O MITO HOJE
A consciência humana, antes do
advento da escrita?, permanece ingênua, não crítica, A nova forma de compreensão
do mundo dessacraliza o pensamento e a ação, isto é, retira dele o caráter de
sobrenaturalidade, fazendo surgir a filosofia , a ciência, a técnica,
Perguntamos então: o desenvolvimento do pensamento reflexivo decretou a morte
da consciência míticas?
Auguste Comte, filosofo francês de
século XIX e fundador do positivismo, responde pela afirmativa: ao explicar a evolução
da humanidade, define a maturidade do espírito humano pelo abandono de todas as
formas míticas e religiosas.
Ao criticar o mito e exaltar a
ciência, contraditoriamente o positivismo faz nascer o mito do cientificismo,
ou seja a crença na ciência como única forma de saber possível, de onde surgem
os mitos do progresso, da objetividade, e da neutralidade científica.
Além disso, o positivismo
mostra-se reducionista, empobrecendo as possibilidades de abordagens do mundo,
porque a ciência não é a única Interpretação válida do real nem é suficiente,
já que o mito é uma forma fundamental do viver humano. O mito é o ponto de
partida para a compreensão do ser . Em outras palavras, tudo o que pensamos e queremos
se situa inicialmente no horizonte da imaginação, nos pressupostos míticos,
cujo sentido existencial serve de base para todo trabalho posterior da razão.
Como o mito é a nossa primeira
leitura do mundo, o advento de outras interpretações da realidade não exclui o
fato de ele ser raiz da inteligibilidade. A função fabuladora persiste não só nos contos
populares, no folclore, como também na vida diária , quando proferimos certas palavras ricas de ressonância mítica: como casa, lar, amor, pai, mãe, paz ,
liberdade, morte, cuja definição objetiva não escota os significados que ultrapassam os limites da própria
subjetividades. Essas palavras nos remetem
a valores , arquetípicos, modelos universais que existem na natureza,
inconsciente e primitiva de todos nós. Não é por acaso , os psicanalistas aproveitam
a riqueza do mito e descobrem nele as raízes do desejo humano. Por exemplo,
apedra angular da psicanálise se encontra na interpretação feita por Freud do
mito de Édipo.
O mesmo sucede com
personalidades como artista, políticos, esportistas que os meios de comunicação
se incubem de transformar em imagens exemplares, e que no imaginário das pessoas,
representam todo tipo de anseios, sucesso , poder, liderança, atração sexual ,
etc. Por exemplo, na década de 1950 o ator James Dean expressa o mito da
juventude transviada e Marilyn Monroe um mito sexual, posteriormente outros
modelos surgem e desaparecem, conforme as expectativas que que predominam em
cada período. Hoje em dia, com a rapidez dos meios de cominação, essas
influências tornam-se múltiplas e também
mais fugazes.
Nas histórias em quadrinhos, o maniqueísmo
exprime o arquétipo da luta entre o bem e o mal, enquanto a dupla personalidade
do super-herói atinge em cheio o desejo da pessoa comum de superar a própria inexpressividade
e impotência, tornando-se excepcional e
poderosa. Também os contos de fada remetem as crianças aos mitos universais do
herói em luta contra as forças do mal, apaziguando os temores infantis.
No campo da política, quando alguém
diz que que o socialismo é um mito, pode estar dizendo que se trata de algo inatingível
de uma mentira , de uma ilusão que não leva a lugar algum. Porém, outros verão
positivamente o mito do socialismo como utopia, de uma mentira, de uma ilusão
que não leva a lugar algum. Porém, outros verão positivamente o mito do
socialismo como utopia, o lugar do “ainda não”, cuja força mobiliza a construção daquilo que um dia
poderá “vir – a – ser” . Até as mais racionais adesões a partidos políticos e a
correntes de pensamento supõe esse pano de fundo, justificado e injustificáveis,
em que nos move em direção a um valor que apaixona e que só posteriormente
buscamos explicitar pela razão.
O nosso comportamento também é
permeado de rituais , mesmo que secularizado, as comemorações de nascimento, casamento,
aniversários, os festejos de ano novo, as festas de formatura , de debutantes
,trote de calouros lembram verdadeiros ritos de passagem, examinando as
manifestações coletivas no cotidiano da vida urbana do brasileiro, descobrimos
componentes míticos no carnaval e no futebol, ambos coo manifestações
delirantes do imaginário nacional e da expansão de forças inconscientes.
O mito se expressa ainda sob
formas negativas, tais como já nos referimos ao mito do cientificismo ou , em
tempos mais difíceis, quando Hitler fez viver o mito da raça ariana , por ele
considerada a raça pura , e desencadeou movimentos apaixonados de perseguição e
genocídio de judeus e ciganos. A lista possível das conotações diversas que o
mito assume não termina aqui. Apenas quisermos mostrar como um conceito tão
amplo e rico não se escota numa só linha de interpretação.
CONCLUSÃO: O
mito não resulta, portanto de delírio
nem se reduz a simples mentira, mas faz parte de nossa vida cotidiana, como uma
das formas impensáveis de existir o ser humano. Mito razão se complementam mutuamente. No entanto,
recuperado no cotidiano da vida contemporânea , o mito não se apresenta com a
abrangência que se faz sentir entre as sociedades tribais. O aprimoramento da
reflexão que propicia o exercício da
crítica racional, permite a rejeição dos mitos prejudiciais quando nos tomamos
capazes de diferencia-los , legitimando alguns e negando aqueles que podem
levar a desumanização.
Para Gusdorf, o mito propõe todos os valores puros e impuros. Não é de a sua atribuição
autorizar tudo o que sugere. Nossa época conheceu o horror do desencadeamento
dos mitos do poder e da raça, quando seu fascínio se exercício sem controle. A
sabedoria é um equilíbrio. O mito propõe mas cabe a consciência dispor e foi através porque um racionalismo estreito
demais fazia profissão de desprezar os mitos, que estes sem controle tornaram-se loucos.
O QUE É O MITO
“O mito é uma primeira fala sobre o mundo, uma
primeira atribuição de sentido ao mundo, sobre o qual a afetividade e o
a imaginação
exercem grande papel, e cuja função principal não é explicar a realidade; mais
acomodar o ser humano ao mundo”.
O mito, entre as
sociedades tribais, é uma forma do ser humano se situar no mundo, isto é, de
encontrar o seu lugar entre os de mais seres da natureza. É um modo
ingênuo,fantasioso, anterior a toda reflexão, e não -crítico de estabelecer
algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a
construção cultural, mas que dão, também, as diretrizes da ação humana.
Devemos salientar, entretanto, que, não sendo teórica, a verdade do
aflito não obedece a lógica nem da verdade empírica, nem da verdade científica.
É verdade intuída, que não necessita de provas para ser aceita. Por essa razão,
quando existem várias versões do mesmo mito, não nos devemos preocupar em
estabelecer uma versão autêntica, pois é o conjunto dessas versões que
constituem a sua realidade.
O mito nasce do desejo
de entender o mundo, para afugentar o medo e a insegurança. O ser humano, à
mercê das forças naturais, que são assustadoras, passa a emprestar qualidades
emocionais. A coisas não são mais matéria morta, nem são independentes do
sujeito que as percebe. Ao contrário, estão sempre impregnadas de qualidades e
são boas ou más, amigas ou inimigas, familiares ou sobrenaturais, fascinantes e
atraentes ou ameaçadoras e repelentes. Assim, o ser humano se move dentro de um
mundo animado por forças que ele precisa agradar para que haja caça abundante,
para que a terra seja fértil, para que a tribo ou o grupo seja protegido, para que
as crianças nasçam e os mortos possam ir em paz.
O pensamento mítico
está, então, muito ligado à magia, ao desejo, ao querer que as coisas aconteçam
de um determinado modo. É a partir disso que se desenvolvem os rituais como
meios de propiciar os acontecimentos desejados. O ritual é o mito tornado ação.
Os exemplos de
rituais são inúmeros: já nas cavernas de Lascaux e Altamira, o homem do
Paleolítico (1000 a 5000 a.C.) desenhava os animais, em estilo muito realista,
e depois “atacava-os” com flechas, para garantir o êxito da caçada. Os ritos de
nascimento e de morte é que dão ao recém-nascido um reconhecimento como ser
vivo, pertencente a uma determinada sociedade, ou, ao defunto, a mudança de seu
estatuto ontológico (de ser vivo a ser morto) e sua aceitação pela comunidade
dos mortos. Outro exemplo é o da expulsão de uma comunidade: uma vez realizados
os ritos, a pessoa expulsa não precisa sair da comunidade, pois todos os outros
integrantes passarão a não vê-la, não ouvi-la, enfim, a agir como se ela não
existisse ou não estivesse presente. Para a comunidade, terminado o ritual, a
pessoa expulsa desapareceu simbolicamente, mesmo que continue de corpo
presente. E essa exclusão social acaba, em geral, levando à morte.
2. Funções do mito
Além de acomodar e tranquilizar
o ser humano diante de um mundo assustador, dando-lhe a confiança de que,
através de suas ações mágicas, o que acontece no mundo natural de pende, em
parte, dos seus atos, o mito também fixa modelos exemplares de todas as funções
e atividades humanas.
O ritual é a
repetição dos atos executa dos pelos deuses no início dos tempos e que devem
ser imitados e repetidos para que as forças do bem e do mal sejam mantidas sob controle.
Desse modo,o ritual”atualiza”,isto é, torna atual o acontecimento sagrado que
teve lugar no passado mítico.
3. Característicos do
mito
O mito nas sociedades
tribais é sempre um mito coletivo. O grupo, cuja sobrevivência deve ser
assegurada, existe antes do indivíduo e é só por meio dele que os sujeitos
individuais se reconhecem como tais. Explicando melhor, o sujeito só tem
consciência, só se conhece outros e do reconhecimento dos outros que ele se
afirma. Por isso, pode ser expulso simbolicamente: no momento em que falta o
reconhecimento dos outros integrantes do grupo, ele não se reconhece, não se
encontra mais.
Outra característica
do mito é o fato de ser sempre dogmático, isto é, apresentar-se como verdade
que não precisa ser provada e que não admite contestação. A sua aceitação se
dá, então, por meio da fé e da crença. E por não ser uma aceitação racional, o
mito não pode ser provado nem questionado.
Dentro dessa
perspectiva de coletivismo, a transgressão da norma, a não-obediência da regra
afeta o transgressor e toda sua família ou comunidade. Assim é criado o tabu —
a proibição — envolto em clima de temor e sobrenatural idade, cuja desobediência
é extremamente grave. Só os ritos de purificação ou de “bode expiatório” ,nos
quais o pecado é transferido para um animal, podem restaurar o equilíbrio da
comunidade e evitar que o castigo dos deuses recaia sobre todos.