domingo, 13 de setembro de 2015

TEXTO BASE PARA AVALIAÇÃO ORAL ( O MITO HOJE E O QUE É O MITO)

O MITO HOJE
A consciência humana, antes do advento da escrita?, permanece ingênua, não crítica, A nova forma de compreensão do mundo dessacraliza o pensamento e a ação, isto é, retira dele o caráter de sobrenaturalidade, fazendo surgir a filosofia , a ciência, a técnica, Perguntamos então: o desenvolvimento do pensamento reflexivo decretou a morte da consciência míticas?
Auguste Comte, filosofo francês de século XIX e fundador do positivismo, responde pela afirmativa: ao explicar a evolução da humanidade, define a maturidade do espírito humano pelo abandono de todas as formas míticas e religiosas.
Ao criticar o mito e exaltar a ciência, contraditoriamente o positivismo faz nascer o mito do cientificismo, ou seja a crença na ciência como única forma de saber possível, de onde surgem os mitos do progresso, da objetividade, e da neutralidade científica.
Além disso, o positivismo mostra-se reducionista, empobrecendo as possibilidades de abordagens do mundo, porque a ciência não é a única Interpretação válida do real nem é suficiente, já que o mito é uma forma fundamental do viver humano. O mito é o ponto de partida para a compreensão do ser . Em outras palavras, tudo o que pensamos e queremos se situa inicialmente no horizonte da imaginação, nos pressupostos míticos, cujo sentido existencial serve de base para todo trabalho posterior da razão.
Como o mito é a nossa primeira leitura do mundo, o advento de outras interpretações da realidade não exclui o fato de ele ser raiz da inteligibilidade. A  função fabuladora persiste não só nos contos populares, no folclore, como também na vida diária , quando proferimos certas palavras  ricas de ressonância  mítica: como casa, lar, amor, pai, mãe, paz , liberdade, morte, cuja definição objetiva não escota os significados  que ultrapassam os limites da própria subjetividades. Essas  palavras nos remetem a valores , arquetípicos, modelos universais que existem na natureza, inconsciente e primitiva de todos nós. Não é por acaso , os psicanalistas aproveitam a riqueza do mito e descobrem nele as raízes do desejo humano. Por exemplo, apedra angular da psicanálise se encontra na interpretação feita por Freud do mito de Édipo.
O mesmo sucede com personalidades como artista, políticos, esportistas que os meios de comunicação se incubem de transformar em imagens exemplares, e que no imaginário das pessoas, representam todo tipo de anseios, sucesso , poder, liderança, atração sexual , etc. Por exemplo, na década de 1950 o ator James Dean expressa o mito da juventude transviada e Marilyn Monroe um mito sexual, posteriormente outros modelos surgem e desaparecem, conforme as expectativas que que predominam em cada período. Hoje em dia, com a rapidez dos meios de cominação, essas influências tornam-se  múltiplas e também mais fugazes.
Nas histórias em quadrinhos, o maniqueísmo exprime o arquétipo da luta entre o bem e o mal, enquanto a dupla personalidade do super-herói atinge em cheio o desejo da pessoa comum de superar a própria inexpressividade e impotência, tornando-se excepcional  e poderosa. Também os contos de fada remetem as crianças aos mitos universais do herói em luta contra as forças do mal, apaziguando os temores infantis.
No campo da política, quando alguém diz que que o socialismo é um mito, pode estar dizendo que se trata de algo inatingível de uma mentira , de uma ilusão que não leva a lugar algum. Porém, outros verão positivamente o mito do socialismo como utopia, de uma mentira, de uma ilusão que não leva a lugar algum. Porém, outros verão positivamente o mito do socialismo como utopia, o lugar do “ainda não”, cuja força  mobiliza a construção daquilo que um dia poderá “vir – a – ser” . Até as mais racionais adesões a partidos políticos e a correntes de pensamento supõe esse pano de fundo, justificado e injustificáveis, em que nos move em direção a um valor que apaixona e que só posteriormente buscamos explicitar pela razão.
O nosso comportamento também é permeado de rituais , mesmo que secularizado, as comemorações de nascimento, casamento, aniversários, os festejos de ano novo, as festas de formatura , de debutantes ,trote de calouros lembram verdadeiros ritos de passagem, examinando as manifestações coletivas no cotidiano da vida urbana do brasileiro, descobrimos componentes míticos no carnaval e no futebol, ambos coo manifestações delirantes do imaginário nacional e da expansão de forças inconscientes.
O mito se expressa ainda sob formas negativas, tais como já nos referimos ao mito do cientificismo ou , em tempos mais difíceis, quando Hitler fez viver o mito da raça ariana , por ele considerada a raça pura , e desencadeou movimentos apaixonados de perseguição e genocídio de judeus e ciganos. A lista possível das conotações diversas que o mito assume não termina aqui. Apenas quisermos mostrar como um conceito tão amplo e rico não se escota numa só linha de interpretação.
CONCLUSÃO:  O mito não resulta, portanto  de delírio nem se reduz a simples mentira, mas faz parte de nossa vida cotidiana, como uma das formas impensáveis de existir o ser humano. Mito  razão se complementam mutuamente. No entanto, recuperado no cotidiano da vida contemporânea , o mito não se apresenta com a abrangência que se faz sentir entre as sociedades tribais. O aprimoramento da reflexão  que propicia o exercício da crítica racional, permite a rejeição dos mitos prejudiciais quando nos tomamos capazes de diferencia-los , legitimando alguns e negando aqueles que podem levar a desumanização.
                Para  Gusdorf, o mito propõe todos os valores  puros e impuros. Não é de a sua atribuição autorizar tudo o que sugere. Nossa época conheceu o horror do desencadeamento dos mitos do poder e da raça, quando seu fascínio se exercício sem controle. A sabedoria é um equilíbrio. O mito propõe mas cabe a consciência dispor  e foi através porque um racionalismo estreito demais fazia profissão de desprezar os mitos, que estes sem controle  tornaram-se loucos.
O QUE É O MITO

“O mito é uma primeira fala sobre o mundo, uma primeira atribuição de sentido ao mundo, sobre o qual a afetividade e o
a imaginação exercem grande papel, e cuja função principal não é explicar a realidade; mais acomodar o ser humano ao mundo”.
O mito, entre as sociedades tribais, é uma forma do ser humano se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar entre os de mais seres da natureza. É um modo ingênuo,fantasioso, anterior a toda reflexão, e não -crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão, também, as diretrizes da ação humana. Devemos  salientar, entretanto, que, não sendo teórica, a verdade do aflito não obedece a lógica nem da verdade empírica, nem da verdade científica. É verdade intuída, que não necessita de provas para ser aceita. Por essa razão, quando existem várias versões do mesmo mito, não nos devemos preocupar em estabelecer uma versão autêntica, pois é o conjunto dessas versões que constituem a sua realidade.

O mito nasce do desejo de entender o mundo, para afugentar o medo e a insegurança. O ser humano, à mercê das forças naturais, que são assustadoras, passa a emprestar qualidades emocionais. A coisas não são mais matéria morta, nem são independentes do sujeito que as percebe. Ao contrário, estão sempre impregnadas de qualidades e são boas ou más, amigas ou inimigas, familiares ou sobrenaturais, fascinantes e atraentes ou ameaçadoras e repelentes. Assim, o ser humano se move dentro de um mundo animado por forças que ele precisa agradar para que haja caça abundante, para que a terra seja fértil, para que a tribo ou o grupo seja protegido, para que as crianças nasçam e os mortos possam ir em paz.

O pensamento mítico está, então, muito ligado à magia, ao desejo, ao querer que as coisas aconteçam de um determinado modo. É a partir disso que se desenvolvem os rituais como meios de propiciar os acontecimentos desejados. O ritual é o mito tornado ação.

Os exemplos de rituais são inúmeros: já nas cavernas de Lascaux e Altamira, o homem do Paleolítico (1000 a 5000 a.C.) desenhava os animais, em estilo muito realista, e depois “atacava-os” com flechas, para garantir o êxito da caçada. Os ritos de nascimento e de morte é que dão ao recém-nascido um reconhecimento como ser vivo, pertencente a uma determinada sociedade, ou, ao defunto, a mudança de seu estatuto ontológico (de ser vivo a ser morto) e sua aceitação pela comunidade dos mortos. Outro exemplo é o da expulsão de uma comunidade: uma vez realizados os ritos, a pessoa expulsa não precisa sair da comunidade, pois todos os outros integrantes passarão a não vê-la, não ouvi-la, enfim, a agir como se ela não existisse ou não estivesse presente. Para a comunidade, terminado o ritual, a pessoa expulsa desapareceu simbolicamente, mesmo que continue de corpo presente. E essa exclusão social acaba, em geral, levando à morte.


2. Funções do mito

Além de acomodar e tranquilizar o ser humano diante de um mundo assustador, dando-lhe a confiança de que, através de suas ações mágicas, o que acontece no mundo natural de pende, em parte, dos seus atos, o mito também fixa modelos exemplares de todas as funções e atividades humanas.

O ritual é a repetição dos atos executa dos pelos deuses no início dos tempos e que devem ser imitados e repetidos para que as forças do bem e do mal sejam mantidas sob controle. Desse modo,o ritual”atualiza”,isto é, torna atual o acontecimento sagrado que teve lugar no passado mítico.



3. Característicos do mito

O mito nas sociedades tribais é sempre um mito coletivo. O grupo, cuja sobrevivência deve ser assegurada, existe antes do indivíduo e é só por meio dele que os sujeitos individuais se reconhecem como tais. Explicando melhor, o sujeito só tem consciência, só se conhece outros e do reconhecimento dos outros que ele se afirma. Por isso, pode ser expulso simbolicamente: no momento em que falta o reconhecimento dos outros integrantes do grupo, ele não se reconhece, não se encontra mais.

Outra característica do mito é o fato de ser sempre dogmático, isto é, apresentar-se como verdade que não precisa ser provada e que não admite contestação. A sua aceitação se dá, então, por meio da fé e da crença. E por não ser uma aceitação racional, o mito não pode ser provado nem questionado.

Dentro dessa perspectiva de coletivismo, a transgressão da norma, a não-obediência da regra afeta o transgressor e toda sua família ou comunidade. Assim é criado o tabu — a proibição — envolto em clima de temor e sobrenatural idade, cuja desobediência é extremamente grave. Só os ritos de purificação ou de “bode expiatório” ,nos quais o pecado é transferido para um animal, podem restaurar o equilíbrio da comunidade e evitar que o castigo dos deuses recaia sobre todos.