segunda-feira, 3 de novembro de 2014

TEXTO BASE PARA O ESTUDO DIRIGIDO 3º SÉRIE ( LIBERALISMO)

CENTRO EDUCACIONAL 06 – GAMA/DF
PROFº DENYS F. DA COSTA
DISCIPLINA : FILOSOFIA  -  3º   SÉRIE
TEXTO BASE PARA  ESTUDO DIRIGIDO
Conceito de liberalismo
Afinal, que ideias novas são essas?
Na linguagem comum costumamos chamar de liberal a pessoa tolerante e generosa, tanto no sentido de não controlar gastos como no sentido de não ser autoritária. Chamamos também de liberais os profissionais como médicos, dentistas, advogados quando trabalham por conta própria.
Aqui, no entanto, não nos interessam esses significados da palavra liberal, mas sim os que indicam o conjunto de ideias éticas, políticas e econômicas da burguesia, em oposição à visão de mundo da nobreza feudal.
A burguesia interessava separar Estado e sociedade, entendendo nesta última o conjunto das atividades particulares dos indivíduos, sobretudo as de natureza econômica. Essa separação reduziria igualmente a interferência do privado no público, já que o poder procurava outra fonte de legitimidade diferente da tradição e das linhagens de nobreza.
 Liberalismo: Três aspectos
O liberalismo pode ser entendido sob pelo menos três enfoques: o político, o ético e o econômico.
O liberalismo político constituiu-se contra o absolutismo real e buscou nas teorias contratualistas a legitimação do poder, que não mais se fundava no direito divino dos reis nem na tradição e herança, mas no consentimento dos cidadãos. Decorreu dessa maneira de pensar o aperfeiçoamento das instituições do voto e da representação, a autonomia dos poderes e a limitação do poder central.
O liberalismo ético supõe o prevalecimento do estado de direito, que rejeita o arbítrio, as prisões sem culpa formada, a tortura, as penas cruéis e estimula a tolerância para com as crenças religiosas; para tanto, defende os direitos individuais, como liberdade de pensamento, expressão e religião.
O liberalismo econômico opõe-se inicialmente à intervenção do poder do rei nos negócios, que se exercia por meio de procedimentos típicos da economia mercantilista, tais como a concessão de monopólios e privilégios. A economia liberal consolidou-se com o escocês Adam Smith (1723-1790) e o inglês David Ricardo (1772-1823), que defendiam a propriedade privada dos meios de produção e a economia de mercado baseada na livre iniciativa-e competição.
O liberalismo do século XVIII
O século XVIII destacou-se pelo conjunto de ideias do movimento conhecido como Ilustração, que se espalhou por toda a Europa. A explosão das “luzes” foi preparada nos séculos anteriores com o racionalismo cartesiano, a revolução científica e o processo de laicização da política e da moral. As esperanças depositadas na ciência e na técnica, instrumentos capazes de dominar a natureza, baseavam-se na convicção de que a razão é fonte de progresso material, intelectual e moral, o que leva à crença e à confiança na sua perfectibilidade.
A difusão das ideias iluministas na França foi facilitada pela ampla produção intelectual de intelectuais conhecidos como enciclopedistas. Entre eles, destacamos Montesquieu e Rousseau.
DO liberalismo inglês: o utilitarismo
No século XIX, a Inglaterra constituía o país mais poderoso do mundo, poiso império colonial britânico expandira-se pelos diversos continentes. Vivia-se o apogeu da Revolução Industrial, que criou uma nova ordem, essencialmente moderna, com novos parâmetros económicos e sociais.
O florescimento do capitalismo industrial prometia a era do conforto e do bem-estar. As discrepância entre riqueza e pobreza, entretanto, estavam de ser superadas. Esses fatores explicam as discussões a respeito de reforma social, entre os liberais e de revolução, entre os socialistas.
Foi nesse contexto que se desenvolveu a Teoria utilitarista, com a intenção de estender aquele benefícios a todas as pessoas. Seus principais representantes foram Jeremy Bentham e John Stuart MILL
Jeremy Bentham (1748-1832), na busca por um instrumento de renovação social, criticou as resoluções liberais que levam ao egoísmo e elaborou teoria do utilitarismo. Segundo o “princípio de utilidade’, o único critério para orientar o legislador é cria leis que promovam a felicidade para o maior número de cidadãos.
Para a igualdade ser favorecida, Bentham dize que deviam ser garantidas a subsistência, a abundância  e a segurança, assim como as eleições periódica o sufrágio livre e universal e a liberdade de contrato .
O liberalismo francês
Enquanto na Inglaterra e nos Estados Unidos instituições políticas e sociais  consolidavam os ideais liberais, a França enfrentou no século XIX experiências  difíceis e contraditórias, após a esperança de “liberdade, Igualdade e fraternidade”, representada pela Revolução Francesa:
• o governo jacobino, declaradamente ultrademocrático, radicalizou-se instalando o Terror;
• Napoleão Bonaparte foi coroado imperador;
• com Napoleão III, a França entrou no Segundo Império, distanciando-se cada vez mais dos ideais democráticos.
Era natural que alguns liberais conservadores temessem a tênue separação entre democracia e tirania.
 Hegel: a crítica ao contratualismo
Friedrich Hegel [1770-1831), filósofo alemão, acompanhou apaixonadamente os acontecimentos que marcaram um ponto de ruptura da história: a derrocada do mundo feudal e o fortalecimento da ordem burguesa. É essa a contradição dialética cuja resolução Hegel aponta como a tarefa da Razão.
Para compreendermos, porém, a crítica que Hegel fez às concepções liberais que o antecederam, é preciso nos reportarmos à sua concepção dialética, da qual resultou um novo conceito de história: o presente é retomado como resultado de longo e dramático processo; por isso, a história não é a simples acumulação e justaposição de fatos acontecidos no tempo, mas o fruto de verdadeiro engendramento, de um devir cujo motor interno é a contradição dialética.
 O Estado: síntese final
A concepção de Estado hegeliana nega a tese contratualistas vigente nos dois séculos anteriores porque o indivíduo não escolhe o Estado, mas é por ele constituído, Ou seja, não há como pensar o indivíduo em estado de natureza, porque ele é sempre um indivíduo social.
Segundo a concepção dialética hegeliana, o Estado sintetiza, numa realidade coletiva, a totalidade dos interesses contraditórios entre os indivíduos. Vejamos como ocorrem as contradições:
• a família é a síntese dos interesses contraditórios entre seus membros;
• a sociedade civil é a síntese que supera as divergências entre as diversas famílias Hegel foi o primeiro a usar a expressão “sociedade civil” dando-lhe um sentido novo, que corresponde à esfera intermediária entre a família e o Estado; a sociedade civil é o lugar das atividades econômicas e, portanto, nela prevalecem os interesses privados, sempre antagônicos entre si; por isso é o lugar das diferenças sociais entre ricos e pobres e da rivalidade dos profissionais entre si; conforme o movimento dialético, as esferas da família e da sociedade civil não devem ser entendidas como formas anteriores ou exteriores ao Estado, pois na verdade só existem e se desenvolvem no Estado;
• o Estado representa a unidade final, a síntese mais perfeita que supera as contradições existentes entre o privado e o público e que põem em perigo a coletividade; no Estado, cada um tem a clara consciência de agir em busca do bem coletivo, sendo por excelência a esfera dos interesses públicos e universais.
A importância do Estado na filosofia política de Hegel provocou interpretações diversas, inclusive a de ter sido ele um teórico do absolutismo prussiano, concepção que, em última análise ,justificaria o totalitarismo. Vários filósofos se insurgiram contra essa simplificação deformadora do pensamento hegeliano, desde o próprio Marx até Eric Weil, no século XX.
Hegel exerceu grande influência na política posterior, e seus seguidores dividiram-se em dois grupos opostos, denominados direita e esquerda hegeliana. Entre esses últimos encontram-se Marx e Engels.
 As contradições do século XIX
Em comparação com as teorias liberais dos dois séculos anteriores, os pensadores do século XIX representam um avanço em direção às ideias de liberdade e igualdade.
No entanto, nesse período ainda persisti inúmeras contradições: nem sempre a implantação  das aspirações liberais conciliou os interesses econômicos aos aspectos éticos e intelectuais permaneceram sem solução questões econômicas e sociais que afligiam a crescente massa de operários nos grandes centros da Europa — pobreza jornada de trabalho de 14 a 16 horas, mão de  obra mal remunerada de mulheres e crianças.
Além disso, a expansão do capitalismo estimulou ideias imperialistas que justificaram a colonização por essa razão, os países europeus “democráticos não abriram mão do controle econômico e político  sobre suas colônias. O próprio John Stuart Mill argumentava que a ideia de governo democrático ajustava apenas aos hábitos dos povos avançados sobretudo dos brancos.


 O liberalismo contemporâneo
O século XX viveu a contradição dos ideais  liberdade em confronto com duas guerras mundiais, o horror dos campos de concentração nazistas stalinistas, a explosão das bombas atômicas no Japão os atos terroristas das mais diversas orientações líticas e religiosas. A crescente globalização acelerou os movimentos migratórios dos países pobres mais ricos, acirrando os sentimentos de xenofobia.
Vejamos como a teoria liberal assumiu posições diferentes, conforme sua orientação se inclinasse mais para a defesa das liberdades ou para a igualdade de oportunidades.
 Liberalismo social
Um dos ideais do liberalismo clássico é o Ideia do não intervencionismo, que deixa o mercado livre para sua auto regulação. Trata-se do Estado minimalista no qual prevalecem as leis do livre mercado .No entanto, no século XX surgiram tendências que podemos chamar de liberalismo de esquerdo, socialismo liberal ou liberal-socialismo, o que pode parece- uma extravagância pela ambiguidade de sentido ao unir conceitos contraditórios, inconciliáveis: o livre mercado e o controle estatal da economia.
As extremas desigualdades sociais, no entanto levaram alguns a admitir que a ênfase na economia livre deveria ser atenuada, a fim de possibilitar igualdade de oportunidades e auxiliar no crescimento da individualidade.

Acontecimentos históricos apressaram a reformulação dos princípios do liberalismo. Após a quebra da Bolsa de Nova York em 1929, a década de 1930 foi marcada pela depressão econômica: falências. desemprego e inflação geraram graves tensões sociais. A crise de modelo capitalista desencadeou a experiência totalitária na Alemanha e na Itália . Já a Inglaterra e os Estados  Unidos  buscaram soluções diferentes que pudessem evitar tanto o perigo do nazismo como a tentação do comunismo. As novas medidas  tomadas encaminharam o liberalismo social em que é revisto o papel do Estado na economia.

TEXTO BASE PARA AVALIAÇÃO ORAL 3º SÉRIE

CENTRO EDUCACIONAL 06 – GAMA/DF
PROFº DENYS F. DA COSTA
DISCIPLINA : FILOSOFIA  -  3º SÉRIE
TEXTO BASE PARA AVALIAÇÃO ORAL
O ESTADO COMO CONTRATO SOCIAL
Uma das novas ideias políticas surgidas no século XVII foi que a sociedade e sua estruturação política, o Estado, são criações humanas, e não fenômenos da própria natureza, como pensava Aristóteles. Haveria, de acordo com essa ideia, um “contrato” para organizar a sociedade.
O pacto e a instituição da sociedade
Segundo a noção de contrato social, a sociedade foi instituída pelos seres humanos por meio de um pacto coletivo — um contrato —, com um contrato - , no qual os indivíduos convivem, O contrato estabelece regras e leis, assim como um poder que organiza a coletividade e atua como árbitro nas disputas entre seus membros. As filosofias baseadas nessa teia ficaram conhecidas como contratualismo ou jusnaturalismo.
O primeiro grande filósofo contratualista foi Thomas Hobbes. Preocupado com a situação política da Inglaterra, agitada pela disputa entre os defensores da monarquia e os que desejavam instituir uma república, ele escreveu duas obras políticas: Sobre o cidadão (1642) e Leviatã (1651). Nelas, Hobbes defende um governo monárquico e absolutista, e em meio a sua argumentação desenvolve a ideia de contrato social.
Hobbes se afasta de Aristóteles, para quem os seres humanos seriam naturalmente sociais. Segundo Hobbes, a natureza humana é individualista e egoísta, e os seres humanos não viveram sempre em comunidade. Se resolveram viver em agrupamentos sociais organizados, foi simplesmente para garantir a sobrevivência. Antes dessa organização, segundo parte dos contratualistas, os seres humanos viviam em um “estado de natureza”, ou seja, de modo primitivo. No caso de Hobbes, esse estado é apresentado como uma guerra constante de todos contra todos, o que o levou a dizer que “o homem é o lobo do homem”.
Cada um queria impor sua vontade, e todos desejavam acumular Bens. Como não existia uma regulamentação sobre o direito de propriedade, vencia o mais forte, seja no sentido físico ou intelectual. Ninguém se sentia seguro, era preciso estar sempre em vigília. Portanto, ainda segundo os filósofos contratualistas, os indivíduos se cansaram de viver dessa forma.
Segundo Hobbes, o pacto social foi feito para selar a paz entre as pessoas, garantindo a cada indivíduo o direito de viver e acumular bens, sem o medo constante de ser roubado ou assassinado. E o pacto seria justamente a abdicação da liberdade natural de cada um em nome da segurança de todos. Os indivíduos se reúnem e pactuam que dali por diante viverão todos sob as ordens de um único chefe, que tem a responsabilidade de garantir a segurança de todos. Para isso ele cria leis que regulamentam a vida naquela comunidade e servirão para arbitrar disputas entre membros do grupo.
De acordo com Hobbes, antes do contrato social não há povo, há uma multidão, que não é um corpo político, pois não tem uma unidade. É o pacto coletivo que transforma a multidão em povo, em uma unidade política em torno de um projeto comum: a garantia da sobrevivência e do direito de propriedade. Para esse filósofo, uma vez feito o contrato os indivíduos já não podem desistir dele, exceto se o soberano já não for capaz de garantir a segurança e a vida de todos, pois foi em nome disso que se realizou o pacto.
As ideias políticas de Hobbes estão presentes nas monarquias absolutistas europeias dos séculos XVII e XVIII. Entretanto, a situação política da Inglaterra e depois de toda a Europa tendeu para uma política liberal, que contribuiria para formar monarquias constitucionais, Estados republicanos e democráticos. No plano do pensamento político, sua ideia de contrato social teve vida mais longa e serviu de matriz para outras teorias políticas.
O pacto e o direito à propriedade
Assim como Hobbes, o médico, filósofo e político John Locke se apoiou nas ideias de estado de natureza e contrato social para construir sua filosofia política. Locke defendia uma monarquia parlamentarista, na qual o poder estaria no Parlamento, nos representantes da população, e não,o na realeza. Esse sistema foi instaurado com a Revolução de 1689, sendo John Locke um dos que contribuíram com sua fundamentação teórica.
Como você já estudou, embora tenha sido influenciado por Descartes, Locke discordava da existência de ideias inatas. Discordava igualmente da existência de um poder inato ou de origem divina. Para ele, todo poder vem do povo. A teoria de Hobbes ajudou-o a desenvolver essa ideia, mas, contrariamente a Hobbes, Locke não via nesse estado uma guerra permanente. Segundo Locke, o fato de os homens viverem na mais absoluta liberdade não implica que vivessem sem leis. No estado de natureza os homens seriam governados pela lei natural da razão, sendo seu princípio básico a preservação da vida. Portanto, as pessoas não agrediam nem matavam indistintamente, apenas para impor sua vontade ou tomar a propriedade de alguém.
De acordo com Locke, todo indivíduo já nasce proprietário de seu corpo e de sua capacidade de trabalho. Tudo aquilo que produzir, retirando da natureza ou a transformando, por meio de seu próprio trabalho, será de sua propriedade, uma vez que empenhou seu corpo e sua vida nessa tarefa. Portanto, em seu estado natural os seres humanos, além de gozarem da plena e absoluta liberdade, podem ter acesso a propriedades. O que os teria levado, então, a abandonar esse estado, instituindo a sociedade civil?
Com o tempo, o produto do trabalho humano e o acesso à propriedade se tornaram mais complexos. Em determinado momento, passou a ser necessário arbitrar sobre os direitos, devido às disputas que começaram a surgir entre os indivíduos. Se todos são iguais, quem é o verdadeiro proprietário dos produtos do trabalho? Se todos são iguais, quem pode arbitrar as questões para fazer justiça?
Os indivíduos reuniram-se em comunidade, diz Locke, com o objetivo de facilitar o gozo do direito de propriedade que, mesmo possível, era incerto e inseguro quando se vivia em estado natural, Para o filósofo, portanto, o principal objetivo do contrato social é a preservação do direito de propriedade.
O pacto entre os indivíduos institui a sociedade civil e o Estado. Para Hobbes, o contrato é um pacto de submissão que visa a instaurar uma situação contrária àquela que vigorava no estado de natureza, preservando a segurança das vidas humanas; já para Locke o contrato se configura como um pacto de consentimento em que os indivíduos, longe de se submeterem todos a um poder comum, concordam em instituir eis que preservem e garantam tudo aquilo que eles já desfrutavam no estado de natureza. O contrato social é, para Locke, a garantia dos direitos naturais, e não a criação de outros direitos.
Locke exemplifica com um tipo bem corriqueiro de associação civil: o casamento. No casamento, dois indivíduos consentem na união, e só por isso ela é possível. O mesmo se aplica ao Estado.
Sendo fruto do consentimento de todos, a instituição de uma sociedade política não significa uma renúncia à liberdade individual, mas sim a instauração de uma nova forma de liberdade, a liberdade civil, que não se contrapõe à liberdade natural, mas a preserva e a amplia. Os direitos naturais se tornam políticos.
Para Locke, há um pacto de instituição da sociedade e posteriormente a sociedade, assim instituída, define as formas de governo. Como se observa, o contrato social, segundo Locke, não é a transferência do poder de cada um para um soberano. A soberania (o poder) pertence à totalidade do povo. Assim, é esse povo, como corpo político, que pode indicar quem assumirá as funções de administração e de governo. E todo aquele que ocupar esse tipo de função o fará em nome do povo, podendo ser destituído pelo povo quando não corresponder às expectativas.
Locke fala na necessidade de separar e articular os poderes legislativo (que elabora as leis), executivo (que as coloca em prática) e judiciário (que arbitra a prática das leis), para evitar a concentração de poder em uma única pessoa ou grupo. Essa teoria foi consolidada no século seguinte por Montesquieu se tornou elemento fundamental do sistema democrático moderno.
O contrato social como expressão da vontade geral
Talvez você já tenha ouvido a frase: “O homem nasceu livre, e em toda parte vive acorrentado”. Ela abre o livro Do contrato social, de Jean-Jacques Rousseau. Enquanto Hobbes concebia o estado natural como guerra e o estado social como fonte de segurança individual, Rousseau considerava o estado natural como fonte da liberdade e da igualdade. A sociedade política era a fonte da guerra, pois instaurava a desigualdade entre os homens. Nascemos livres na natureza, mas nos aprisionamos pelas convenções sociais, O problema político, para Rousseau, poderia ser enunciado da seguinte maneira: como estabelecer um pacto social que seja garantia da liberdade, e não escravização dos indivíduos?
Em seu Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, Rousseau afirma que o estado de natureza foi a idade ouro”, quando os homens eram todos livres e iguais entre si, autos-suficiente e isolados uns dos outros, vivendo em paz e harmonia. Isso fez  com que se atribuísse a Rousseau a ideia do “bom selvagem” — a crença de que o homem é naturalmente bom, mas se corrompe pela vida em sociedade —, embora ele nunca tenha usado essa expressão. Seu contemporâneo e crítico Voltaire afirmava que, ao ler os textos de Rousseau, ficava-se com vontade de andar de quatro, como os bichos tamanho seu encantamento pelo estado de natureza.
Para Rousseau, a origem da propriedade é também a origem da verdadeira desigualdade. As diferenças naturais não devem ser levadas em conta, segundo ele, mas apenas a desigualdade social, a única desigualdade de fato. A origem da propriedade é também a origem da sociedade, porém não de direito; Rousseau considera que a fundação histórica da sociedade civil está no ato do primeiro ser humano que cercou um terreno e afirmou: “Isto é meu!”, tendo encontrado aceitação por parte de seus semelhantes.
Com a propriedade, inicia-se o processo de acumulação de bens. Surgem  as desigualdades, a escravidão, a ganância e a violência. Rousseau considera que o primeiro contrato social que instituiu o Estado não resulta da ação de todos os indivíduos, como pensavam Locke e Hobbes, mas sim da ação dos indivíduos ricos coagindo os mais pobres, na tentativa de garantir para si as benesses da propriedade, e não tinha por isso uma legitimidade jurídica.

Desse modo, Rousseau antecipa a noção de Estado como instrumento de classe que Karl Marx enunciou no século seguinte. Entretanto, Rousseau  não considera a instituição política como essencialmente nociva destinada a defender interesses individuais; a sociedade não contrária ao estado natural, como afirmava Hobbes. O Estado poderia ser organizado de forma a preservar os direitos naturais e a igualdade entre os indivíduos .

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

CENTRO EDUCACIONAL 06 – GAMA /DF
PROF: DENYS FERREIRA DA COSTA
DISCIPLINA: FILOSOFIA
TEXTO BASE PARA O ESTUDO DIRIGIDO      (3º SÉRIE)
ALIENAÇÃO
A PALAVRA ALIENÇÃO VEM DO Latim alienare, “tornar algo alheio a alguém, isto é , tornar algo pertencente a outro” 
Hoje  esse termo é usado em diferentes contextos  com significações distintas :              
Em Direito — designa a transferência da propriedade de um bem a outra pessoa. Nesse sentido, costuma-se dizer que “os bens do devedor foram alienados”;

Em psicologia — refere-se ao estado patológico do indivíduo que se tornou alheio a si próprio, sentindo-se como um estranho, sem contato consigo mesmo ou com o meio social em que vive;
• na linguagem filosófica contemporânea — corresponde ao processo pelo qual os atos de uma pessoa são dirigidos ou influenciados por outros e se transformam em uma força estranha colocada em posição superior e contrária a quem a produziu. Nesta acepção, a palavra deve muito de seu uso a Karl Marx.
O termo alienação foi utilizado inicialmente por Hegel para designar o processo pelo qual os indivíduos colocam suas potencialidades nos objetos por eles criados. Significaria, assim, uma exteriorização da criatividade humana, de sua capacidade de construir obras no mundo. Nesse sentido, o mundo da cultura seria uma alienação do espírito humano, uma criação do indivíduo, que nela se reconheceria.
Diferentemente de Hegel, Marx identificou dois momentos distintos nesse processo de exteriorização da criatividade:
objetivação — primeiro momento, que se refere especificamente à capacidade da pessoa de se objetivar, de se exteriorizar nos objetos e nas coisas que cria, o que é algo próprio do saber-
-fazer humano;
alienação — segundo momento, aquele em que o indivíduo, principalmente no capitalismo, após transferir suas potencialidades para seus produtos, deixa de identificá-los como obra sua, Os produtos “não pertencem” mais a quem os produziu. Com isso, são “estranhos” a ele, seja no plano psicológico, econômico ou social.
Na sociedade contemporânea, o processo de alienação atinge múltiplos campos da vida humana, Impregnando as relações das pessoas com o trabalho, o consumo, o lazer, seus semelhantes e consigo mesmas. Vejamos alguns aspectos dessas relações alienadas, seguindo, em linhas gerais, a análise do psicanalista alemão Erich Fromm [1900-1980] em Psicanálise da sociedade contemporânea p. 128-147).
Trabalho alienado
Nas sociedades atuais observa-se que a produção econômica transformou-se no objetivo imposto às pessoas, isto é, não são as pessoas o objetivo da produção, mas a produção em si. Nas palavras do filósofo francês contemporâneo Luc Eerry (1951)
[...] a economia moderna funciona como a seleção natural em Darwin: de acordo com uma lógica de competição globalizada, uma empresa que não progrida todos os dias é uma empresa simplesmente destinada à morte. Mas o progresso não tem outro fim além de si mesmo, ele não visa a nada além de se manter no páreo com outros concorrentes. ÍFERRY, Aprender a viver — filosofia para os novos tempos, p. 247.]
Essa mentalidade desenvolveu-se desde o século XVII], quando teve início a industrialização da economia. Esse processo significou não apenas a introdução de máquinas na produção econômica, mas também estabeleceu novas formas de organizar o trabalho seguindo a Lógica de lucro, de tal maneira que as relações sociais passaram a ser regidas pela economia, e não o contrário. Essa tendência acentuou-se a partir do século XIX, quando o trabalho na maioria das indústrias tornou-se cada vez mais rotineiro, mecânico, automatizado e especializado, subdividido em múltiplas operações. Os empresários industriais visavam, com isso, economizar tempo e aumentara produtividade.
Como exemplificou o economista escocês Adam Smith 1723-17901, na fabricação de alfinetes, um operário puxava o arame, outro o endireitava, um terceiro o cortava, um quarto o afiava, um quinto o esmerilhava na outra extremidade para a colocação da cabeça, um sexto colocava a cabeça e um sétimo dava o polimento final.
Essa forma de organização do trabalho em linhas de operação e montagem) foi, posteriormente, aperfeiçoada pelo engenheiro e economista estadunidense Frederick Taylor [1856-1915], cujo método ficou conhecido como taylorismo. A principal consequência do taylorismo é que a fragmentação do trabalho conduz a uma fragmentação do saber, pois o trabalhador perde a noção de conjunto do processo produtivo.
Essa forma de organização do trabalho — que conduz ao trabalho alienado — ainda pode ser observada em muitas empresas, onde o funcionário se restringe ao cumprimento de ordens relativas à qualidade e à quantidade da produção. Sempre repetindo as mesmas operações mecânicas, ele produz bens estranhos à sua pessoa, a seus desejos e suas necessidades.
Além disso, ao executar a rotina. do trabalho alienado, o trabalhador submete-se a um sistema  que, em grande parte, não Lhe permite desfrutar financeiramente dos benefícios de sua própria atividade, pois a meta é produzir para satisfazer as necessidades do mercado e não propriamente do trabalhador Fabricam-se, por exemplo, coisas maravilhosas para uma elite econômica, enquanto aqueles que as produzem mantêm-se modesta ou miseravelmente. Produz-se “inteligência”, mas também a estupidez e o bitolamento nos trabalhadores.
Enfim, o trabalho alienado costuma ser marcado pelo desprazer, pelo embrutecimento e pela exploração do trabalhador Vejamos como Marx, em Manuscritos econômico-filosóficos, descreveu esse processo:
Primeiramente, o trabalho alienado se apresenta como algo externo ao trabalhador, algo que não faz parte de sua personalidade. Assim, o trabalhador não se realiza em seu trabalho, mas nega-se a si mesmo. Permanece no Local de trabalho com uma sensação de sofrimento em vez de bem-estar, com um sentimento de bloqueio de suas energias físicas e mentais que provoca cansaço físico e depressão. Nessa situação, o trabalhador sé se sente feliz em seus dias de folga enquanto no trabalho permanece aborrecido. Seu trabalho não é voluntário, mas imposto e forçado.
O caráter alienado desse trabalho é facilmente atestado pelo fato de ser evitado como uma praga; só é realizado à base de imposição. Afinal, o trabalho alienado é um trabalho de sacrifício, de mortificação. E um trabalho que não pertence ao trabalhador mas sim à outra pessoa que dirige a produção. [Primeiro manuscrito, XXIII. o • Mercado de personalidades
Atingido  pela alienação, o ser humano perde contato com seu eu genuíno, com sua individualidade. Transformado em mercadoria, como observou Fromm, o trabalhador sente-se como uma coisa” que precisa alcançar sucesso no mercado de personalidades” — sucesso financeiro, profissional, intelectual, social, sexual, político, esportivo etc, O tipo de sucesso perseguido depende do mercado no qual a pessoa quer “vender” sua personalidade.
Como o homem moderno se sente ao mesmo tempo como o vendedor e a mercadoria a ser vendida no mercado, sua autoestima depende de condições que escapam a seu controle. Se ele tiver sucesso, será “valioso”; se não, imprestável. O grau de insegurança daí resultante dificilmente poderá ser exagerado. [FROMM, Análise do homem, p. 73.]
Dominado por essa orientação mercantil alienante, conforme definição de Fromm, o indivíduo não mais se identifica com o que é, sabe ou faz. Para ele, não conta sua realização íntima e pessoal apenas o sucesso em vender socialmente suas qualidades.
Tanto suas torças quanto o que elas criam se afastam, tornam-se algo diferente de si, algo para os outros julgarem e usarem; assim, sua sensação de identidade torna-se tão frágil quanto sua auto- estima, sendo constituída do total de papéis que ele pode desempenhar: “Eu sou como você quer que eu seja”. (Análise do homem, p. 74.]
As relações sociais também ficam seriamente comprometidas. Cada pessoa vê a outra segundo critérios e valores definidos pelo ‘mercado de personalidades”. O outro passa a valer também como um objeto, uma mercadoria.
Um dos princípios que orientam as relações alienadas nas sociedades contemporâneas pode ser traduzido nestas palavras: ‘Não se envolva com a vida interior de ninguém”. Esse não envolvimento pode Levar a situações extremas de ausência de solidariedade social.
Consumo alienado
Como podemos definir o termo consumo? Consumir significa utilizar, gastar, dar fim a algo, para alcançar determinado objetivo O ser humano necessita de objetos exteriores para a sua sobrevivência e realização. Por isso, os indivíduos produzem, em sociedade, os objetos para seu consumo.
E o que seria consumo alienado? Antes de refletirmos sobre esse conceito, consideremos o brutal abismo socioeconômico que separa ricos e pobres no mundo inteiro.
Os 2,5 bilhões de indivíduos mais pobres — ou seja, 40% da população mundial — detêm 5% da renda global, ao passo que os 10% mais ricos controlam ’54%. Um a cada dois indivíduos vive com menos de 2 dólares por dia (patamar de pobreza e um a cada cinco, com menos de 1 dólar por dia (patamar de pobreza absoluta]. Essa informação nos mostra que, enquanto boa parte da humanidade enfrenta o drama agudo da fome, da falta de moradia, do desamparo à saúde e à educação, sem o mínimo necessário para sobreviver, uma minoria pode se dar o luxo de consumir quase tudo e esbanjar o supérfluo.
‘E aí que entra, como veremos, o conceito de consumo alienado, fenômeno que ocorre principalmente entre a parcela da população de bom poder aquisitivo, já que não tem muito sentido falarmos em consumo alienado entre a multidão de famintos, esmagada pela miséria.
Relação produção-consumo
Karl Marx observou que produção é ao mesmo tempo consumo, pois quando o trabalhador produz algo, além de consumir matéria-prima e os próprios instrumentos de produção, que se desgastam ao serem utilizados, ele também consome suas forças vitais nesse trabalho.
Por outro lado, completa Marx, consumo é também produção, pois os homens se produzem através do consumo. Isso se verifica de forma mais imediata na nutrição, processo vital pelo qual consumimos alimentos para ‘produzir” nosso corpo. Porém, o consumo nos produz não apenas no plano físico, mas também nos aspectos intelectual e emocional, como ser total.
Há, portanto, uma relação dialética entre consumo e produção. Isso fica ainda mais evidente quando se considera que a produção cria não só bens materiais e não materiais, mas também o consumidor para esses bens. Ou seja, quando se produz algo, é preciso que alguém consuma essa produção. Temos, então, a tríade produção-consumo-consumidor. Por isso, a publicidade (divulgação de produtos nas diversas mídias, como jornal, TV, internet, volantes etc.] é elemento fundamental das sociedades capitalistas, uma vez que é por meio dela que se impulsiona nos indivíduos a necessidade de consumir mercadorias. E aí começa uma ‘roda-viva”: a produção abre a possibilidade do consumo, o consumo cria a necessidade de mais produção, e assim por diante. Essa dupla criação de necessidades (a produção criando o consumo e o consumo criando a produção] gera a ‘reprodução” do sistema capitalista. quer dizer que o circuito produção-consumo não visa atender prioritariamente às necessidades das pessoas, mas sim às necessidades internas do sistema capitalista, em busca permanente de lucratividade, o que leva à mercantilização de todas as coisas.
Nesse sistema, como aponta o sociólogo contemporâneo Immanuel Wallerstein (1930-] em O capitalismo histórico, há algo de absurdo na “lógica capitalista”:
1...] acumula-se capital a fim de se acumular mais capital. Os capitalistas são como camundongos numa roda, correndo sempre mais depressa a fim de correrem ainda mais depressa. Nesse processo, algumas pessoas sem dúvida vivem bem, mas outras vivem miseravelmente, e mesmo as que vivem bem pagam um preço por isso. (p. 34.]
De forma aparentemente contraditória, esses dois aspectos — a exclusão da maior parte das pessoas da possibilidade de consumir e a permanente busca por mais lucro — estão entrelaçados a tal ponto que o filósofo francês Jean Baudrillard (1929-2007] considera que a lógica do consumo no mundo capitalista se baseia exatamente na impossibilidade de que todos consumam.
De acordo com sua análise, o consumo funciona como uma forma de afirmar a diferença de status entre os indivíduos. Veja um exemplo simples:
o fato de que alguém possua um automóvel de luxo só tem sentido se poucos indivíduos puderem tê-lo. Assim, o objeto adquirido funciona como um signo de status. Nas palavras do filósofo, ‘o prazer de mudar de vestuário, de objetos, de carro, vem sancionar psicologicamente constrangimentos de diferenciação social e de prestígio” (Para uma crítica da economia política do signo, p, 38].
A propaganda trata de assegurar essa distinção ao associar marcas e grifes a comportamentos e padrões inacessíveis à maioria da população e, mais que isso, impossíveis de ser alcançados em escala mundial, devido ao impacto que isso significaria em termos do meio ambiente. Essa impossibilidade é, evidentemente, escamoteada, pois não interessa que as pessoas tenham essa informação,

 Neoflismo
Nesse tipo de consumo alienado, movido pelo desejo do consumidor de sentir-se uma ‘exceção” em meio à multidão, ocorre algo como se a posse de um objeto satisfizesse a perda da própria identidade.
As empresas e seus departamentos de marketing sabem disso e se empenham em colocar no mercado produtos que se sucedem com uma rapidez impressionante, os quais são consumidos zelos indivíduos como forma de compensar essa 1 satisfação que sentem em relação a si próprios. tso se traduz na busca ansiosa por adquirir o que se deseja, ignorando-se a possibilidade de desejar c que já se adquiriu
Em outras palavras, o consumidor alienado age como se a felicidade consistisse apenas em uma cestão de poder sobre as coisas, ignorando o prazer obtido com aquilo que verdadeiramente ama. Como afirmou o filósofo alemão Max Horkheimer 11885_1973], “quanto mais intensa é a preocupação do indivíduo com o poder sobre as coisas, mais as coisas o dominarão, mais lhe faltarão os traços individuais genuínos” Eclipse da razão, p. 1411.
Assim, no consumo alienado não existe uma relação direta e real entre o consumidor e o verdadeiro prazer da coisa conquistada, pois o consumo transforma-se em ato obsessivo movido pelo apetite de novidade e de distinção social. E esse desesperado neofilismo [amor obsessivo pelas novidades] afeta praticamente todas as relações de que o ser humano é capaz com o mundo exterior.
Evidentemente, o neofilismo desenfreado corresponde aos interesses dos grandes produtores econômicos. Produzir objetos que logo se tornam obsoletos é um princípio fundamental da economia capitalista.
Escapar a essa armadilha do consumo não é um problema a ser resolvido apenas pela consciência e pela vontade individuais. E uma tarefa ampla que envolve a transformação dos valores dominantes em toda a sociedade. A indústria cultural e de diversão vende peças de teatro, filmes, livros, shows, jornais e revistas como qualquer outra mercadoria. E o consumidor alienado compra seu lazer da mesma maneira como compra sua pasta dental ou seu xampu. Consome os “filmes da moda” e frequenta os ‘lugares badalados”, sem um envolvimento autêntico com o que faz.
Agindo desse modo, muitos se esforçam e até pensam que estão se divertindo, querem acreditar que estão se divertindo. No entanto, “através da máscara da alegria se esconde uma crescente incapacidade para o verdadeiro prazer” [Lobsenz, citado em LOWEN, Prazer, p. 13-14].
Isso quer dizer que a lógica capitalista afeta até mesmo a relação do indivíduo com as obras de arte. Reduzidas ao nível de mercadorias, elas passam a obedecer à lei da oferta e da procura. Tornam-se puros “negócios” fabricados pela indústria cultural, expressão criada por I-Horkheimer e Theodor Adorno [1906-19691, pensadores da Escola de Frankfurt.

Assim, o que era fruto da espontaneidade criativa do sujeito — a arte — transforma-se em produção padronizada de objetos de consumo com vistas à obtenção de lucros econômicos.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

TEXTO BASE PARA 1º AVALIAÇÃO DO BIMESTRE 1º ANO

CENTRO EDUCACIONAL 06 – GAMA/DF
DISCIPLINA : FILOSOFIA
PROF: DENYS F. DA COSTA

TEXTO BASE PARA 1º AVALIAÇÃO DO BIMESTRE


A NECESSIDADE DO AMOR
Ao tomar conhecimento de si mesmo como ser capaz de consciência e liberdade, o homem percebeu sua diferença em relação ao restante dos seres vivos. Passou a sentir a solidão que acompanha a individualidade. Ser um, tomar decisões e responder pela vida são fatos que provocam um sentimento doloroso de abandono e desamparo, só superado na relação com o outro. Veja como Erich Fromm descreve esse estado:
“O homem é dotado de razão; é a vida consciente de si mesma; tem consciência de si, de seus semelhantes, de seu passado e das possibilidades de seu futuro. Essa consciência de si mesmo como entidade separada, a consciência de seu próprio o curto período do vida, do fato de haver nascido sem ser por vontade própria e de ter de morrer contra sua vontade, de ter de morrer antes daqueles que ama, ou estes antes dele, a consciência de sua solidão e separação, de sua Impotência ante as forças da natureza e da sociedade, tudo isso faz de sua existência apartada e desunida uma prisão insuportável. Ele ficaria louco se não pudesse libertar-se de tal prisão e alcançar os homens, unir-se do uma forma ou de outra com eles, com o mundo exterior.”
Dessa necessidade de união nasce o amor. O amor é, pois, o meio procurado e desenvolvido pelo homem para vencer o isolamento e escapar da loucura. Sem ele, o homem torna-se árido, incapaz de encantar-se  com a vida e de envolver-se com os outros. Não se sensibiliza com o abandono dos velhos, a morte das crianças , a miséria do povo, a poluição e a destruição do planeta, o roubo da cidadania, a morte dos ideais. Sem amor não há encontro, não há diferença; resta a escuridão do individualismo, do ser incapaz de relação

O QUE É O AMOR

            Muitas pessoas confundem o amor com a paixão. Quando apaixonada, julgam estar amando. O amor , porém, é uma vivência mais ampla, é um modo de ser, de viver, que se conquista gradualmente, é uma vivência mais ampla, é um modo de ser, de viver , que se conquista gradualmente, à  medida que se desenvolve a sensibilidade para com as outras pessoas. È capacidade de descentrar-se, sair de si e ir ao encontro do outro, em uma atitude de zelo e respeito.
            Ser amoroso é uma característica da personalidade e pressupõe toda uma vivência desde o seio materno.
            Amar é preservar a identidade e a diferença do outro, sem perder a sua. É estar comprometido com a realização do outro, sem perder a sua. É estar comprometido com a realização do outro, é querer seu bem.
            O amor é uma força de aproximação, união, envolvimento  e responsabilidade. Ela dinamiza a vida que existe nas pessoas. Derruba  fronteiras, estabelece contatos, partilha.
            A capacidade de amar pode expandir-se e atingir um envolvimento e um compromisso com todos os seres vivos e até mesmo com seres inanimados. Os movimentos ecológicos atestam gestos de amor de pessoas que lutam pela preservação da fauna, da floradas águas e do ar.
            No amor há percepção da inter-relação universal, da fraternidade humana e cósmica.

FORMAS DE AMOR

            O amor é uma vivência que se manifesta de várias maneiras: amor materno, amor paterno, amor pela pátria, amor a si mesmo, amor erótico, amor a Deus, amizade, amor pela natureza, etc. Aqui nos limitaremos a fazer considerações sobre o amor erótico e a amizade.

A AMIZADE.
            A amizade é a forma mais abrangente do amor. É um apelo e uma resposta existencial. Este apelo vai do meu eu ao outro a mim, numa dialética de cumplicidade que compreende sem palavras o que vai no coração de cada um. Os amigos partilham a vida com suas angústia e alegrias, que assinalam a condição humana.
            A empatia é a forma de comunicação que mais caracteriza a amizade. Colocar-se no lugar do outro minimiza os conflitos, os impulsos agressivos, apara aresta, pois na amizade a compreensão é maior que as exigências, as cobranças e as críticas.
            O amor em forma de amizade deveria impregnar todas as relações e estender-se à humanidade como um todo porque os amigos se aceitam em suas limitações.
            Esse amor possibilita a solidariedade e a compaixão, buscando o desenvolvimento integral do homem, sua libertação, sua autonomia. É próprio desse amor não haver denominador nem dominado. Sua principal característica é o compromisso como o outro e , por solidarizar-se com o outro, essa forma de amor possui uma conotação política: não permite a segregação e a discriminação por raça, cor , sexo credo, nacionalidade. É movida pelo desejo da justiça, igualdade de oportunidades e efetivação da dignidade humana: ama a todos sem exclusividade.

            A fraternidade constituiu-se historicamente em um ideal revolucionário ao visar à justiça e à liberdade. É temida por aqueles que fazem da exploração e da alienação os meios de manutenção de seus privilégios. Por isso, a amizade não representa um valor na sociedade neoliberal. Por sua vez, o amor erótico é empobrecido ao se limitado somente ao ato e aos órgãos sexuais.
            São raras as pessoas que percebem a existência dessa dominação subliminar. Percebe-la implica o desenvolvimento do espírito, a educação para a cidadania.

O PROBLEMA DO RÓTULO

            O rótulo é outra dificuldade na convivência humana e afeta as relações homem-mulher.
            Os produtos industriais e comerciais são conhecidos por seus respectivos rótulos. Ora, “rotular uma pessoa”é vê-la  sempre sob um único aspecto: Maria é bonita(não se percebem nela outras qualidades?); José é dominador ( não terá qualidades que se compensem esse defeito?; Luisa é superficial ( por que o é)...
            O rótulo é uma forma de opressão que torna previsível e monótona a relação a dois, impedindo, com isso, a espontaneidade e as possibilidade de crescimento pessoal.
            O processo de rotular ocorrer de forma inconsciente, e a pessoa rotulada tende, também de modo inconsciente, a incorporar o rótulo, inibindo, assim, suas potencialidades.
Superar esse processo constitui o princípio do autoconhecimento, que devolve à pessoa a liberdade de ser ela mesma.

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O MICROCOSMO DO AMOR A RELAÇÃO HOMEM-MULHER
O AMOR É SUPLEMENTAR

Em tudo o que se observa na natureza, pecebe-se forças de atração e repulsão. No átomo, por exemplo, a força de atração o mantém em permanente movimento em direção a outro átomo, na busca eterna de novas combinações moleculares.
            Nas plantas,, a força atrativa explode nas cores e perfumes das flores, preparando-se para a geração dos frutos e sementes.
            Entre os animais, essa força se expressa em rituais, danças e disputas que culminam no acasalamento. No animal, a função sexual é instintiva; no homem ela se transforma em erotismo. Um exemplo notável dessa transformação encontra-se no filme A guerra do fogo. Em determinado momento, o hominídeo, que tomava sua fêmea em um ritual ainda animal, é surpreendido por ela: ao girar sobre si mesma, coloca-se numa nova  posição, face com seu parceiro, fitando-o nos olhos. No filme, esse gesto simboliza o primeiro passo para a humanização da relação homem-mulher. Representa a abandono da genialidade, do puro instinto, e a conquista da sexualidade erótica., do puro instinto, e a conquista da sexualidade. A mulher, com esse gesto, posiciona-se como iguala ao homem, são parceiro, companheiros que se que se enriquecem no convívio mútuo; igualdade humana e diferença de sexo.
            A beleza da relação homem-mulher está no encontro de seres autônomos e independentes. Muitos homens e mulheres, em  função de sua imaturidade, criam relação de dependência e necessidade que fragilizam a união. Um procura no outro e que lhe falta ou o que gostaria de ser, em lugar de desenvolver ao máximo suas próprias potencialidades.
            Homens e mulheres ficam exigentes uns com os outros querem dos companheiros novos papéis e modos de ser, aos quais ainda não estão adaptados culturalmente. Por exemplo: a mulher espera que o homem seja ao mesmo tempo provedor, amigo, amante, que seja sensível, termo como ela e com os filhos, bem-sucedido e agressivo na luta pela vida, pela vida, o homem, por sua vez, espera que a mulher divida com ele as responsabilidades econômicas da família, ao mesmo tempo que sonha com uma parceria disponível, submissa, amante fogosa e esposa recatada.
            A ascensão da mulher com ser autônomo confundiu o homem , provocando insegurança na identidade masculina: estaca acostumado ao poder e à hegemonia, e de repente è solicitado a dividi-los com a mulher. Esta, por sua vez, acostumada à submissão, agora é obrigada a competir  na sua luta por sua sobrevivência.

O OLHAR FILOSÓFICO SOBRE O AMOR
As lendas gregas, por serem transmitidas oralmente, sofreram inúmeros modificações , de que resultou variação muito grande de interpretações e sentidos. Às vezes,uma figura mítica aparece em várias versões, sempre ricas de significados. Na Teoogonia de Hesíodo, as entidades que saem do seio de caos – vazio da desorganização incial-surgem  por segregação, por separação. Quando nasce Eros, o amor, essa força de natureza espiritual preside a partir daí a coesão, a ordem do Universo nascente.
            Mais tarde, no ciclo dos mitos olipianaos Eros ( Cupido, para os romanos) é filho de Afrodite e Ares, representado por uma criança transvesa que flecha os corações para torna-los apaixonados. Quando ele próprio se apaixona por Psique ( Alma), Afrotide, invejosa da beleza de Psique, afasta-a do filho e a submete às mais difíceis provas e sofrimento, dando-lhe como companheiras a Inquietude e a tristeza, até que Zeus, atendendo aos apelos de Eros, liberta-a para que o casal se uma novamente.
            Entre os filósofos gregos persiste essa imagem mística do amor. Os pré-socráticos Parmênides e Empédocles se referem ao princípio do amor e do ódio que persiste à combinação dos elementos entre si formarem os diversos corpos físicos. No diálogo de Platão O banquete, os convivas discursam sobre o Amor.Um dos oradores , Aristófanes, o melhor comediógrafo da época , relata o mito segundo o qual, no inicio os seres humanos eram duplos e esféricos , e os sexos eram três ,: um constituído por duas metades masculinas, outro por duas metades femininas e outra era andrógino, metade masculina e femininas. Como ousassem desafiar os deuses, zeus cortou-os em dois para enfraquece-las. Cada um tornou-se então um ser fendido, e o amor recíproco se origina da tentativa de restauração da unidade primitiva. Como os seres inicias não eram apenas bissexuais , é valorizado o amor entre seres do mesmo sexo, sobretudo o masculino, como forma possível desse encontro. O mito significa também o anseio humano por uma totalidade do ser, representando o processo de aperfeiçoamento do próprio eu.
            Sócrates, o últimos dos oradores do referido diálogo, começa dizendo que Eros representa um anelo de qualquer coisa que não se tem e se deseja ter, Usa-se para ilustrar sua afirmação: eros nasceu de Poros (expediente ou engenho) e de Pênia ( Pobreza) e aos pais deve a inquietude de procurar sair da situação de penúria e por meio de expediente, alcançar o eu deseja: é a oscilação eterna entre o possuir e o não- possuir. Segundo Sócrates, O amor é o desejo , em primeiro lugar de alguma coisa; em segundo, só de coisas que estejam faltando. O amor é capaz de desabrochar e de viver , morrer e ressuscitar  no mesmo dia. Come e bebe, dá  e se derrama, sem nunca estar rico ou pobre.
            A partir dessa discussão, pela boca de Sócrates, Platão explica a relação entre Eros e a filosofia. Assim como os deuses não filosofam nem aprendem, por  já possuírem a sabedoria, os tolos e os ignorantes não aspiram adquirir conhecimento, porque, embora nada saibam, julgam saber. O filósofo ocupam o lugar intermediário entre a sabedoria e a ignorância.
            Dessa forma, Platão não reduz a busca apenas à procura da outra metade do nosso ser que nos completa. Para ele, Eros é ânsia de ajudar o eu autêntico e a se realizar, na medida em que a vontade humana tende para o Bem e para o belo, quando subordina a beleza espiritual e desliga-se da paixão por determinado indivíduo u atividade, ocupando-se com a pura contemplação da beleza.
            È importante observar que essa concepção deve ser compreendida de acordo com a relação corpo-alma, segundo a qual subordina Eros a Logos, ou seja subjuga as paixões à razão.