CENTRO EDUCACIONAL 06 – GAMA/DF
PROFº : DENYS F. DA COSTA
DISCIPLINA : FILOSOFIA
A ÉTICA NA HISTÓRIA
Vejamos
de forma resumida, algumas das reflexões éticas que marcaram os grandes
períodos históricos. Para isso, retomarem os aspectos do pensamento de algumas
filósofos estudados anteriormente. Daremos destaque as concepções de
Aristóteles , na Antiguidade, santo Agostinho , na Idade Média, Immanuel Kant ,
na idade Moderna..
·
ANTIGUIDADE
: ÉTICA GREGA
A preocupação
com os problemas éticos teve início de forma mais sistematizada na época de
Sócrates , filosofo também conheço como “ o pai da moral”. Vejamos o que disseram os principais filósofo gregos
desse período sobre essa questão.
Os sofistas afirmavam que não existem
normas e verdades universalmente
válidas. Tinham portanto uma concepção ética relativistas ou
subjetivista.
Ao contrario dos sofistas, Sócrates
sustentou a existência de um saber universalmente válido, que decorre do
conhecimento da essência humana, a partir da qual se pode conceber a
fundamentação de uma moral universal. E o ser humano é essencialmente razão. E é na razão , portanto , que devem ser
fundamentadas as normas e costumes morais. Por isso , dizemos que a ética
socrática é racionalista. O indivíduo que age conforme a razão age
corretamente.
Platão desenvolveu o racionalismo ético iniciado por Sócrates,
aprofundando a diferença entre corpo e alma. Argumentava que o corpo, por ser a
sede de desejos e paixões, muitas vezes desvia o indivíduo de seu caminho para
o bem. Assim, defendeu a necessidade de uma depuração do mundo material para
alcançar a ideia de bem. Segundo Platão, o ser humano não consegue caminhar em
busca da perfeição agindo sozinho. Necessita, portanto, da sociedade, da pólis.
No plano ético, o indivíduo bom é também o bom cidadão.
Depois do período clássico grego, o estoicismo desenvolveu uma ética
baseada na procura da paz interior e no autocontrole individual, fora dos
contornos da vida política. Assim, o princípio da ética estoica é a apatia
[apathe/a). atitude de entendimento de tudo o que acontece, e o amor ao destino
[amor [até), porque tudo faria parte de um plano superior guiado por uma razão
universal que a tudo abrangeria. Desse modo atingia-se a ataraxia, ou
imperturbabilidade da alma.
A ética do epicurismo, de forma semelhante, defendia a atitude de
desvio da dor e procura do prazer espiritual, do autodomínio e a paz de
espírito [ataraxia].
• Ética do equilíbrio
Aristóteles também desenvolveu uma reflexão ética racionalista, mas sem
o dualismo corpo-alma platônico. Procurou construir uma ética mais realista,
mais próxima do indivíduo concreto. Para tanto, perguntou-se sobre o fim último
do ser humano. Para o que tendemos? E respondeu: para a felicidade. Todos nós
buscamos a felicidade.
E o que entende Aristóteles por felicidade? Para o filósofo, a
felicidade não se confunde com o simples prazer, o prazer das sensações ou o
prazer proporcionado pela riqueza e pelo conforto material. A felicidade última
e maior se encontraria na vida teórica, que promove o que há de mais
essencialmente humano: a razão.
O individuo que se desenvolve no plano teórico, contemplativo, pode
compreender a essência da felicidade e,
de forma consciente, guiar sua conduta.
Mas isso, no contexto histórico da Grécia antiga , seria privilégio de uma minoria . Segundo o filosofo, a pessoa
comum, aquela que não pode se dedicar à atividade teórica, aprenderia a agir
corretamente pelo hábito, isto é, por meio da prática constante e reiterada de
ações.
Assim, agir corretamente seria praticar as virtudes. E o que seria a
virtude? Em sue obra Ética a Nicômaco, Aristóteles explica:
A excelência moral/virtude moral! então, é uma disposição da alma
relacionada com a escolha de ações e emoções, disposição esta consistente num
meio-termo determinado pela razão. Trata-se de um estado intermediário, porque
nas várias formas de deficiência moral há falta ou excesso do que é conveniente
tanto nas emoções quanto nas ações, enquanto a excelência moral encontra e
prefere o meio-termo. (p. 421 )
A coragem, por exemplo, seria uma virtude situada entre a covardia (a
deficiência) e a temeridade [o excesso. Assim, o filósofo propôs uma ética do
meio-termo, na qual a virtude consistiria em procurar o ponto de equilíbrio
entre o excesso e a deficiência.
Mas observe que esse ponto de equilíbrio não é fixo, isto é, não pode
ser estabelecido de antemão, pois varia de acordo com a circunstância ou
ocasião [onde, quando, quanto, com quem, com o quê, como etc). Por exemplo: não
é exatamente coragem reagir em um assalto a mão armada. Ou seja, não é esse
tipo de atitude que garante a excelência moral de uma pessoa. Como explicou
Aristóteles:
[.1 tanto o medo como a confiança, o apetite, a ira, a compaixão e em
geral o prazer e a dor, podem ser sentidos em excesso ou em grau insuficiente;
e, num caso como no outro, isso é um mal. Mas senti-los na ocasião apropriada,
com referência aos objetos apropriados, para com as pessoas apropriadas, pelo
motivo e da maneira conveniente, nisso consistem o meio-termo e a excelência
característicos da virtude. [Etica a Nícomaco, p. 273.]
Também é importante notar que, tanto em Platão como em Aristóteles, a
ética estava vinculada à vida política. Aristóteles refere-se mesmo à política
corro um meio da ética, pois sendo o ser humano, por natureza, um ser
sociopolítico, necessitaria da vida em comum para alcançara felicidade como
plenitude de seu bem-estar.
·
IDADE
MÉDIA : ÉTICA CRISTÃ
O que
diferencia radicalmente a ética cristã da ética Grega são dois pontos;
·
O abandono da visão mundana a ética cristã deixa
de lado a ideia de que o fim último da vida humana está neste mundo. Com isso ,
centrou a busca da perfeição moral no a amor a Deus;
·
Emergência da subjetividade – acentuado a
tendência já esboçada na filosofia de estico ponto de vista estritamente
pessoal, como uma relação entre cada indivíduo e deus, isolando-o de sua
condição social e atribuindo à subjetividade
uma importância até então desconhecida.
Os filósofos medievais herdaram alguns elementos da
tradição filosófica grega, reconfigurando-se
no interior de uma ética cristã. Santo Tomás de Aquino( século XIII) por
exemplo, recuperou da ética aristotélica a ideia de felicidade com fim último
do ser humano, mas cristianizou essa noção ao identificar Deus como a fonte
dessa felicidade.
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ETICA DO LIVRE ARBÍTRIO.
Santo
Agostinho (354 – 430) transformou a ideia de depuração da alma da filosofia de
Platão na ideia da necessidade de elevação ascética para compreender os desígnios
de Deus. Também a ideia da imortalidade da alma , presente em Platão, foi retrabalhada pelo filosofo sob
a perspectiva cristã.
Mas a ética agostiniana destaca-se por
outro conceito. Ao tentar explicar como
pode existir o mal se tudo vem de Deus , e Deus é bondade infinita, Santo
Agostinho introduziu a ideia de
liberdade como libre –arbítrio, isto é a
noção de que cada individuo tem a possibilidade de escolher como agir, de
acordo com sua própria vontade. Portanto pode optar livremente por aproximar
–se de Deus ou por afastar-se Dele. O afastamento de Deus seria o mal, de acordo com o filósofo .
Isso significa que , com a noção de
livre – arbítrio de escolha individual, Agostinho acentuou o papel da
subjetividade humana nas coisas do mundo. O livre- Arbítrio seria o meio pelo
qual o ser humano exerce sua liberdade, que consiste em escolher entre o bem
e o mal. De outro lado, esse conceito esvaziou a noção grega de
liberdade com possibilidade de realização plena do indivíduos em seu meio
social. Em outras palavras, diminuiu a importância da dimensão social da
liberdade, e esta passou a ter um caráter
mais pessoal , subjetivo individualista.
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IDADE
MODERNA : ÉTICA ANTROPOCÊNTRICA
Com o final da
Idade Média , marcado pelo renascimento, o ser humano torna-se novamente o
centro de interesse por meio do humanismo. No terreno da reflexão ética , esse
fato orientou uma nova concepção moral, centrada na autonomia humana.
No Iluminismo, essa orientação fica mais
evidente , pois os filósofos passam a defender a ideia de que a moral deve ser
fundamentada não mais em valores religiosos, e sim naqueles oriundos da
compreensão do que é a natureza humana.
A concepção
mais expressiva do período moderno a
respeito da natureza humana é a de uma natureza racional, que encontra em kant
sua formulação mais bem acabada.
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Ética do dever
Em seus textos
Crítica da razão prática e fundamentação da metafísica dos costumes, o filósofo
alemão Emanuel kant (1724 – 1804), aponta
a razão humana como uma razão legisladora, capaz de elaborar normas
universais , uma vez que constitui um predicado universal dos seres
humanos , isto é, uma capacidade comum a todos. As normas morais teriam , portanto sua origem na razão.
Embora , em Kant ,
as normas morais devam ser obedecidas como deveres , a noção Kantiana de dever confunde-se com a própria noção de
Liberdade. Isso ocorre porque, em seu pensamento, o indivíduo que obedece a uma
norma moral atende à liberdade da razão, ou seja, aquilo que a razão, no uso de
sua liberdade, determinou como correto. Dessa forma, a sujeição à norma moral é
o reconhecimento de sua legalidade, conferida pelos próprios indivíduos
racionais.
Kant reforça
essa ideia ao dizer que um ato só pode ser considerado moral quando praticado
de forma autônoma; consciente e por dever. Com isso, acentua, o reconhecimento
do dever como uma expressáp’ca’ racionalidade humana, única fonte legítima da
moralidade. A clareza dessa ideia é assim expressa pelo filósofo:
Age apenas
segundo uma máxima [um princípio] tal que possas ao mesmo tempo querer que ela
se torne lei universal. [Fundamentação da metafísica dos costumes, p. 59.]
Essa exigência
é denominada por Kant de imperativo categórico, ou seja, é uma determinação
imperativa, que deve ser observada sempre, em toda e qualquer decisão ou ato
moral que venhamos a praticar Em outras palavras, o filósofo quer dizer que
nossa ação deve ser tal que possa ser universalizada, ou seja, realizada por
todos os outros indivíduos sem prejuízo para a humanidade. Se não puder ser
universalizada, não será moralmente correta e só acontecerá como exceção, nunca
como regra. Vejamos como Kant se expressa a esse respeito:
Se prestarmos
atenção ao que se passa em nós mesmos sempre que transgredimos qualquer dever,
descobriremos que na realidade não queremos que a nossa máxima se torne lei
universal, porque isso nos é impossível; b contrário dela é que deve
universalmente continuar a ser lei; nós tomamos apenas a liberdade de abrir
nela uma exceção para nós. [Fundamentação da metafísica dos costumes, p. 631
E por que
realizamos atos contrários ao dever e, portanto, contrários à razão? Kant dirá
que é porque nossa vontade é também afetada pelas inclinações
— que são os
desejos, as paixões, os medos —, e não apenas pela razão. Por isso ele afirma
que devemos educar a vontade para alcançar a boa vontade, que seria aquela
guiada unicamente pela razão.
Em resumo, a
ética kantiana é uma ética formal ou formalista, pois postula o dever como
norma universal, sem se preocupar com a condição individual, em que cada um se
encontra diante desse dever Em outras palavras, Kant nos dá a forma geral da
ação moralmente correta (o imperativo categórico], mas não diz nada acerca de
seu conteúdo, não diz o que devemos fazer em cada situação concreta.
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IDADE
CONTEMPORÂNEA: ÉTICA DO INDIVÍDUO CONCRETO.
A REFLEXÃO
ÉTICA NA Idade Contemporânea ( século
XIX e XX )desdobrou-se em uma série de concepções distintas acerca
do que seja a moral e sua fundamentação. Seu
ponto comum é a recusa de uma fundamentação exterior transcendental para a moralidade, centrando
no individuo concreto a origem dos valores
e das normas morais.
Um dos primeiros
passos na formulação de uma ética do indivíduo
concreto foi dado por Hegel, em sua crítica ao formalismo de Kant.
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FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICO –SOCIAL
Como diversos
autores contemporâneos , o filósofo alemão Friedrich Hegel (1770 – 1831 ) questionou
o formalismo da ética . Para ele, ao não levar
em consideração a história e a relação do indivíduo com a sociedade , a
ética de Kant não apreende o conflitos
reais existentes na decisões morais.
Kant teria considerado a moral apenas como uma questão pessoal , íntima e subjetiva , na qual o sujeito deve se decidir entre suas inclinações (desejos, medos, etc.)
e sua razão.
De
acordo com Hegel , portanto , a moralidade assume conteúdos diferenciados
ao longo da história das sociedades, e a vontade individual seria apenas um dos elementos da
vida ética de uma sociedade em seu
conjunto. A moral seria o resultado da relação entre o indivíduo e o conjunto social. E em cada
momento histórico a moral se manifestaria tanto nos códigos normativos como
implicitamente, na cultura e nas
instituições sociais. Desse modo, Hegel vinculou a ética à história e a sociedade.
Texto extraído do livro : FUNDAMENTO DE
FILOSOFIA
COTRIM, Gilberto e Mirna Fernandes
Ed. SARAIVA