 6 10-546 A.C.

Anaximandro parece ter sido apenas alguns anos mais jovem do que Thales, de quem foi “sucessor e pupilo’ segundo Teofrasto, discípulo de Aristóteles. Do mesmo modo que Thales, Anaximandro foi uma combinação de astrólogo, geólogo, matemático e físico, além de filósofo. Foi ele quem provavelmente introduziu o gnomon (o relógio solar baseado no movimento da sombra provocado pela marcha aparente do Sol no horizonte) na Grécia’. E foi também ele quem, segundo Agatemeros, “primeiro ousou desenhar o mundo habitado numa prancha”2. Um fragmento do livro Sobre a natureza, atribuído a Anaximandro, chegou até nós. De acordo com todos os relatos, esse livro tratava-se de uma obra volumosa que incluía, além de uma cosmogonia, relatos sobre corpos celestiais e o desenvolvimento dos organismos vivos, além de estudos sobre história natural, biologia, meteorologia, astronomia, geografia, mapas do mundo e, para completar, dissertações referentes a todos os aspectos da vida humana e animal. Sua façanha intelectual serviu como inspiração e exemplo para muitos pensadores que o sucederam.

Anaximandro afirmava que a substância primordial do mundo era o apeiron, que não teria fronteiras, limites ou definição. Pode-se inferir com isso que ele poderia entender que o apeiron era espacialmente infinito ou que era indefinido, no sentido de não corresponder a uma matéria do universo físico. O filósofo descreveu o apeiron como envolvendo todas as coisas ilimitadamente e como sendo aquilo com base no qual todos os céus e todos os mundos nele inseridos tornam-se existentes: terra, ar, fogo e água seriam de alguma forma gerados desta substância indefinida. As coisas estão constantemente em movimento e o que nasceu do infinito a ele retorna na morte. Anaximandro parece acreditar que algum tipo de balanço final ou estado de justiça é mantido entre todas as coisas, provavelmente por meio de interações entre as oposições cósmicas de quente e frio, seco e úmido. Uma passagem de Plutarco nos apresenta alguns detalhes desta cosmogonia:

Ele [Anaximandro] afirma que aquela parte fértil do quente e frio eternos

foi separada destes no vir-a-ser deste mundo, e aquele tipo de esfera de fogo

de que era formado rodeava o ar que envolve a Terra, como a casca envolve

a árvore. Quando isto foi rompido e cortado em círculos exatos, o Sol, a Lua

e as estrelas foram formados.



Anaximandro acreditava que a Terra possuía uma forma cilíndrica, sendo a sua profundidade uma terça parte da sua largura, ou seja, seria como o fuste de uma coluna. A Terra, de acordo com a sua sugestão, “era sustentada por nada e permanecia, por sua vez, em igual distância de todas as coisas”. O filósofo conjecturou de modo surpreendente sobre a origem do homem, afirmando que as primeiras criaturas vivas nasceram na umidade mantida nas cascas espinhosas e que a raça humana apareceu mais tarde, com o desenvolvimento da vida orgânica. O pensador argumentava que deveria ter sido esse o passado da vida na Terra e que os seres humanos seriam gerados tendo como base criaturas de outro tipo, uma vez que a maioria das criaturas é auto-suficiente, sendo que os seres humanos precisam de cuidados prolongados e não poderiam ter sobrevivido se a sua forma atual fosse a original.

Um fragmento de um escrito remanescente de Anaximandro apresenta-se como parte da exposição de sua visão, evidenciada por Simplício:



E a origem do vir-a-ser para a existência das coisas é aquela na qual a destruição também acontece “segundo a necessidade, porquanto impõe pena e tira vingança um do outro por suas injustiças, segundo a avaliação do tempo”, como descreve nesta frase um tanto poética.

Estudiosos de filosofia concordam que o último trecho desta passagem indica que a frase precedente é uma referência direta às palavras de Anaximandro. Mas não há consenso a respeito do sentido real do fragmento e o contexto ao qual este se reporta.

Uma especulação interessante é que, na metáfora relativa à reparação da injustiça, Anaximandro apresentaria um princípio metafísico subjacente, explicando a aparência das coisas. Este princípio poderia implicar que as trocas e os conflitos, assim como o dado e o tomado observados na ação da natureza, constituiriam partes de um processo de exploração e de reparação que, numa longa jornada, mantém o equilíbrio ou estado de “justiça” do todo.6 Esta visão é coerente com outras fontes conhecidas de Anaximandro, as quais relatam que o apeiron “é mutuamente princípio e elemento” e que “conduz todas as coisas”. Além disso, as interações de características opostas são muito importantes na sua filosofia da natureza, embora os detalhes de como Anaxirnandro entendia estas interações sejam desconhecidos.

Talvez não devêssemos enfatizar Anaximandro como metafísico. Não há dúvida de que foi muito mais a sua espantosa compreensão da filosofia da natureza do que a sua visão metafísica que determinou o profundo respeito e a aclamação por ele obtida, estabelecendo sua reputação como um grande pensador e como um modelo de realização intelectual. Ainda assim, é interessante especular sobre as implicações metafísicas das suas idéias, saboreando, com especial apetite, o ímpeto, tão freqüentemente causado por estes primeiros filósofos, de nos fazer aventurar na senda das conjecturas inocentes e primitivas, como muitos de nós fizemos na infância, sobre as origens e a .natureza essencial do cosmos.







Anaxágoras

Além de ter elaborado teorias de indiscutível profundidade, Anaxágoras exerceu notável influência sobre a filosofia grega posterior a ele, tendo introduzido em Atenas as concepções desenvolvidas pelos pensadores das colônias helênicas.

Nascido em Clazômenas por volta do ano 500 a.C., na juventude Anaxágoras foi para a capital da Ática, onde logo se tornou a figura principal do grupo de intelectuais reunidos em torno de Péricles, governante da cidade. Sua obra, cuja interpretação, em parte por causa da escassez de fragmentos, é muito controvertida, pode ser situada na confluência entre a tradição milésia e o pensamento de Parmênides. Com os filósofos de Mileto, sustentava que a experiência sensorial põe o ser humano em contato com uma realidade cambiante, cuja constituição última ele pretendia encontrar. Com Parmênides, afirmava que só o ser é e o não-ser não é, porque ao ser, enquanto totalidade, não se pode acrescentar nem tirar nada.

Considerava, em conseqüência, que "nada vem à existência nem é destruído, tudo é resultado da mistura e da divisão". A cambiante pluralidade do real é simplesmente o produto de ordenações e reordenações sucessivas, já não dos quatro elementos tradicionais -- água, terra, fogo e ar --, mas sim de "sementes", ou "homeomerias", das quais há tantos tipos quantas classes de coisas existem. Nada pode chegar a ser aquilo que não é ou deixar de ser o que é: "como poderia chegar a ser carne aquilo que não é carne ou pêlo aquilo que não é pêlo?".

Anaxágoras, contudo, defendeu também a idéia de que, junto à matéria, existe um princípio ordenador, um nous ou "inteligência", como causa do movimento. Por isso foi chamado de o primeiro dualista. Platão saudou com entusiasmo essa inovação, mas criticou o filósofo de Clazômenas por fazer uso insuficiente dela. Segundo interpretava Platão, Anaxágoras recorria a essa tese apenas para explicar a origem do movimento no universo, produzido esse movimento, o universo ficava abandonado a forças mecânicas. Não é claro que as coisas se passassem assim, nem se o nous era concebido como algo plenamente imaterial ou se, ao contrário, tinha uma certa materialidade, mesmo que sutil. De fato, as opiniões científicas de Anaxágoras, que se chocaram com as concepções religiosas da época, lhe custaram ser julgado por ateísmo. Graças à ajuda de Péricles, conseguiu refugiar-se em Lâmpsaco, onde morreu por volta de 428 a.C.





Visto na antiguidade como profeta e mago, Empédocles também foi político, orador e poeta. Diz a lenda que encerrou sua brilhante carreira atirando-se na cratera do vulcão Etna, para dar aos seguidores uma demonstração convincente de divindade.

Empédocles nasceu em Agrigento, Sicília, então parte da Magna Grécia, por volta de 490 a.C. Continuador da tradição dos jônicos, desenvolveu uma interpretação do universo em que todos os fenômenos da natureza eram entendidos como resultado da mistura de quatro elementos: água, fogo, ar e terra. Esses princípios, também chamados "raízes", seriam eternamente subsistentes, jamais engendrados, e de sua união ou separação nasceriam e pereceriam todas as coisas. Os quatro elementos se uniriam sob a força do amor e se separariam sob o influxo do ódio. Os mananciais e os vulcões seriam provas da existência de água e fogo no interior da Terra.

Segundo Empédocles, no poema Katharmoi (As purificações), do qual resta somente uma centena de versos, a intervenção do ódio está na origem de todas as coisas e dos seres individuais, que se vão diversificando até a separação total e o domínio absoluto do mal. Entretanto, o princípio do amor voltará a triunfar, unificando e misturando tudo até a configuração de uma só coisa, Sphairos, a esfera perfeita, na qual o mundo presente tem princípio e fim. No mundo atual há seres individuais e, portanto, ódio e injustiça, o que exige um processo de purificação que só terminará quando o amor triunfar. Mas esse triunfo é ainda relativo: a evolução dos mundos é um processo no qual se manifesta um domínio alternado do amor e do ódio, do bem e do mal. Apesar da lenda, supõe-se que a morte de Empédocles tenha ocorrido no Peloponeso, Grécia, por volta de 430 a.C.



EMPÉDOCLES

Empédocles foi um filósofo, médico, legislador, professor, místico além de profeta, foi defensor da democracia e sustentava a idéia de que o mundo seria constituído por quatro princípios: água, ar, fogo e terra. Filósofo grego pré-socrático, Empédocles propôs uma explicação geral do mundo, considerando todas as coisas como resultantes da fusão dos quatro princípios eternos e indestrutíveis: terra, fogo, ar e água. Tudo seria uma determinada mistura desses quatro elementos, em maior ou menor grau, e seriam o que de imutável e indestrutível existiria no mundo.

Segundo Aristóteles, fundou a oratória. Foi também fundador da primeira teoria biológica. Sua doutrina pode ser vista como uma primeira síntese filosófica.

Para Empédocles, duas forças fundamentais responsáveis pela manutenção do universo: O AMOR que unia os elementos (raízes) e o ÓDIO que os separava. A morte para ele era simplesmente a desagregação dos elementos. Segundo ele, todos nós fazíamos parte do todo que se renovava em ciclos; reunindo-se (nascimento) e separando-se (morte).

Seu pensamento influenciará os pensadores da escola atomista.

No Naturalismo esboçou o que podemos citar como os primeiros passos do pensamento Teórico Evolucionista: “Sobrevive aquele que está melhor capacitado”, aproximadamente 2460 anos antes de Charles Darwin. Tendo seguido Tales de Mileto na mesma linha de pensamento evolutivo: “O mundo evoluiu da água por processos naturais”.

 Na política opôs-se à oligarquia, defendendo a democracia. Cedo virou figura legendária: ele mesmo se atribuía poderes mágicos. Conta a lenda que ele teria se suicidado atirando-se na cratera do Etna, para provar que era um deus.

Substitui a busca dos jônicos de um único princípio das coisas pelos quatro elementos, combinando ao mesmo tempo o ser imóvel de Parmênides e o ser em perpétua transformação de Heráclito, salvando ainda a unidade e a pluralidade dos seres particulares.

Esses princípios, também chamados “raízes”, seriam eternamente subsistentes, jamais engendrados, e de sua união ou separação nasceriam e pereceriam todas as coisas. Os quatro elementos se uniriam sob a força do amor e se separariam sob o influxo do ódio.

 Os mananciais e os vulcões seriam provas da existência de água e fogo no interior da Terra.

Escreveu dois poemas em jônico: Sobre a Natureza e Purificações, cujos fragmentos chegaram até nós e cuja influência continua a fazer-se sentir, como, por exemplo, em René Char.

Segundo Empédocles, no poema Katharmoi – As purificações – do qual resta somente uma centena de versos, a intervenção do ódio está na origem de todas as coisas e dos seres individuais, que se vão diversificando até a separação total e o domínio absoluto do mal.

 Entretanto, o princípio do amor voltará a triunfar, unificando e misturando tudo até a configuração de uma só coisa, Sphairos, a esfera perfeita, na qual o mundo presente tem princípio e fim.



No mundo atual há seres individuais e, portanto, ódio e injustiça, o que exige um processo de purificação que só terminará quando o amor triunfar.

Mas esse triunfo é ainda relativo: a evolução dos mundos é um processo no qual se manifesta um domínio alternado do amor e do ódio, do bem e do mal.

“Mas vá, contempla os testemunhos do meu discurso anterior, não se dê o caso de nele ter faltado beleza: o Sol, quente ao olhar e todo ele ofuscante; todos os imortais que se banham no calor e nos raios brilhantes; a chuva em tudo sombria e gelada; e as coisas enraizadas e sólidas que brotam da terra.

Na Cólera tudo é de diferentes formas e está separado, mas no Amor todas as coisas se unem e se desejam umas às outras. Delas procede tudo o que existiu, existe e existirá no futuro – surgiram as árvores e os homens e as mulheres, as feras e as aves e os peixes que na água se criam, e também os deuses de longa vida, superiores em honrarias.

Pois só estes existem, mas, correndo uns através dos outros, tomam formas diversas: de tal modo os altera a sua mistura.



HERÁCLITO

Heráclito nasceu em Éfeso, cidade da Jônia (atual Turquia). Diógenes Laércio relata que "Heráclito, filho de Blóson, ou, segundo outra tradição, de Heronte, era natural de Éfeso. Tinha uns quarenta anos por ocasião da 69ª Olimpíada (504-501 a.C.). Era homem de sentimentos elevados, orgulhoso e cheio de desprezo pelos outros".

Por seu desprendimento em relação ao poder e pelo desprezo que dedicava aos bens materiais, Heráclito não era simpático aos efésios, que eram exatamente o seu oposto. Foi, aliás, muito criticado por seus concidadãos quando conseguiu convencer o tirano Melancoma a abdicar para ir viver nos bosques, em livre contato com a natureza[1]. Heráclito era acusado de desprezar a plebe, de se recusar a participar da política - essencial aos gregos) - e de desdenhar os poetas, os filósofos e a religião.[2]

Misantropo, viveu na solidão do templo de Ártemis. O mesmo Diógenes nos conta: "Retirado no templo de Ártemis, divertia-se em jogar com as crianças e, acercando-se dele os efésios, perguntou-lhes:

De que vos admirais, perversos? Que é melhor: fazer isso ou administrar a República convosco?

Nos últimos anos da sua vida, passou a viver ainda mais isolado, nas montanhas, alimentando-se somente de plantas. Quando adoeceu, atacado por uma hidropisia, Heráclito foi obrigado a voltar à cidade. Aos médicos, cujo conhecimento ridicularizava, perguntou se seriam capazes de transformar uma inundação em seca, aludindo à sua doença.[3] Os médicos não entenderam e acabaram sendo expulsos por Heráclito. O filósofo resolveu então recorrer a um curandeiro que lhe aconselhou imergir-se no estrume pois o calor faria evaporar a água em excesso que havia em seu corpo. Foi um desastre: os cães de Heráclito não reconheceram o dono, inteiramente coberto de excrementos, e o atacaram, causando a sua morte. É possível também que a causa da morte de Heráclito tenha sido o sufocamento comia esterco de vaca. O historiador Neantes de Cízico (século III a.C.) afirma que, tendo sido impossível retirar o corpo de sob o esterco, lá permaneceu.

 O pensamento de Heráclito


Os filósofos de Mileto (Tales, Anaximandro, Anaxímenes, entre outros) haviam percebido o dinamismo das mudanças que ocorrem na physis, como o nascimento, o crescimento e a morte, mas não chegaram a problematizar a questão.

Heráclito, inserido no contexto pré-socrático, parte do princípio de que tudo é movimento, e que nada pode permanecer estático - Panta rei ou "tudo flui", "tudo se move", exceto o próprio movimento.

Mas este é apenas um pressuposto de uma doutrina que vai mais além. O devir, a mudança que acontece em todas as coisas é sempre uma alternância entre contrários: coisas quentes esfriam, coisas frias esquentam; coisas úmidas secam, coisas secas umedecem etc. A realidade acontece, então, não em uma das alternativas, posto que ambas são apenas parte de uma mesma realidade, mas sim na mudança ou, como ele chama, na guerra entre os opostos. Esta guerra é a realidade, aquilo que podemos dizer que é. "A doença faz da saúde algo agradável e bom"; ou seja, se não houvesse a doença, não haveria por que valorizar-se a saúde, por exemplo. Ele ainda considera que, nessa harmonia, os opostos coincidem da mesma forma que o princípio e o fim, em um círculo; ou a descida e a subida, em um caminho, pois o mesmo caminho é de descida e de subida; o quente é o mesmo que o frio, pois o frio é o quente quando muda (ou, dito de outra forma, o quente é o frio depois de mudar, e o frio, o quente depois de mudar, como se ambos, quente e frio, fossem "versões" diferentes da mesma coisa).

Panta rei os potamós (do grego πάντα ε ), traduzido como "Tudo flui como um rio" é o célebre aforisma no qual a tradição filosófica subsequente identificou sinteticamente o pensamento de Heráclito com o tema do devir, em contraposição à filosofia do ser própria de Parmênides.

Mas, na realidade, o famoso moto panta rei não é atestado nos fragmentos conhecidos da obra de Heráclito, e pode ser atribuído ao seu discípulo Crátilo, que desenvolveu o pensamento do mestre, radicalizando-o. A fórmula léxica panta rei será cunhada e utilizada pela primeira vez somente por Simplício, em seu comentário à Physica Auscultatio, 1313, 11. A expressão deriva de um fragmento do tratado Sobre a natureza:

Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado; por causa da impetuosidade e da velocidade da mutação, esta se dispersa e se recolhe, vem e vai.
91 Diels-Kranz

Tudo é considerado como um grande fluxo perene no qual nada permanece a mesma coisa pois tudo se transforma e está em contínua mutação. Por isso, Heráclito identifica a forma do Ser no Devir pelo qual todas as coisas são sujeitas ao tempo e à sua relativa transformação.

Heráclito sustenta que só a mudança e o movimento são reais, e que a identidade das coisas iguais a si mesmas é ilusória: para Heráclito tudo flui (panta rei).

O panta rei é uma consequência de polemos (guerra, conflito), que reina sobre tudo. Em consequência, Heráclito de Éfeso não é o filósofo do "tudo flui" mas do "tudo flui enquanto resultado da tensão contínua dos opostos em luta".

A doutrina dos contrários


Polemos é pai de todas as coisas, de todas, de todas rei.

A doutrina da unidade dos contrários é talvez o aspecto mais original do pensamento filosófico de Heráclito. A lei secreta do mundo reside na relação de interdependência entre dois conceitos opostos, em luta permanente; mas, ao mesmo tempo, um não pode existir sem o outro. Nada existiria se não existisse, ao mesmo tempo, o seu oposto. Assim, por exemplo, uma subida pode ser pensada como uma descida por quem está na parte de cima. Entre os contrários se cria uma espécie de luta constitutiva do logos indiviso.

Nessa dualidade, que na superfície é uma guerra (polemos), mas no fundo é harmonia entre os contrários, Heráclito viu aquilo que definia como o logos, a lei universal da Natureza.

E é a própria doutrina dos contrários que faz de Heráclito o fundador de uma lógica "antidialética", fundada na lei estética do devir da realidade. Antidialética porque tese e antítese (ser e não ser) são uma síntese contraditória e permanente na realidade, que só assim pode vir a ser, através dos seus dois aspectos existenciais ("no mesmo rio, entramos e não entramos"; "somos e não somos"); oposta à lógica aristotélica porque oposta ao seu princípio da não-contradição e do terceiro excluído.

A teoria de Heráclito é alternativa à ontologia de Parmênides, o filósofo da unidade e da identidade do Ser, que ensina que é a contínua mudança a principal característica do não ser .

A partir de seus pressupostos - panta rei e a guerra entre os contrários -, Heráclito definiu uma arché, um princípio que está em todas as coisas desde a sua origem: o fogo. Para ele, "todas as coisas são uma troca do fogo, e o fogo, uma troca de todas as coisas, assim como o ouro é uma troca de todas as mercadorias e todas as mercadorias são uma troca do ouro"; ou seja, todas as coisas transformam-se em fogo, e o fogo transforma-se em todas as coisas.] A cosmologia de Heráclito




Heráclito, em detalhe do afresco pintado por Rafael, A Escola de Atenas

Segundo Heráclito, o fogo é, pois, o elemento primordial de todas as coisas. Tudo se origina por rarefação e tudo flui como um rio. O cosmos é um só e nasce do fogo e, de novo, é pelo fogo consumido, em períodos determinados, em ciclos que se repetem pela eternidade.
Em seu livro - Do Céu, Aristóteles escreve: "Concordam todos em que o mundo foi gerado; mas, uma vez gerado, alguns afirmam que é eterno e outros que é perecível, como qualquer outra coisa que por natureza se forma. Outros, ainda, que, destruindo-se, alternadamente é ora assim, ora de outro modo, como Empédocles e Heráclito de Éfeso. (…) Também Heráclito assevera que o universo ora se incendeia, ora de novo se compõe do fogo, segundo determinados períodos de tempo, na passagem em que diz "acendendo-se em medidas e apagando-se em medidas."
Para Heráclito, o fogo, quando condensado, se umidifica e, com mais consistência, torna-se água; e esta, solidificando-se, transforma-se em terra; e, a partir daí, nascem todas as coisas do mundo. Este é o caminho que Heráclito define como sendo "para baixo".
Derretendo-se a terra, obtém-se água. Água transforma-se em vapor, tal como vemos na evaporação do mar. E, rarefazendo-se, o vapor transforma-se novamente em fogo. E este é o caminho "para cima".
Nosso mundo é cercado pelos astros (Sol, Lua e estrelas). Esses nada mais são do que barcos cujas concavidades estão voltadas para nós, e que carregam dentro de si chamas brilhantes. A mais brilhante (para nós) é a chama do Sol e também a mais quente. Os demais astros distam mais da Terra e é por isso que seu brilho é menos vivo e menos quente, mas a Lua, que está bem próxima da Terra, não é por isso, mas por não se encontrar num espaço puro – a escuridão. O Sol, entretanto, está em região clara e pura.
Os eclipses do Sol e da Lua acontecem quando as concavidades dos barcos se voltam para cima. E as fases da Lua ocorrem quando o barco que a encerra se volta aos poucos em nossa direção.
Dia e noite, meses e estações, chuvas, ventos e demais fenômenos são conseqüências de diferentes evaporações. Pois a brilhante evaporação, inflamando-se no círculo do Sol, produz o dia; e, quando a contrária prevalece, produz a noite; e, quando da evaporação brilhante nasce o calor, faz verão; mas, quando da sombra o úmido prevalece, faz-se o inverno.

 O Deus e a alma


Dentro do pensamento de Heráclito, Deus não tinha a aparência de um homem nem de outro animal qualquer. Em seu pensamento Deus não era nem criador, nem onipotente. Heráclito limitava-se a identificá-lo com os opostos, os quais persistem apesar de suas mudanças e assim são capazes de compreender sua própria unidade.
"O Deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, saciedade-fome; mas se alterna como o fogo, quando se mistura a incensos, e se denomina segundo o gosto de cada um."
Nesse argumento, podemos ver que Heráclito considerava as diversas divindades da mitologia grega, que eram adoradas pelos homens de seu tempo, como sendo apenas fogo misturado a diferentes tipos de incensos.
E a alma consiste apenas de mais uma rarefação do fogo e sofre as mesmas mudanças que todas as outras coisas também experimentam; e a morte traz a completa extinção da alma.
"Para almas é morte tornar-se água, e para água é morte tornar-se terra, e de terra nasce água, e de água alma."
Novamente aqui, nesse raciocínio, vemos Heráclito descrever seus caminhos "para baixo" e "para cima".

Parmenides:

Parménides de Eleia (em grego Παρμενίδης λεάτης) foi um filósofo grego. Nasceu entre 530 a.C. e 515 a.C.[1] na cidade de Eleia,[2] colónia grega do sul da Magna Grécia (Itália), cidade que lhe deveu também a sua legislação. Segundo Estrabão, foi graças à influência dos filósofos Parménides e Zenão de Eleia que a cidade foi bem governada, e o bom governo garantiu seu sucesso contra os Leucani e os Poseidoniatae, mesmo tendo Eleia território e população menores.[2] Foi um dos representantes da escola eleática juntamente com Xenófanes, Zenão de Eleia e Melisso de Samos.

Parménides escreveu uma só obra, um poema em verso épico, do qual foram preservados fragmentos em citações de outros autores. Os especialistas consideram que a integridade do que conservamos é consideravelmente maior em comparação com o que foi preservado das obras de quase todos os restantes filósofos pré-socráticos, e por isso a sua doutrina pode ser reconstruída com maior precisão.

Apresenta o seu pensamento como uma revelação divina dividida em duas partes:

  • A via da verdade, onde se ocupa «do que é» ou «ente», e expõe vários argumentos que demonstram seus atributos: é estranho à geração e corrupção e portanto é inegendrado (incriado) e indestrutível, e é o único que verdadeiramente existe — com o que nega a existência do nada — é homogéneo, imóvel e perfeito.
  • A via das opiniões dos mortais, onde trata de assuntos como a constituição e localização dos astros, diversos fenómenos meteorológicos e geográficos, e a origem do homem, construindo uma doutrina cosmológica completa.

Enquanto que a via da opinião se assemelha às especulações físicas dos pensadores anteriores, como os milésios e os pitagóricos, a via da verdade contém uma reflexão completamente nova que modifica radicalmente o curso da filosofía antiga: considera-se que Zenão de Eleia e Melisso de Samos aceitaram as suas premissas e continuaram o seu pensamento. Os físicos posteriores, como Empédocles, Anaxágoras e os atomistas, procuraram alternativas para superar a crise a que tinham sido atirado o conhecimento do sensível. Também a sofística de Górgias acusa uma enorme influência de Parménides, na sua forma argumentativa.

Tanto a doutrina platónica das formas como a metafísica aristotélica guardam uma dívida incalculável em relação à via da verdade de Parménides. É por esta razão que muitos filósofos e filólogos consideram que Parménides é o fundador da metafísica ocidental.

O Pensamento de Parmênides


Seu pensamento está exposto num poema filosófico intitulado Sobre a Natureza e sua permanência, dividido em duas partes distintas: uma que trata do caminho da verdade (alétheia) e outra que trata do caminho da opinião (dóxa), ou seja, daquilo onde não há nenhuma certeza. De modo simplificado, a doutrina de Parmênides sustenta o seguinte:

  • Unidade e a imobilidade do Ser;
  • O mundo sensível é uma ilusão;
  • O Ser é Uno, Eterno, Não-Gerado e Imutável.
  • Não se confia no que vê.

Devido a essas , alguns veem no poema de Parmênides o próprio surgimento da ontologia. Ao mesmo tempo, o pensamento de Parmênides é tradicionalmente visto como o oposto ao de Heráclito de Éfeso.

Para alguns estudiosos, Parmênides fundou a metafísica ocidental com sua distinção entre o Ser e o Não-Ser. Enquanto Heráclito ensinava que tudo está em perpétua mutação, Parmênides desenvolvia um pensamento completamente antagônico: “Toda a mutação é ilusória”.

Parmênides vai então afirmar toda a unidade e imobilidade do Ser. Fixando sua investigação na pergunta: “o que é”, ele tenta vislumbrar aquilo que está por detrás das aparências e das transformações.

Assim, ele dizia: “Vamos e dir-te-ei – e tu escutas e levas as minhas palavras. Os únicos caminhos da investigação em que se pode pensar: um, o caminho que é e não pode não ser, é a via da Persuasão, pois acompanha a Verdade; o outro, que não é e é forçoso que não seja, esse digo-te, é um caminho totalmente impensável. Pois não poderás conhecer o que não é, nem declará-lo.” [26]

Numa interpretação mais aprofundada dos fragmentos de Heráclito e Parmênides, podemos achar um mesmo todo para os dois e esta oposição entre suas visões do todo passa a ser cada vez menor.

Parmênides comparava as qualidades umas com as outras e as ordenava em duas classes distintas. Por exemplo, comparou a luz e a escuridão, e para ele essa segunda qualidade nada mais era do que a negação da primeira.

Diferenciava qualidades positivas e negativas e, esforçava-se em encontrar essa oposição fundamental em toda a Natureza. Tomava outros opostos: leve-pesado, ativo-passivo, quente-frio, masculino-feminino, fogo-terra, vida-morte, e aplicava a mesma comparação do modelo luz-escuridão; o que corresponde à luz era a qualidade positiva e o que corresponde à escuridão, a qualidade negativa. O pesado era apenas uma negação do leve. O frio era uma negação do quente. O passivo uma negação ao ativo, o feminino uma negação do masculino e, cada um apenas como negação do outro.

Por fim, nosso mundo dividia-se em duas esferas: aquela das qualidades positivas (luz, quente, ativo, masculino, fogo, vida) e aquela das qualidade negativas (escuridão, frio, passivo, feminino, terra, morte). A esfera negativa era apenas uma negação da esfera positiva, isto é, a esfera negativa não continha as propriedades que existiam na esfera positiva.

Ao invés das expressões “positiva” e “negativa”, Parmênides usa os termos metafísicos de “ser” e “não-ser”. O não-ser era apenas uma negação do ser. Mas ser e não-ser são imutáveis e imóveis. No seu livro: Metafísica, Aristóteles expõe esse pensamento de Parmênides: “Julgando que fora do ser o não-ser é nada, forçosamente admite que só uma coisa é, a saber, o ser, e nenhuma outra... Mas, constrangido a seguir o real, admitindo ao mesmo tempo a unidade formal e a pluralidade sensível, estabelece duas causas e dois princípios: quente e frio, vale dizer, Fogo e Terra. Destes (dois princípios) ele ordena um (o quente) ao ser, o outro ao não-ser.”

[editar] O Vir-a-Ser


Quanto às mudanças e transformações físicas, o Vir-a-Ser, que a todo instante vemos ocorrer no mundo, Parmênides as explicava como sendo apenas uma mistura participativa de ser e não-ser. “Ao vir-a-ser é necessário tanto o ser quanto o não-ser. Se eles agem conjuntamente, então resulta um vir-a-ser”.

Um desejo era o fator que impelia os elementos de qualidades opostas a se unirem, e o resultado disso é um vir-a-ser. Quando o desejo está satisfeito, o ódio e o conflito interno impulsionam novamente o ser e o não-ser à separação.

Parmênides chega então à conclusão de que toda mudança é ilusória. Só o que existe realmente é o ser e o não-ser. O vir-a-ser é apenas uma ilusão sensível. Isto quer dizer que todas as percepções de nossos sentidos apenas criam ilusões, nas quais temos a tendência de pensar que o não-ser é, e que o vir-a-ser tem um ser.

[editar] O Ser-Absoluto


Toda nossa realidade é imutável, estática, e sua essência está incorporada na individualidade divina do Ser-Absoluto, o qual permeia todo o Universo. Esse Ser é onipresente, já que qualquer descontinuidade em sua presença seria equivalente à existência de seu oposto – o Não-Ser.

Esse Ser não pode ter sido criado por algo pois isso implicaria em admitir a existência de um outro Ser. Do mesmo modo, esse Ser não pode ter sido criado do nada, pois isso implicaria a existência do “Não-Ser”. Portanto, o Ser simplesmente é.

Simplício da Cilícia, em seu livro Física, assim nos explica sobre a natureza desse Ser-Absoluto de Parmênides: “Como poderia ser gerado? E como poderia perecer depois disso? Assim a geração se extingue e a destruição é impensável. Também não é divisível, pois que é homogêneo, nem é mais aqui e menos além, o que lhe impediria a coesão, mas tudo está cheio do que é. Por isso, é todo contínuo; pois o que é adere intimamente ao que é. Mas, imobilizado nos limites de cadeias potentes, é sem princípio ou fim, uma vez que a geração e a destruição foram afastadas, repelidas pela convicção verdadeira. É o mesmo, que permanece no mesmo e em si repousa, ficando assim firme no seu lugar. Pois a forte Necessidade o retém nos liames dos limites que de cada lado o encerra, porque não é lícito ao que é ser ilimitado; pois de nada necessita – se assim não fosse, de tudo careceria. Mas uma vez que tem um limite extremo, está completo de todos os lados; à maneira da massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio a partir do centro, em todas as direções; pois não pode ser algo mais aqui e algo menos ali.”

O Ser-Absoluto não pode vir-a-ser. E não podem existir vários “Seres-Absolutos”, pois para separá-los precisaria haver algo que não fosse um Ser. Consequentemente, existe apenas a Unidade eterna.

Teofrasto relata assim esse raciocínio de Parmênides: “O que está fora do Ser não é Ser; o Não-Ser é nada; o Ser, portanto, é.


A ideologia texto 3º ano

A ideologia



A alienação social se exprime Numa “teoria” do conhecimento espontânea, formando o senso comum da saciedade. Por seu intermédio, são imaginadas explicações e justificativas para a realidade tal como é diretamente percebida e vivida.

Um exemplo desse senso comum aparece no caso da “explicação” da pobreza, em que o pobre é pobre por sua própria culpa (preguiça, ignorância) ou por vontade divina ou por inferioridade natural. Esse senso comum social, na verdade, é o resultado de uma elaboração intelectual sobre a realidade, feita pelos pensadores ou intelectuais da sociedade — sacerdotes, filósofos, cientistas, professores, escritores, jornalistas, artistas —, que descrevem e explicam o mundo a partir do ponto de vista da classe dominante de sua sociedade. Essa elaboração intelectual incorporada pelo senso comum social és Ideologia, Por meio dela, o ponto de vista, as opiniões e as idéias de uma das classes sociais — a dominantes dirigente — tornam-se aponto de vista e a opinião de todas as classes e de toda a sociedade.

A função principal da ideologia é ocultara dissimularas divisões sociais e políticas, dando-lhes a aparência de indivisão social e de diferenças naturais entre os seres humanos, Indivisão: apesar da divisão social das classes, somos levados a crer que somos todos iguais porque participamos da idéia de “humanidade”, ou da idéia de “nação” e “pátria”, ou da idéia de “raça”, etc, Diferenças naturais: somos levados a crer que as desigualdades sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela divisão social das classes, mas por diferenças individuais dos talentos e das capacidades, da inteligência, da força de vontade maior ou menor, etc.

A produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem Levarem conta que há uma contradição profunda entre as condições realcem que vivemos e as idéias.

Por exemplo, a ideologia afirma que somos todos cidadãos e, portanto, temos todos os mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. No entanto, sabemos que isso não acontece de fato: as crianças de rua não têm direitos; os idosos não têm direitos; os direitos culturais das crianças nas escolas públicas é inferior aos das crianças que estão em escolas particulares, pois o ensino não é de mesma qualidade em ambas; os negros e índios são discriminados como inferiores; os homossexuais são perseguidos como pervertidos, etc.

A maioria, porém, acredita que o fato de ser eleitor, pagaras dívidas e contribuir com os impostos já nos faz cidadãos, sem considerar

condições concretas que fazem alguns serem mais cidadãos do que outros. A função da ideologia é impedir-nos de pensar nessa coisa.

Principais características da ideologia



*Prescrição de normas: a ideologia prescreve normas para a conduta humana e, por isso, tende a manter a ordem social. No entanto, essa mesma característica instiga os homens à ação, provando que a ideologia não se compõe de idéias abstratos ou desligadas do real, mas de idéias e representações que se concretizam e movem os interesses dos homens, tanto para a manutenção quanto para a transformação da realidade.

*Representação social: a Ideologia tem a capacidade de representara realidade, criando imagens e conceitos que dão significado às relações sociais objetivas. Ela trabalha com símbolos e criações mentais. Um exemplo é a concepção de pátria-mãe, que conota proteção e amparo a todos os cidadãos, como se não existissem diferenças de tratamento e assistência aos problemas sociais:menor, mãe solteira, Invalidez por doença, desemprego, mendicância, crime e marginalidade, favelização, para citar alguns.

• Generalização do particular: a Ideologia Ignora as Especificidades dos fenômenos sociais. Trata de forma generalizada as diferentes realidades da família, da pátria, da educação, do trabalho, ocultando as condições sociais desiguais de realização dos objetivos a que os homens se propõem.

• Discurso lacunar: a Ideologia apresenta molas-verdades, Embora lacunar, o seu discurso é coerente. A afirmação “o salário mínimo atende ás necessidades básicas de uma família é um exemplo de discurso ideológico.

• Explicação da realidade: a Ideologia explica o que acontece, a partir do ponto de vista dos que dominam. Tende a Justificar posições sociais privilegiadas o impede, multas vezes, que autoridades políticas, econômicas, religiosas, científicas sejam questionadas. Nesse sentido, prevalece a opinião do deputado, do ministro, do religioso, do pesquisador, do Intelectual, como porta-vozes da verdade. É o argumento da autoridade.

• Inversão da realidade: a ideologia detém-se nos efeitos dos fenômenos, encobrindo suas causas. Não é raro, por exemplo, as reivindicações populares por melhores condições de vida e de trabalho serem rotuladas como um problema de “.falta de cultura”, ou a fome de parcela significativa da população brasileira ser explicado pela falto do hábito de plantar de nosso povo.

• Alienação: a Ideologia produz um afastamento do produtor em relação a seu produto, Impedindo-o de achar significado em seu trabalho. A alienação projeta-se, também, em outras dimensões da vida, Instalando o conformismo e a indiferença diante de determinadas situações sociais.

• Fetichização da mercadoria: a mercadoria fetichizada exerce domínio sobre o produtor e fascínio sobre o consumidor como se tivesse vida própria, Imprime força às ações de troca social. A ideologia vale-se desse processo e transforma as relações entre os homens em relações entre coisas. Desse modo, quando trocamos dinheiro por algum objeto, geralmente não percebemos as relações sociais contidas na mercadoria.

• Retificação: a ideologia faz as qualidades das coisas aparecerem como seus atributos naturais. Assim, retificadas (coisificadas), as relações de trabalho, por exemplo, são valorizadas na forma de salários. A retificação dá vida humanizada a coisas inertes, sem deixar transparecer as relações sociais que as sustentam, como nesta afirmação: “A empresa julgou improcedente a solicitação do sindicato”,

• Naturalização: a ideologia naturaliza as ações humanas, como a discriminação contra índios, por exemplo, para que aceitemos as desigualdades sociais e justifiquemos o fato de “sempre’ ter existido violência contra eles. Aponta a verdade como Inscrita na ordem das coisas, considerando uma ordem natural de acontecimentos em detrimento do processo histórico. Nesse raciocínio, é considerada “natural” a dominação de um grupo ou classe social sobre outro, o a hierarquia aparece como necessária.

• homogeneização: a Ideologia homogeneíza a aparência das classes sociais originalmente divididas em razão do antagonismo de Interesses no processo de produção e na repartição dos bens. A Ideologia apresenta-nos uma realidade sem conflitos o som contradições. Aposta na integração social, por exemplo, referindo-se ao progresso material como “fruto do trabalho de todos”.

• Ocultação: a ideologia prima por ocultar o verdadeiro conhecimento da realidade. Dado a Inter-relação de suas característicos, a Ideologia tende a esconder as Intenções predominantes nas ações, mascarando a existência de contradições na convivência social. Assim, elo é parcial, deixa opaca a realidade e auxilia a dominação. A Ideologia escamoteia a essência dos fenômenos, deixando ver apenas sua aparência. Em seu discurso, por exemplo, a ideologia preserva a imagem de certas personalidades ao superestimar seus feitos pessoais nos acontecimentos históricos, A narrativa desses fatos é o que chamamos de “história oficial”.