TEORIA DA BELEZA DE PLATÃO E
ARISTÓTELES
1.0. O MUNDO DAS IDÉIAS PURAS
Estudar a beleza é tocar, de
maneira geral, em todos os problemas, por exemplo: o fato de nós determos sobre
o problema de sua natureza suscita, logo a questão do saber se ela pode ou não
ser abordada filosoficamente.
Fato que como já vimos, os
irracionais negam em seu nome da liberdade, principalmente num campo como o da
Arte, onde imperam os dons individuais sempre desiguais e imprevisíveis,
tentaremos, porém aqui, dentro essência da beleza, servindo-nos, para isso da
contribuição que os pensadores trouxeram a partir do pensamento ocidental.
Como acontece ordinariamente no
campo desse pensamento, vamos encontrar as primeiras indicações a respeito da
Beleza na obra de Platão, que nos fala pela boca de Sócrates, homem real que
foi personagem Platônico em que se transformou para Platão, dentro de sua
grandiosa visão idealista do mundo e do homem, a Beleza de um ser material
qualquer depende da maior ou menor comunicação que tal possui com as belezas absolutas,
que subsiste, pura, imutável e eterna no mundo supra-sensível das idéias.
A teoria Platônica da Beleza e da arte depende, assim de sua visão
geral do mundo.
Para usar palavras de Ortega Y Gasset, Platão via o universo como
dividido em dois mundos, o mundo em ruínas e o mundo em forma, O nosso mundo
das essências, das idéias puras, que acabamos de nos referir. E o mundo eterno
e imutável que existe acima do nosso e que chama o daqui para o seu seio. Nesse
mundo, a verdade, a beleza e o Bem são essências superiores, legadas
diretamente ao ser.
Cada ser do nosso mundo em ruínas,
tem no outro modelo os padrões, ou arquétipos, que se situam entre os seres
sensíveis e as essências superiores da verdade, do bem e da Beleza.
2.0. A REMINISCÊNCIA
Os críticos do platonismo já tem
acentuado a pouca precisão das idéias platônicas sobre os arquétipos, algo que
flutua entre o sensível e o espiritual. Mas Platão tem ainda, outros pontos
fundamentais em seu pensamento.
A alma é invencivelmente atraída
pela beleza, pois sua pátria natural é o mundo das essências puras, a beleza
absoluta de natureza divina, por isso sente invencível saudade dela vivendo,
como vive, aqui em desterro permanente. Por isso, segundo Platão, a alma sabe
tudo e se nós não a acompanharmos nesse conhecimento é porque a nossa parte
material é grosseira faz com que nós esqueçamos da maior parte daquilo que a
alma sabe por ter contemplado, maior parte daquilo que a alma sabe, por ter
contemplado, já a verdade, a beleza e o bem absoluto.
Existem almas mais aptas do que
outras a se recordar das verdades e belezas contempladas anteriormente. Assim,
que se dedica a Beleza, não a recria na arte, quem se dedica a, não a descobre,
pelo conhecimento tanto num caso como noutro, o que acontece é que a alma
recorda-se das formas e verdades contempladas no mundo das essências, antes que
a alma unisse ao corpo.
3.0. O BANQUETE e o FEDRO
Os diálogos platônicos que mais se
referem à Beleza são: o Banquete e o Fedro. No primeiro livro, o chamado
discurso de Sócrates, explica quase que de modo definitivo a teoria platônica
da Beleza.
Valendo-se do famoso mito da
Parelha, Platão aconselha a seus discípulos o caminho místico como único apto a
elevar os homens das coisas sensíveis e grosseiras até o mundo das idéias. Para
Platão. O caminho da alma que se quer elevar é o amor, isto porque os seres
humanos eram, a princípio, andrógino, macho e fêmeo ao mesmo tempo, separados
em duas metades, cada alma vive procurando encontrar a sua parelha.
Mas somente os indivíduos
inferiores ficam satisfeitos com a forma mais primitiva de amor, apaixonando-se
e desejando um belo corpo. Se ele é, porém, um homem superior, em breve
descobre a beleza existente naquele belo corpo e irmã da beleza de outro corpo
belo, o que o leva a conclusão de que a beleza de todos os corpos é uma só.
Vem daí, como conseqüência,
destruição da forma egoísta e grosseira de amor que prende a um só corpo, o
amado passará a amar todos os belos corpos, ou para
ser mais preciso, passa a amar não os corpos, mas a beleza existente neles,
contemplada desinteressadamente.
4.0. O CAMINHO MÍSTICO
O estágio de
aperfeiçoamento seguinte será aquele em que se considera a beleza da fama
superior à beleza do corpo. O amador descobre que a beleza corpórea é sujeita a
ruína e a decadência, enquanto a beleza moral resiste ao passar do tempo.
Então, ele contemplará a beleza
que existe nos costumes e nas leis morais, notando que a Beleza está
relacionada com todas as coisas e considerando, então a beleza corpórea como pouco
digna de estima.
5.0. A BELEZA ABSOLUTA
No estágio de que estamos falando,
o amante toma-se um prisioneiro voluntário do imenso oceano da beleza. Com o
tempo, purificando-se sempre no sentido do mais alto e do divino, tendo o
espírito fortificado e enriquecido por esse verdadeiro acesso, por essa
disciplina amorosa da contemplação, estará atingindo o estágio final que é
possível ainda aqui na terra.
6.0. A REMINISCÊNCIA E O MENON
Assim, parece lícito afirmar que
para Platão, a beleza causava, antes demais nada enlevo, prazer, arrebatamento,
deleitação; E se alguma dúvida houvesse, seria antes sobre o caráter de
deleitação, também emprestado no texto platônico citado, a sabedoria, a
verdade, as quais segundo suas palavras, "despertaria amor veemente",
como se fosse também uma espécie de bem fazer usufruído e não somente
conhecido. Isto leva a Maritain a afirmar que "a sabedoria é amada por sua
beleza, enquanto que a beleza é amada por si mesma", distinguindo ele que
a "beleza é essencialmente deleitável, por isso, por sua própria essência,
enquanto beleza move o desejo e produz o amor que a verdade como tal faz
somente iluminar".
Obs.: Texto extraído do livro: "Iniciação a Estética, de
Ariano Suassuna"
TEXTO 02
CONCEPÇÃO PLATÔNICA DA ARTE
Para Platão, a arte se situa no plano mais baixo do conhecimento
pois é imitação das coisas sensíveis, elas próprias imitações imperfeitas das
essências inteligíveis ou idéias.
Segundo este raciocínio na sua
obra A República, Platão ao elaborar a teoria sobre a cidade perfeita. Ele
exclui os poetas, pintores e escultores porque imitavam as coisas sensíveis e
oferecem uma imagem desrespeitosa dos deuses, tomados pelas paixões humanas,
porém, coloca a dança e a música como disciplinas fundamentais na formação do corpo
e da alma, isto é do caráter das crianças e dos adolescentes. Como para Platão,
gramática, estratégia, aritmética, geometria e astronomia, são artes, seu
ensino é considerado indispensável na formação dos guerreiros e acrescentadas
da arte dialética, na formação dos Reis Filósofos.
Platão, também faz uma análise
sobre as artes e a técnica. Partindo do pressuposto que a arte tem um sentido
de ordenação e habilidade, podendo ser considerada num sentido amplo, um
conjunto de regras para atingir uma atividade humana qualquer. Assim podemos
falar em arte médica, arte política, arte bélica, retórica e poética. Todas em
seus determinados campos são expressões de arte.
Platão não distinguia a arte das
ciências, nem da filosofia, uma vez que elas são atividades humanas e regradas.
A distinção platônica feita entre dois tipos de arte ou técnica: as
justificativas, isto é dedicada apenas ao conhecimento, as dispositivas,
voltadas para a direção de uma atividade, com base no conhecimento de suas
regras.
A BELEZA É O PRÓPRIO
BEM
Inicialmente, o belo é entendido
como manifestação do bem. Para Platão, a idéia de beleza é a mais evidente e
aquela que mais atrai o homem. Pôr meio dela, do encantamento e do amor que ela
produz, o homem se movimenta em busca do conhecimento das demais idéias.
Quanto à beleza já te disse -
ela brilhava entre todas aquelas idéias puras e na nossa estada na terra ela
ainda ofusca, com o seu brilho, todas as outras coisas. Á visão é ainda mais sutil de todos os nossos sentidos. Mas não
poderia perceber a sabedoria. Despertaria amores veem entes se oferecesse uma
imagem tão clara e distinta quanto aquelas que podíamos contemplar para além do
céu. Somente a beleza tem essa ventura de ser a coisa mais perceptível e
elevadora (Platão 1971:226).
O Platonismo é o pano de findo sobre o qual repousa a estética
normativa vigente no Classicismo, que defende a existência de uma idéia ou
essência do belo.
2.0. LEITURA COMPLEMENTAR
" O CAMINHO DA BELEZA
PURA"
Para Platão, a felicidade e a virtude consistem na contemplação da
beleza pura. Todo aquele que deseja atingir essa meta ideal, praticando
acertadamente o amor, deve começar em sua mocidade pôr dirigir a atenção para
os belos corpos, e antes de tudo, bem- conduzido pôr seu preceptor, deve amar
um só corpo belo e, inspirado pôr ele, dar origem a belas palavras.' Mas, a
seguir, deve observar que a beleza existente num determinado corpo é irmã da
beleza que existe em outro e que, desde que se deve procurar a beleza da forma,
seria grande mostra de insensatez não considerar como sendo uma única e mesma
coisa a beleza que se encontra em todos os corpos. Quando estiver convencido
dessa verdade amará todos os belos corpos, passando a desprezar e ter como
coisa sem importância o violento amor que se encaminha unicamente para um só
corpo. Em seguida, considerará a beleza das almas como muito mais amável do que
a dos corpos, e destarte será
conduzido pôr alguém que possua uma bela alma, embora localizada num corpo
despido de encantos, e amará, zelando pôr sua felicidade e inspirando-lhe belos
pensamentos, capazes de tomar os jovens melhores, O amante contemplará desse
modo a beleza que há nos costumes e nas leis morais, notando que a beleza está
relacionada com todas as coisas e considerará a beleza corpórea como pouco
estimável.
Depois dessas considerações, é
para os conhecimentos científicos que o guia dirigirá o seu discípulo a fim de
que ele possa agora perceber a beleza que existe nesses conhecimentos. Lançando
o seu olhar sobre a vasta região já ocupada pela beleza, deixando de ligar,
como um lacaio a sua ternura a uma única beleza a de um jovem, a de um homem, a
uma só ocupação o discípulo liberta-se dessa escravidão, deixa de ser esse ente
miserável. Ao contrário, volver- se-á agora para o imenso oceano da beleza e,
contemplando-o, dará a luz incansavelmente belos e esplêndidos discurso. E os
pensamentos surgirão da inesgotável inspiração do saber; e assim será até que o
seu espírito fortificado e enriquecido alcance a compreensão de uma ciência única
que é a beleza, de que te vou falar! Procura compreender dando-me a máxima
atenção de que és capaz.
Quando um homem foi assim
conduzido até esta altura da arte amorosa, e viu as coisas belas em gradação
regular; quando atingiu corretamente a instituições amorosa, esse homem, caro
Sócrates, verá bruscamente cena beleza, de uma natureza maravilhosa, aquela que
era justamente a razão de ser de todos os seus trabalhos anteriores. Verá um
que, em primeiro lugar, é eterno, que não nasce nem morre, que não aumenta nem
diminui, que alem disso não é em parte belo e em pane feio, agora belo e depois
frio, belo em comparação com isto e frio em comparação com aquilo, belo aqui e
feio acolá, belo para alguns e frio para outros. Conhecerá a beleza que não se
apresenta como rosto ou como mãos ou qualquer outra coisa corporal, nem como
palavra, nem como ciência, nem como coisa alguma que exista em outra, como pôr
exemplo num ser vivo ou na terra ou no céu. Beleza, ao contrário, que existe em
si mesma e pôr si mesma, sempre idêntica, e da qual participam todas as demais
coisas belas. Essas coisas belas individuais, que participam da beleza suprema,
ora nascem, ora morrem; mas essa beleza jamais aumenta ou diminui, nem sofre
alteração de qualquer espécie.
Quando, das belezas inferiores nos
elevamos através de uma bem-entendida pedagogia amorosa, até a beleza suprem a
e perfeita, que começamos então a vislumbrar, chegamos quase ao Jim, pois na
estrada reta do amor, quer a sigamos sozinhos quer nela sejamos guiados pôr outrem,
cumpre sempre subir usando desses belos objetos visíveis como degraus de uma
escada: de um para dois, de dois para todos os belos corpos, dos belos corpos
para as belas ocupações, destas aos belos conhecimentos até que, de ciência em
ciência, se eleve pôr fim o espírito à ciência das ciências, que nada mais é do
que o conhecimento da Beleza em si!.
Se alguma coisa dá valor à vida, caro Sócrates - prosseguiu a
estrangeira vinda de Mantinéia , essa é a contemplação da Beleza Absoluta. Se
aí chegares um dia, uma vez que seja, nunca mais considerarás belos o ouro, as
vestimentas magníficas e mesmo as belas jovens, a quem tanto admirais agora, tu
e muitos outros, a ponto de estardes dispostos, para ver vossos amados e viver
sempre junto deles, se possível fosse, a deixar de beber o comer, animados
unicamente pela paixão da sua contemplação, pelo anseio de estar sempre ao seu
lado.
Que devemos pensar de um homem ao
qual tivesse sido dado contemplar a Beleza Pura, simples sem mistura, a beleza
não revestida de carne, de cores, e de várias outras coisas mortais e sem
valor, mas a Beleza Divina! Achas que não teria valor a vida daquele que
elevasse seu olhar par ela e a contemplasse, e com ela vivesse em comunicação?
Não te parece que vendo assim adequadamente o belo, esse homem seria o único a
poder criar, não sobras de virtude, mas a verdadeira virtude, uma vez que se
encontra em contato com a verdade? Ora, para aquele que em se cria e alimenta a
verdadeira virtude e que vão os favores e o amor dos deuses - e, se é dado ao
homem tomar-se imortal, ninguém mais do que esse o consegue! ".
Platão, Banquete. I Diálogos 1. Rio de Janeiro: Ediouro, 1971. p.l
73-5
A CONCEPÇÃO ARISTOTÉLICA DA BELEZA E DA ARTE
A POÉTICA
Aristóteles estuda especificamente o tema da arte na Poética, que,
na realidade, é apenas o fragmento de um estudo muito mais abrangente sobre os
gêneros literários.
O conceito de
poética, para os gregos, deriva do verbo poéin, que significa
originalmente "fazer", "fabricar", e indica a realização
de uma obra exterior ao sujeito que a produz. Nesse sentido se distingue de
outro fazer, o da praxis, cuja ação é imanente ao sujeito (como no caso
da ética e da política).
Da Poética
conhecemos apenas a parte dedicada à análise da tragédia. Dessa análise,
duas ideias devem ser destacadas por sua importância e influência em toda a
reflexão sobre a arte desenvolvida no Ocidente:.
• a arte é
uma imitação (mímesis) da natureza;
• a arte é um meio de
purificação (catharsis) dos sentimentos
BELAS-ARTES E ARTES UTILITÁRIAS
Encontramos
com Aristóteles, pela primeira vez, a distinção entre belas-artes - ou artes
imitativas - e artes utilitárias. Tal distinção, no contexto cultural da
Grécia antiga, devia soar no mínimo estranha: todos os objetos de uso diário
deveriam ser "também belos, e os exemplares que nos restam, expostos nos
museus de todo o mundo, atestam a importância atribuída à beleza, tão indispensável
quanto a utilidade do objeto.
Na Metafísica Aristóteles ~avia considerado
o sabre puramente teórico especulativo superior ao saber prático, ~exatamente
por não estar submetido a nenhum objetivo exterior ao próprio saber. Pelo
mesmo motivo, na Poética, as artes imitativas são consideradas
superiores às artes utilitárias. Para conseguir entender corretamente o que é a
arte é indispensável, segundo Aristóteles, a distinção dessas duas formas, pois
cada uma deIas obedece a uma finalidade diferente. Ora, conhecer a finalidade
a que se destina um objeto é condição indispensável para a sua compreensão.
Portanto, se
existem duas finalidades diferentes para a arte, cada uma delas determinará um
sentido diferente à atividade artística, e não devem por isso ser confundidas.
A ARTE COMO IMITAÇÃO DA NATUREZA
A definição da arte como uma imitação da natureza não é original em Aristóteles. Platão
já a definira assim, e parece mesmo que essa era a compreensão usual da arte na
Grécia. Por ser também um princípio motor que leva uma forma a manifestar-se
plenamente na matéria, a arte imita a natureza.
É importante
observar que Aristóteles não define a arte como imitação (ou figuração) dos
entes naturais, mas da própria natureza.
Como foi visto no contexto
da Metafísica e da Física, a
natureza é um princípio motor, um princípio de criação que leva a forma a
manifestar-se plenamente na matéria na qual se realiza. O mesmo faz o artista
quando imprime à matéria a forma determinada por sua arte. São múltiplos os
exemplos em que
Aristóteles se refere à arte e ao artista para explicar o que
é a natureza, como ela age e se manifesta. A natureza é retratada como uma
espécie de artista inconsciente da obra que produz.
Na Poética
nós o vemos retomar a mesma conexão entre a natureza e a arte, mas numa
perspectiva invertida, uma vez que Aristóteles, aqui, está interessado na
compreensão da arte e não da natureza.
No caso das
artes utilitárias, a arte completa e corrige a natureza onde esta falha. Um
exemplo é o arquiteto que constrói o abrigo para o homem "imitando"
abrigos fornecidos primitivamente pela própria natureza, ou o médico que atua
para restaurar a saúde onde ela foi perdida. Ao fazer isso, no entanto, o
artista (ou artesão) segue as indicações e a direção apontadas pela própria
natureza.
As
belas-artes - ou artes imitativas -, analisadas a partir da tragédia, não
imitam os objetos naturais nem visam corrigir Ou completar a natureza. Não são artes figurativas, assim como n
são utilitárias. O que a tragédia imita e reproduz no espaço delimitado do
palco, e durante um tempo estabelecido, são os costumes, caracteres ou
qualidades morais (ethos), os sentimentos e paixões que se apoderam dos homens
e os dominam (pathos), e as ações dirigidas pela vontade (praxis). Ela
imita, enfim, ri próprio drama humano.
Esse é o tema central da tragédia grega. A descrição do ambiente físico ou
natural só aparece na condição de cenário onde se desenrola o drama.
A arte, tal
como a ciência, visa a verdade; mas não a verdade abstrata e teórica das
definições científicas, e sim aquela que se manifesta a partir de situações
concretas onde o universal da tragédia humana se deixa retratar na
individualidade de um destino pessoal.
Aristóteles
não identifica a imitação com a reprodução figurativa. Isso pode ser
comprovado quando diz que, de todas as artes, a que "imita" com mais
fidelidade o caráter e as emoções é a dança. Imitar, no caso, está mais
relacionado com manifestar, expressar, do que reproduzir de forma figurada.
A ARTE COMO PURIFICAÇÃO
Platão, na sua República, havia
condenado a tragédia, as sim como várias outras formas de arte, alegando que
excitavam as paixões, causando uma inquietação contrária ao equilíbrio do indivíduo,
capaz de afastá-Io da serena contemplação das verdades eternas ..
Já
Aristóteles, ao contrário, não considera conveniente reprimir ou extinguir no
homem a parte emotiva da alma. O equilíbrio rompido pela manifestação das
paixões deve ser reencontrado a partir do momento em que esses sentimentos
possam se manifestar de forma controlada.
Representando
o drama com todo o choque de sentimentos e paixões, sofrimentos, esperanças e
ações no espaço delimitado pelo palco, a tragédia permite que o espectador, identificando-se
com os personagens, deixe fluir nele esses mesmos sentimentos (em especial a
piedade e o temor), sem deixar-se, por outro lado, dominar por eles. A
tragédia opera assim uma purificação ou purgação (catharsis) das
emoções. Essa é, segundo o filósofo, uma das suas principais finalidades.
Através da arte o mulher lida com as forças
irracionais ou sobrenaturais que o ameaçam, sem entregar-se a elas. Aquilo que
não se deixa verbalizar nem expressar de forma racional e objetiva é vivenciado
e pode fluir, colocando-se assim diante do homem e permitindo-lhe conhecer e
lidar com esses sentimentos sem nenhum risco. Vivemos, através do personagem, o
drama da escolha; sofremos a ameaça do castigo divino; presenciamos a morte e
o sofrimento compartilhados sem que nenhum desses sentimentos nos domine
inteiramente e nos perturbe.
A ordem
rompida pela ação dramática se recompõe inabalável e eterna para além do palco
e da ação descrita. A erupção do caos e da paixão que introduzem a desordem é
permitida dentro do espaço e do tempo que lhe são concedidos pela ação
dramática. Dessa forma, por meio da arte, o homem domina as forças que, no
cotidiano, o ameaçam e oprimem.
A arte do
poeta permite que o universal se manifeste na sensível, fazendo apelo à imaginação e à sensibilidade, e combina, num paradoxo, o inesperado com o
inevitável.
Tocando a emoção e liberando-a, a arte
trágica leva o homem a recuperar sua tranquilidade. Essa seria a origem do
prazer estético. Claro está que, para produzi-lo, é preciso que o espectador
seja levado a identificar-se com os sentimentos manifestos pelos personagens;
mas é preciso também que esses sentimentos se manifestem de forma grandiosa,
não mascarados nem misturados aos pequenos problemas e preocupações do
cotidiano dos homens comuns.
A tragédia
retrata o drama da existência humana, mas o faz com tal grandiosidade que o espectador,
ao identificar-se e reconhecer-se nos personagens por meio de emoção, se
sinta, ele mesmo, engrandecido por participar da espécie humana.
CONCLUSÃO
Os outros
livros da Poética, anunciados logo no inicio da obra, e que tratariam da
comédia e dos ditirambos, foram perdidos. Mas o que restou da obra de Aristóteles
é, até hoje, peça fundamental para o estudo da estética. Ela acabou por
tornar-se tão imortal quanto a tragédia grega, que ainda comove os homens.