quarta-feira, 13 de março de 2013

texto base para o estudo dirigido sobre filosofia na Idade Média 1º série


CENTRO EDUCACIONAL 06- GAMA

DISCIPLINA : FILOSOFIA

PROF: DENYS F. DA COSTA


                                                           TEXTO BASE  PARA O ESTUDO DIRIGIDO   1º ANO

TEXTO 01

FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA

O quarto e último período do pensamento grego denomina-se religioso, porque o espírito humano procura a solução integral do problema da vida na religião ou nas religiões. O problema da vida é agudamente sentido, pelo fato de ser profundamente sentido o problema do mal. Deste problema não se acha, racionalmente, uma explicação plena, e, por conseguinte, se recorre à concepção de uma queda arcana, original, do espírito, de um conseqüente encarceramento do espírito no corpo, e de uma purificação e libertação ascética e mística. A desconfiança do conhecimento racional impede à evasão para um conhecimento supra-racional, imediato, intuitivo, místico, da realidade absoluta, para a revelação, o êxtase. Assim, o pensamento grego, que partiu de uma religião - positiva -, e a demoliu paulatina e criticamente nos grandes sistemas clássicos, volta, no seu término, para a religião. Já não se trata, porém, da velha religião grega, olímpica, homérica, absolutamente incapaz, devido aos seus limites naturalistas, humanistas, políticos, de resolver os grandes problemas transcendentes - do mal, da dor, da morte, do pecado - que nem sequer se propõe. Trata-se, ao contrário, das religiões orientais, semitas, místicas, mistério, filosóficas, especialmente propensas a estes problemas e fecundas em soluções do mais vivo interesse.

No período religioso permanecem os problemas do período ético, mas singularmente acentuados; procura a solução mediante uma metafísica completada pela religião. Tentar-se-á a síntese filosófica do dualismo platônico, do racionalismo aristotélico, do monismo estóico, e mais precisamente do transcendente divino platônico, do logos racional aristotélico, da alma estóica do mundo, em uma forma de triteísmo, em uma característica espécie de trindade divina. Nesta síntese metafísica prevalece o platonismo, com a sua radical separação entre o mundo sensível e inteligível, com a sua extrema transcendência da divindade, com a sua doutrina de uma queda original, com a sua religiosidade e o seu misticismo. Mas na metafísica neoplatônico - obra-prima deste período religioso - tal transcendência, característica do clássico dualismo grego, terminará no monismo emanatista.

O último período do pensamento grego abrange os primeiros cinco séculos da era vulgar: substancialmente, a idade do império romano, de que a filosofia religiosa neoplatônica forma como que a estruturação ideal; e também a idade da patrística cristã, com que o neoplatonismo tem contatos, intercâmbio e polêmicas. O centro deste movimento filosófico é Alexandria do Egito, capital comercial, cultural, religiosa do mundo cosmopolita helenista-romano, encruzilhada entre o Ocidente e o Oriente, sede do famoso Museu.

O sistema metafísico predominante no período religioso é o neoplatonismo, e o seu maior expoente é Plotino (III século d.C.), cuja vida e pensamento nos foram transmitidos pelo discípulo Porfírio. O neoplatonismo, todavia, tem rumos precursores nos primeiros séculos da era vulgar: 1 - oriental, em Filo de Alexandria, que tenta a síntese do pensamento grego com a revelação hebraica, interpretada à luz do pensamento grego, mas a este supra-ordenada; II - ocidental, no novo pitagorismo, cujo maior representante é Apolônio de Tiana, e no platonismo religioso, cujo maior expoente é Plutarco de Queronéia. E também teve o neoplatonismo desenvolvimento nos últimos séculos do império romano: l. - na assim chamada escola siríaca, cuja mais notável expressão é Jâmblico, e exerceu também certa influência política com o imperador Juliano Apóstata; 2°. - na chamada escola ateniense, cuja mais notável expressão é Proclo, que sistematizou definitivamente e transmitiu aos pobres o pensamento neoplatônico. Com a escola ateniense acaba, também historicamente, o pensamento grego, pelo encerramento dessa escola ordenado por Justiniano imperador (529 d.C.). Entretanto, o pensamento grego - o pensamento platônico, pelo menos - já tinha sido assimilado pelo pensamento cristão patrística, e a sua parte vital tinha sido adaptada  e valorizada no cristianismo.

 

                   

      TEXTO 02:   PATRÍSTICA

 
                A patrística procurou conciliar as verdades da revelação bíblica com as construções do pensamento próprias da filosofia grega. A maior parte de suas obras foi escrita em grego e latim, embora haja também muitos escritos doutrinários em aramaico e outras línguas orientais.
Patrística é o corpo doutrinário que se constituiu com a colaboração dos primeiros padres da igreja, veiculado em toda a literatura cristã produzida entre os séculos II e VIII, exceto o Novo Testamento.
             O conteúdo do Evangelho, no qual se apoiava a fé cristã nos primórdios do cristianismo, era um saber de salvação, revelado, não sustentado por uma filosofia. Na luta contra o paganismo greco-romano e contra as heresias surgidas entre os próprios cristãos, no entanto, os padres da igreja se viram compelidos a recorrer ao instrumento de seus adversários, ou seja, o pensamento racional, nos moldes da filosofia grega clássica, e por meio dele procuraram dar consistência lógica à doutrina cristã.
         O cristianismo romano atribuía importância maior à fé; mas entre os padres da igreja oriental, cujo centro era a Grécia, o papel desempenhado pela razão filosófica era muito mais amplo e profundo. Os primeiros escritos patrísticos falavam de martírios, como A paixão de Perpétua e Felicidade, escrito em Cartago por volta de 202, durante o período em que sua autora, a nobre Perpétua, aguardava execução por se recusar a renegar a fé cristã. Nos séculos II e III surgiram muitos relatos apócrifos que romantizavam a vida de Cristo e os feitos dos apóstolos.
        Em meados do século II, os cristãos passaram a escrever para justificar sua obediência ao Império Romano e combater as idéias gnósticas, que consideravam heréticas. Os principais autores desse período foram são Justino mártir, professor cristão condenado à morte em Roma por volta do ano 165; Taciano, inimigo da filosofia; Atenágoras; e Teófilo de Antioquia. Entre os gnósticos, destacaram-se Marcião, que rejeitava o judaísmo e considerava antitéticos o Antigo e o Novo Testamento.
No século III floresceram Orígenes, que elaborou o primeiro tratado coerente sobre as principais doutrinas da teologia cristã e escreveu Contra Celsum e Sobre os princípios;         Clemente de Alexandria, que em sua Stromata expôs a tese segundo a qual a filosofia era boa porque consentida por Deus; e Tertuliano de Cartago. A partir do Concílio de Nicéia, realizado no ano 325, o cristianismo deixou de ser a crença de uma minoria perseguida para se transformar em religião oficial do Império Romano. Nesse período, o principal autor foi Eusébio de Cesaréia. Dentre os últimos padres gregos destacaram-se, no século IV, Gregório Nazianzeno, Gregório de Nissa e João Damasceno.
Os maiores nomes da patrística latina foram santo Ambrósio, são Jerônimo (tradutor da Bíblia para o latim) e santo Agostinho, este considerado o mais importante filósofo em toda a patrística. Além de sistematizar as doutrinas fundamentais do cristianismo, desenvolveu as teses que constituíram a base da filosofia cristã durante muitos séculos. Os principais temas que abordou foram as relações entre a fé e a razão, a natureza do conhecimento, o conceito de Deus e da criação do mundo, a questão do mal e a filosofia da história.
 

TEXTO 03
 A Escolástica (ou Escolasticismo) é uma linha dentro da filosofia medieval, de acentos notadamente cristãos, surgida da necessidade de responder às exigências da fé, ensinada pela Igreja, considerada então como a guardiã dos valores espirituais e morais de toda a Cristandade. Por assim dizer, responsável pela unidade de toda a Europa, que comungava da mesma fé.

A Filosofia que até então possuía traços marcadamente clássicos e helenísticos sofreu influências da cultura judaica e cristã, a partir do século V, quando pensadores cristãos perceberam a necessidade de aprofundar uma fé que estava amadurecendo, em uma tentativa de harmonizá-la com as exigências do pensamento filosófico. Alguns temas que antes não faziam parte do universo do pensamento grego, tais como: Providência e Revelação Divina e Criação a partir do nada passaram a fazer parte de temáticas filosóficas. A Escolástica possui uma constante de natureza neoplatônica, que conciliava elementos da filosofia de Platão com valores de ordem espiritual, reinterpretadas pelo Ocidente cristão. E mesmo quando Tomás de Aquino introduz elementos da filosofia de Aristóteles no pensamento escolástico, esta constante neoplatônica ainda é presente.

Basicamente, a questão chave que vai atravessar todo o pensamento escolástico é a harmonização de duas esferas: a fé e a razão. O pensamento de Agostinho, mais conservador, defende uma subordinação maior da razão em relação à fé, por crer que esta venha restaurar a condição decaída da razão humana. Enquanto que a linha de Tomás de Aquino defende uma certa autonomia da razão na obtenção de respostas, por força da inovação do aristotelismo, apesar de em nenhum momento negar tal subordinação da razão à fé. Para a Escolástica, algumas fontes eram fundamentais no aprofundamento de sua reflexão, por exemplo os filósofos antigos, as Sagradas Escrituras e os Padres da Igreja, autores dos primeiros séculos cristãos que tinham sobre si a autoridade de fé e de santidade.

Os maiores representantes do pensamento escolástico são os dois pensadores citados acima, que estão separados pelo tempo e pelo espaço: Agostinho de Hipona, nascido no norte da África no fim do século IV e Tomás de Aquino, nascido na Itália do século XIII. Embora seja arriscado dizer que sejam as únicas referências relevantes do período medieval, ambos conseguiram sintetizar questões discutidas através de todo o período: Agostinho enquanto mestre de opinião relevante e autoridade moral e Tomás de Aquino, pelo uso de caminhos mais eficazes na obtenção de respostas até então em aberto.

TEXTO 04:  
SANTO AGOSTINHO: A FÉ REABILITA  A  RAZÃO
Oficialmente, o cristianismo triunfa em 313, quando o imperador Constantino (c. 280-337), pelo edito de Milão, concede liberdade de culto aos cristãos. Na prática, po­rém, o cristianismo, com seus fiéis solidamente organi­zados sob a autoridade dos padres, dos bispos e do papa, já possuía uma instituição bastante influente: a Igreja (do grego ekklesía, isto é, "assembléia").

Mas a elevação formal da Igreja de Roma a centro da cristandade acirrou também a disputa entre as interpre­tações divergentes da mensagem de Jesus. No plano po­lítico, esse confronto de opiniões seria resolvido no Con­cílio de Nicéia (325), convocado por Constantino, e em outras reuniões do gênero, em que se estabeleceu a orto­doxia (literalmente, "opinião correta") da doutrina cristã. Desse processo - do qual fizeram parte violências con­tra os considerados hereges - resultou a Igreja Católica, que em grego significa Igreja universal.

A consolidação da ortodoxia exige, no entanto, mais do que um ato de poder que a decrete. Ela também pre­cisa ser convincente, apresentando-se não apenas como revelação mas também como resultado de raciocínios. A filosofia patrística (dos santos padres) representa, em  algumas de suas vertentes, esse esforço de munir a fé de argumentos racionais.Dentre os Santos padres, Santo Agostinho é quem leva mias longe a conciliação entre a fé e a razão: elabora a filosofia cristã, como ele a chamaria.

O Verbo em cada um
A vida de Santo Agostinho, minuciosamente narrada por ele próprio em Confissões, é quase uma demonstra­ção, na prática, de seu pensamento: experimentou o ceti­cismo quanto ao conhecimento, sofreu o abismo do ho­mem em pecado, reencontrou a esperança na graça divi­na, conheceu a felicidade e a certeza da verdade na fé.

Agostinho nasceu em 354 em Tagaste, na província ro­mana de Numídia, na atual Argélia. Educou-se em Cartago, onde se tornou professor de retórica. Mudou-se para Roma e, depois, para Milão. Durante esse período, mostrou grande inquietação intelectual: leu Cícero e uma versão latina de Categorias, de Aristóteles. Em seguida aderiu ao maniqueísmo, seita fundada pelo sábio persa Mani (c. 215-276), baseada na crença de dois princípios absolutos que regeriam o mundo: o Bem e o Mal.

Mais tarde, desiludido com os maniqueus, conheceu as concepções da Academia platônica, tomadas por um profundo ceticismo. Leu também PIotino, mas a influên­cia decisiva veio de Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão, que indicaria a Agostinho o caminho da fé. Por fim, converteu-se em 386.

Retirou-se para sua terra natal e escreveu obras como Contra os Acadêmicos, Da Ordem e De Magistro. Ordenado padre de Hipona (na atual Argélia), e, em 395, tornado bispo da cidade, passou a dedicar-se ao sacerdócio, mas não parou de escrever. Confissões, Da Trindade e A Cidade de Deus são desse período. Ele morreu em 430, com Hipona cercada por vândalos, um povo germano, que, junto com outros povos ditos "bárbaros", aniquilava o Império Romano .

Os séculos IV e V, em que Agostinho vive, são uma época em que a filosofia, talvez com exceção do neopla­tonismo de PIotino, perdeu a confiança na razão. Mergu­lhada no ceticismo, ela duvida da possibilidade do co­nhecimento da verdade. Cabe então a Agostinho restau­rar a certeza da razão, e isso, paradoxalmente, por meio da fé. Para ele, o conhecimento da verdade é um fato, como provam as demonstrações matemáticas e lógicas, irrefutáveis. Resta então saber como tal conhecimento é possível, qual o seu aval.

O homem e seu intelecto, mutáveis e perecíveis, não podem ser os avalistas do conhecimento, pois a verdade deve ser eterna. Assim, a verdade só pode ser assegura­da por algo que se coloque acima dos homens e das coi­sas: Deus. Se a razão, na busca de sua certeza, depara com a fé em Deus, é também a fé que permite resgatar a digni­dade da razão: "Compreender para crer, crer para com­preender", escreve ele.

Agostinho situa-se na passagem do mundo greco-ro­mano para a Idade Média, cujo valor preponderante é o cristianismo. De certo modo, ele próprio representa essa passagem: nutriu-se dos resquícios da cultura helenística para depois converter-se à fé cristã. Ao romper com o passado, introduzindo uma noção de Deus alheia à filo­sofia de até então, Agostinho o faz de um modo que ca­racteriza uma certa continuidade da tradição filosófica.

A rigor, essa continuidade é a confiança na razão, sem o que a filosofia nem sequer existiria. Ao contrário de alguns representantes da filosofia patrística - como Tertuliano (c. 155-220), célebre pela fórmula "creio porque  é absurdo, a ele atribuída - , Agostinho esforça-se por reabilitar a razão diante da fé. Ela serviria ao menos (mas não só isso) Para demonstrar a necessidade do credo.

          A continuidade também se manifesta nos temas que Agostinho aborda: o universo e o princípio que o gover­na, a questão da possibilidade do conhecimento/a ética e a política - mas revestidos da ideologia cristã. Por exemplo, ele concorda com a Academia platônica de sua época, para a qual nada há de comum entre as coisas e as palavras que as designam, mas disso não conclui que o conhecimento só pode chegar ao provável. Traduzin­do a idéia estóica de que tudo participa do logos, que é corpóreo, Agostinho afirma que o conhecimento é dado pela presença íntima, em cada homem, do Verbo feito carne (Cristo), cuja verdade e certeza o ser humano ex­pressa por meio das palavras.

As cidades, dos homens e de Deus

Para Agostinho, Deus, como o Uno de PIotino é o transcendente absoluto, indizível pois nada se compara à sua divina perfeição. Por isso, sua teologia (conhecimen­to a respeito de Deus) é de caráter muito mais negativo do que ,afirmativo: "Se não podeis" escreve, "compreen­der agora o que Deus é,compreendei ao menos o que Ele.

Insondável acima da razão humana, Deus é único mas também três: Pai é a essência divina indizível; Fi­lho é o Verbo e o Logos; Espírito Santo é o Amor divino que cria tudo o que existe. A Trindade assemelha-se, em parte, às três hipóstases idealizadas por Plotino: o pró­prio Uno, que é absolutamente transcendente; a Inteligência que torna inteligíveis as coisas; e a Alma, que dá vida aos seres.

Feito à imagem e semelhança de Deus, o homem re­produz nele mesmo a Trindade: a existência (Pai), o co­nhecimento (Filho) e a vontade (Espírito Santo). A ordem do universo também é análoga à Santíssima Trindade e manifesta-se de vários modos, sempre em tríades. O mundo, por exemplo, constitui-se de coisas inanimadas,seres vivos e seres inteligentes, que são os homens, por sua vez dotados de corpo, alma e espírito, e assim por diante. A ordem do mundo é bela e boa, pois é criação de Deus. Isso significa que o mal propriamente não exis­te: é apenas o afastamento em relação a Deus, o que no homem se manifesta como pecado.

O pecado é a subversão da bela e boa ordem criada por Deus, e aparece, por exemplo, quando a alma se torna serva do corpo. O livre-arbítrio, a vontade humana é im­potente para buscar a salvação. O próprio Agostinho ser­ve como testemunha disso, pois, como narra em Confissões, não conseguia fugir do pecado, a salvação só lhe veio quando Deus assim quis. Era um eleito, predestina­do pela Vontade divina. Nesse sentido, para Agostinho, a bondade e a caridade não são meios de salvação, pois tais atos são resultado da eleição divina. Nesse aspecto, o pensamento agostiniano é radicalmente contrário à tra­dição filosófica, que via na salvação (ou na felicidade) o resultado do esforço do homem, pela filosofia. O Deus dos filósofos não é o Deus cristão, e, se Agostinho per­corre os caminhos da filosofia/ é para reafirmar com maior vigor sua fé na onipotência de Deus.

A história da humanidade é a história do pecado do homem, por livre-arbítrio, e a salvação de alguns predes­tinados, pela graça divina. Os que pecam formam a cida­de terrestre, que é o mundo dos homens. Essa cidade não é necessariamente má, mas, governada pela vontade hu­mana, tende para o pecado e é de tempos em tempos  castigada por Deus – como foi o caso, por exemplo, do Dilúvio universal. Por outro lado, porém, em meio aos homens ergue-se aos poucos, mas de modo firme, a cidade de Deus, cons­truída pelos predestinados. Agostinho propõe assim uma filosofia da história: a finalidade da história, que coinci­de com o seu fim, é a vitória definitiva da Cidade de Deus, com o retorno do Messias e o Juízo Final.


TEXTO 05 : SÃO TOMAS: UM CAMINHO ATÉ DEUS

Quem analisa as provas da existência de Deus elabo­radas por Santo Tomás de Aquino tem a impressão de estar diante de um pensador extremamente racionalista. Ledo engano. Ele é, acima de tudo, teólogo e religioso, para quem a filosofia deve servir à fé. Não no sentido de auxilia-la, mas de submeter-se a ela. Para Tomás, quan­do a fé e a razão entram em desacordo, é sempre esta que se equivoca. A Igreja soube reconhecer essa intransigen­te defesa: em 1323, Tomás de Aquino foi canonizado e, no século XIX, seu pensamento assumiu a condição de doutrina oficial do catolicismo.

Para ele, não há conflito entre fé e razão - a tal ponto que lhe é possível demonstrar a existência de Deus. Re­cusa a solução apressada de Santo Anselmo, para quem Deus, sendo perfeito, deveria ter como um de seus atri­butos perfeitos o da existência. Segundo Tomás de Aquino, definir Deus como ser perfeito ainda não impli­ca sua existência. A definição é uma ideia, e nada garan­te que uma ideia possa existir na realidade.

O ponto de partida, então, é o mundo sensível, percebi­do pelos sentidos. Estes indicam que o mundo é dotado de movimento. Mas, segundo Aristóteles, nada se move por si. A causa do movimento deve ser causada e, se não se quiser estender a série das causas ao infinito (o que não explicaria o movimento presente), é preciso admitir uma causa absolutamente imóvel e primeira: Deus. O mesmo raciocínio vale para a causa em geral. As coisas são ou cau­sa ou efeito de outras, não sendo possível ser causa e efei­to ao mesmo tempo. Deve haver, então, ou uma sucessão infinita de causas - o que é absurdo -, ou uma causa absolutamente primeira e não causada.

Os dados dos sentidos também mostram que as coisas existem e perecem. Isso significa que a existência não lhes é necessária, essencial mas apenas uma possibilidade contingente. Por isso, a existência depende de uma cau­sa, exatamente aquela que tenha a existência como essên­cia, uma existência necessária.

Além disso, o mundo apresenta uma série de seres me­nos ou mais perfeitos e que são comparados entre si de maneira relativa. Mas como saber o que é mais perfeito do que outro se não houver um padrão a partir do qual se possa medir os graus de perfeição? A hierarquia das coisas relativas depende então de um ser que seja a me­dida absoluta e eterna da perfeição.

Por fim, essa hierarquia apresenta-se como uma ordem, em que cada ser cumpre sua finalidade: os seres vivos reproduzem-se constantemente, e os corpos sempre bus­cam o seu lugar natural, mesmo que disso não tenham conhecimento. Se a finalidade de cada ser é assim atingi­da, mesmo que inconscientemente, deve haver uma In­teligência que conheça e organize o mundo de acordo com

sua finalidade.

Desse modo, a razão, por vários meios, atinge o conhecimento da existência de Deus. A razão que demonstra e a fé que revela estão, por isso, em acordo, sem que entre elas haja contradição. Ambas são modos diferentes pelos quais se manifesta a mesma e única Verdade.

O homem, dono de seus atos

Tomás de Aquino concorda com Aristóteles, segundo o qual o conhecimento racional provém inicialmente dos sentidos. Da sensação, o intelecto abstrai a individuali­dade das coisas, depurando-lhe a matéria. O resultado são as formas.

Para explicar a realização dessa operação, Tomás de Aquino, retomando a versão árabe do aristotelismo, distingue dois tipos de intelecto. O intelecto possível recebe dos sentidos as imagens das formas, que ainda se encon­tram como potência. Sua passagem ao ato supõe uma causa: é o intelecto agente, responsável pelo conhecimento efetivo das formas, atualizando o que no intelecto possí­vel só existia como potência.

A distinção desses dois intelectos não obedece apenas ao estilo de Aristóteles. Na realidade, ela é necessária do ponto de vista teológico. Se só Deus é ato puro, o intelec­to humano, para não se equiparar a ele, não pode ser somente ato, mas também a imperfeição da potência.

O mesmo motivo teológico está na base de uma sutil discussão sobre se o intelecto agente é o mesmo em to­dos os homens. Para Avicena, cada homem tem o inte­lecto possível na alma, mas o intelecto agente (ou Inteli­gência) lhe é transcendente. Averróis - ou a interpreta­ção que dele fazem seus numerosos adeptos - vai além: tanto um intelecto como outro são únicos e estão separa­dos da alma humana.

Santo Tomás, no entanto, não pode aceitar isso. Cada homem deve possuir um intelecto agente e um intelecto possível, que constituem a sua alma individual, a forma de seu corpo. Essa noção é necessária, pois só por ela se justifica o dogma cristão da imortalidade da alma de cada indivíduo. Além disso, só a, individualidade da alma faz conceber o homem como dono de seus próprios atos, isto é, o único responsável pelo pecado. Sem essa responsa­bilidade individual, não haveria a moral e muito menos a religião.

Embora tenha aceitado diversos aspectos do pensamen­to de Averróis, Santo Tomás dele diverge em questões que possam comprometer a doutrina cristã. Nesse senti­do, torna-se crucial o tema do intelecto não separado do homem e da individualidade da alma.

A ESCOlÁSTICA CHEGA AO FIM
É com Santo Tomás que a Escolástica conhece o apo­geu. As universidades fervilham com discussões acalo­radas. Mas esse quadro, que à primeira vista pode pare­cer animador, dá-se exatamente em meio às crises que levariam ao fim da Idade Média.

O Sacro Império Romano-Germânico está praticamente destruído. Por toda parte, as cidades organizam-se de ma­neira autônoma. As monarquias, como a França e a Ingla­terra, passam a constituir Estados nacionais centralizados. Os constantes conflitos entre o imperador e o papado, que se organiza como um verdadeiro Estado monárquico supranacional, também enfraquecem o Império.

O papado, na verdade, começa a disputar a hegemo­nia com os monarcas. Em 1309, sob a intervenção do rei da França, a sede do papado é transferida de Roma à ci­dade francesa de Avignon, e lá permanece até 1377. A isso logo se segue o cisma do Ocidente, isto é, o surgimento de dois papas, um em Roma e outro em A vignon, aos quais se somaria um terceiro. A reunificação só ocorre no Concílio de Constança (1414-1418), mas, dessa vez, o papa vê seus poderes reduzidos frente ao colégio dos bispos. A cristandade desagrega-se, e a Igreja deixa de ser a au­toridade incontestável.

Esses conflitos manifestam-se também nas universida­des, onde ingressam, sob a autorização do papa, as cha­madas ordens mendicantes, isto é, os franciscanos e os dominicanos. A Ordem dos Franciscanos desenvolveu­-se no século XIII, mesmo a contragosto de seu fundador, São Francisco de Assis (1182-1228), para quem a Igreja deveria retomar a simplicidade e a humildade dos tem­pos iniciais. Na mesma época, surge a Ordem dos Dominicanos, fundada por São Domingos (c.1170-1221) com objetivo de defender a ortodoxia contra as heresias.

O ingresso dessas ordens nas universidades represen­ta a retomada de controle pelo papado, a fim de salva­guardar a ortodoxia contra os “dialéticosfl. É nesse senti­do que devem ser entendidos os ataques de Santo Tomás, um dominicano, aos averroÍstas. Mas o aristotelismo de Santo Tomás também é suspeito, e a ele se opõe o franciscano São Boaventura, que igualmente combate os mestres  dialéticos".

 

ESTUDO DIRIGIDO - FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA 1º SÉRIE


PROF- DENYS F. DA COSTA

DISCIPLINA – FILOSOFIA

NOME-____________________________________________________________________Nº_________

ESTUDO DIRIGIDO  - FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA

PARTE 01 – OBJETIVA  = 1,0

1)      JULGUE  CERTO (C) OU (E) ERRADO, A PARTIR DOS ITENS ABAIXO.

(A)   (    ) Uma  das característica do pensamento Grego, foi a procurar uma solução dos problemas da vida na religião.

(B)   (    )Na Idade Média , as ideias de Platão e Aristóteles são esquecidas.

(C)   (    )O Neoplatonismo é um sistema predominante no período religioso.

(D)   (    )A Patrística não é uma doutrina, mas uma teoria.

(E)    (    )A Patrística surge para conciliar a fé cristã com a razão filosófica.

(F)    (    )Apenas o teor do Evangelho no qual se apoiava a fé cristã não era suficiente para rebater as crítica do paganismo Grego – Romano.

(G)  (    )Uma das teses elaboradas pelos pensadores da patrística , refere-se que a filosofia é boa porque é consentida por Deus.

(H)   (    )Os maiores nomes da Patrística são: Tertuliano e Taciano.

(I)     (    )A patrística é considerada  como a guardiã dos valores espirituais.

(J)     (    )Na escolástica existe uma forte influência do Neoplatonismo e do Aristotelismo

(K)   (    )O pensamento de Stº Agostinho tinha uma grande influência de Plotino.

(L)    (    )Os maiores representantes do pensamento escolástico são . Sócrates e Tomás de Aquino.

(M) (    )As divergências das diversas correntes  da recém formada igreja de cristo , só  oram resolvidas no concílio de Nicéia, que estabeleceu a “ opinião “ correta da doutrina cristã.

(N)  (    )Para Stº Agostinho , Deus é indizível.

(O)  (    )Stº Agostinho discorda de Plotino  ao afirmar que Deus é uno, mas compreendido em uma tríade, Pai, Filho e Espírito.

(P)   (     )A salvação do pecado é um atributo de Deus.

(Q)  (    )Para Tomás de Aquino, a razão impõe-se a fé.

(R)   (    )No século XIX, a doutrina de São Tomás de Aquino tornou-se a oficial do Catolicismo.

(S)    (    )Adaptando o pensamento Aristotélico para a doutrina cristã , Tomás de Aquino , fala que existe apenas uma 1º causa e essa é Deus.

(T)    (     )São Tomás , traz a tona a ideia da alma , a forma de seu corpo.

 

PARTE 02- SUBJETIVA   (1,0)

1)      O  significado do termo Patrística, resume-se apenas em seu conceito genérico que é filosofia Cristã? Comente.

2)      A Escolástica era uma linha a parte da filosofia medieval?  Responda com argumentos.

3)      Em que período de sua formação intelectual, St° agostinho aderira ao maniqueísmo. Assim comente essa doutrina.

4)      Como stº agostinho define o pecado?

5)      Para São Tomás de Aquino , A fé é dogmática (  verdade Incontestável.) Destaque do texto o argumento que comprova  essa ideia.