segunda-feira, 20 de junho de 2016

A ÉTICA NA HISTÓRIA ( TEXTO BASE PARA AVALIAÇÃO ORAL )

CENTRO EDUCACIONAL 06 – GAMA/DF
PROFº : DENYS F. DA COSTA
DISCIPLINA : FILOSOFIA
TEXTO BASE PARA O TESTE ORAL
A ÉTICA NA HISTÓRIA
                Vejamos de forma resumida, algumas das reflexões éticas que marcaram os grandes períodos históricos. Para isso, retomarem os aspectos do pensamento de algumas filósofos estudados anteriormente. Daremos destaque as concepções de Aristóteles , na Antiguidade, santo Agostinho , na Idade Média, Immanuel Kant , na idade Moderna..
·         ANTIGUIDADE : ÉTICA GREGA
A preocupação com os problemas éticos teve início de forma mais sistematizada na época de Sócrates , filosofo também conheço como “ o pai da moral”. Vejamos  o que disseram os principais filósofo gregos desse período sobre essa questão.
        Os sofistas afirmavam que não existem normas e verdades universalmente  válidas. Tinham portanto uma concepção ética relativistas ou subjetivista.
        Ao contrario dos sofistas, Sócrates sustentou a existência de um saber universalmente válido, que decorre do conhecimento da essência humana, a partir da qual se pode conceber a fundamentação de uma moral universal. E o ser humano é essencialmente razão. E  é na razão , portanto , que devem ser fundamentadas as normas e costumes morais. Por isso , dizemos que a ética socrática é racionalista. O indivíduo que age conforme a razão age corretamente.
Platão desenvolveu o racionalismo ético iniciado por Sócrates, aprofundando a diferença entre corpo e alma. Argumentava que o corpo, por ser a sede de desejos e paixões, muitas vezes desvia o indivíduo de seu caminho para o bem. Assim, defendeu a necessidade de uma depuração do mundo material para alcançar a ideia de bem. Segundo Platão, o ser humano não consegue caminhar em busca da perfeição agindo sozinho. Necessita, portanto, da sociedade, da pólis. No plano ético, o indivíduo bom é também o bom cidadão.
Depois do período clássico grego, o estoicismo desenvolveu uma ética baseada na procura da paz interior e no autocontrole individual, fora dos contornos da vida política. Assim, o princípio da ética estoica é a apatia [apathe/a). atitude de entendimento de tudo o que acontece, e o amor ao destino [amor [até), porque tudo faria parte de um plano superior guiado por uma razão universal que a tudo abrangeria. Desse modo atingia-se a ataraxia, ou imperturbabilidade da alma.
A ética do epicurismo, de forma semelhante, defendia a atitude de desvio da dor e procura do prazer espiritual, do autodomínio e a paz de espírito [ataraxia].
• Ética do equilíbrio
Aristóteles também desenvolveu uma reflexão ética racionalista, mas sem o dualismo corpo-alma platônico. Procurou construir uma ética mais realista, mais próxima do indivíduo concreto. Para tanto, perguntou-se sobre o fim último do ser humano. Para o que tendemos? E respondeu: para a felicidade. Todos nós buscamos a felicidade.
E o que entende Aristóteles por felicidade? Para o filósofo, a felicidade não se confunde com o simples prazer, o prazer das sensações ou o prazer proporcionado pela riqueza e pelo conforto material. A felicidade última e maior se encontraria na vida teórica, que promove o que há de mais essencialmente humano: a razão.
O individuo que se desenvolve no plano teórico, contemplativo, pode compreender  a essência da felicidade e, de forma consciente, guiar  sua conduta. Mas isso, no contexto histórico da Grécia antiga , seria privilégio  de uma minoria . Segundo o filosofo, a pessoa comum, aquela que não pode se dedicar à atividade teórica, aprenderia a agir corretamente pelo hábito, isto é, por meio da prática constante e reiterada de ações.
Assim, agir corretamente seria praticar as virtudes. E o que seria a virtude? Em sue obra Ética a Nicômaco, Aristóteles explica:
A excelência moral/virtude moral! então, é uma disposição da alma relacionada com a escolha de ações e emoções, disposição esta consistente num meio-termo determinado pela razão. Trata-se de um estado intermediário, porque nas várias formas de deficiência moral há falta ou excesso do que é conveniente tanto nas emoções quanto nas ações, enquanto a excelência moral encontra e prefere o meio-termo. (p. 421 )
A coragem, por exemplo, seria uma virtude situada entre a covardia (a deficiência) e a temeridade [o excesso. Assim, o filósofo propôs uma ética do meio-termo, na qual a virtude consistiria em procurar o ponto de equilíbrio entre o excesso e a deficiência.
Mas observe que esse ponto de equilíbrio não é fixo, isto é, não pode ser estabelecido de antemão, pois varia de acordo com a circunstância ou ocasião [onde, quando, quanto, com quem, com o quê, como etc). Por exemplo: não é exatamente coragem reagir em um assalto a mão armada. Ou seja, não é esse tipo de atitude que garante a excelência moral de uma pessoa. Como explicou Aristóteles:
[.1 tanto o medo como a confiança, o apetite, a ira, a compaixão e em geral o prazer e a dor, podem ser sentidos em excesso ou em grau insuficiente; e, num caso como no outro, isso é um mal. Mas senti-los na ocasião apropriada, com referência aos objetos apropriados, para com as pessoas apropriadas, pelo motivo e da maneira conveniente, nisso consistem o meio-termo e a excelência característicos da virtude. [Etica a Nícomaco, p. 273.]
Também é importante notar que, tanto em Platão como em Aristóteles, a ética estava vinculada à vida política. Aristóteles refere-se mesmo à política corro um meio da ética, pois sendo o ser humano, por natureza, um ser sociopolítico, necessitaria da vida em comum para alcançara felicidade como plenitude de seu bem-estar.
·         IDADE MÉDIA : ÉTICA CRISTÃ
O que diferencia radicalmente a ética cristã da ética Grega são dois pontos;
·         O abandono da visão mundana a ética cristã deixa de lado a ideia de que o fim último da vida humana está neste mundo. Com isso , centrou a busca da perfeição moral no a amor a Deus;
·         Emergência da subjetividade – acentuado a tendência já esboçada na filosofia de estico ponto de vista estritamente pessoal, como uma relação entre cada indivíduo e deus, isolando-o de sua condição social e atribuindo à subjetividade  uma importância até então desconhecida.
Os filósofos medievais herdaram alguns elementos da tradição filosófica grega, reconfigurando-se  no interior de uma ética cristã. Santo Tomás de Aquino( século XIII) por exemplo, recuperou da ética aristotélica a ideia de felicidade com fim último do ser humano, mas cristianizou essa noção ao identificar Deus como a fonte dessa felicidade.
·         ETICA DO LIVRE ARBÍTRIO.
Santo Agostinho (354 – 430) transformou a ideia de depuração da alma da filosofia de Platão na ideia da necessidade de elevação ascética para compreender os desígnios de Deus. Também a ideia da imortalidade da alma , presente  em Platão, foi retrabalhada pelo filosofo sob a perspectiva cristã.
        Mas a ética agostiniana destaca-se por outro conceito. Ao tentar explicar  como pode existir o mal se tudo vem de Deus , e Deus é bondade infinita, Santo Agostinho  introduziu a ideia de liberdade  como libre –arbítrio, isto é a noção de que cada individuo tem a possibilidade de escolher como agir, de acordo com sua própria vontade. Portanto pode optar livremente por aproximar –se de Deus  ou por afastar-se  Dele. O afastamento de Deus  seria o mal, de acordo com o filósofo .
        Isso significa que , com a noção de livre – arbítrio de escolha individual, Agostinho acentuou o papel da subjetividade humana nas coisas do mundo. O livre- Arbítrio seria o meio pelo qual o ser humano exerce sua liberdade, que consiste em escolher  entre o bem  e o mal. De outro lado, esse conceito esvaziou a noção grega de liberdade com possibilidade de realização plena do indivíduos em seu meio social. Em outras palavras, diminuiu a importância da dimensão social da liberdade, e esta passou a ter um caráter  mais pessoal , subjetivo individualista.
·         IDADE MODERNA : ÉTICA ANTROPOCÊNTRICA
Com o final da Idade Média , marcado pelo renascimento, o ser humano torna-se novamente o centro de interesse por meio do humanismo. No terreno da reflexão ética , esse fato orientou uma nova concepção moral, centrada na autonomia humana.
No  Iluminismo, essa orientação fica mais evidente , pois os filósofos passam a defender a ideia de que a moral deve ser fundamentada não mais em valores religiosos, e sim naqueles oriundos da compreensão do que é a natureza humana.
A concepção mais expressiva  do período moderno a respeito da natureza humana é a de uma natureza racional, que encontra em kant sua formulação mais bem acabada.
·         Ética do dever
Em seus textos Crítica da razão prática e fundamentação da metafísica dos costumes, o filósofo alemão Emanuel kant (1724 – 1804), aponta  a razão humana como uma razão legisladora, capaz de elaborar  normas  universais , uma vez que constitui um predicado universal dos seres humanos , isto é, uma capacidade comum a todos. As normas  morais teriam , portanto sua origem na razão.
Embora , em Kant , as normas morais devam ser obedecidas como deveres , a noção Kantiana de  dever confunde-se com a própria noção de Liberdade. Isso ocorre porque, em seu pensamento, o indivíduo que obedece a uma norma moral atende à liberdade da razão, ou seja, aquilo que a razão, no uso de sua liberdade, determinou como correto. Dessa forma, a sujeição à norma moral é o reconhecimento de sua legalidade, conferida pelos próprios indivíduos racionais.
Kant reforça essa ideia ao dizer que um ato só pode ser considerado moral quando praticado de forma autônoma; consciente e por dever. Com isso, acentua, o reconhecimento do dever como uma expressáp’ca’ racionalidade humana, única fonte legítima da moralidade. A clareza dessa ideia é assim expressa pelo filósofo:
Age apenas segundo uma máxima [um princípio] tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal. [Fundamentação da metafísica dos costumes, p. 59.]
Essa exigência é denominada por Kant de imperativo categórico, ou seja, é uma determinação imperativa, que deve ser observada sempre, em toda e qualquer decisão ou ato moral que venhamos a praticar Em outras palavras, o filósofo quer dizer que nossa ação deve ser tal que possa ser universalizada, ou seja, realizada por todos os outros indivíduos sem prejuízo para a humanidade. Se não puder ser universalizada, não será moralmente correta e só acontecerá como exceção, nunca como regra. Vejamos como Kant se expressa a esse respeito:
Se prestarmos atenção ao que se passa em nós mesmos sempre que transgredimos qualquer dever, descobriremos que na realidade não queremos que a nossa máxima se torne lei universal, porque isso nos é impossível; b contrário dela é que deve universalmente continuar a ser lei; nós tomamos apenas a liberdade de abrir nela uma exceção para nós. [Fundamentação da metafísica dos costumes, p. 631
E por que realizamos atos contrários ao dever e, portanto, contrários à razão? Kant dirá que é porque nossa vontade é também afetada pelas inclinações
— que são os desejos, as paixões, os medos —, e não apenas pela razão. Por isso ele afirma que devemos educar a vontade para alcançar a boa vontade, que seria aquela guiada unicamente pela razão.
Em resumo, a ética kantiana é uma ética formal ou formalista, pois postula o dever como norma universal, sem se preocupar com a condição individual, em que cada um se encontra diante desse dever Em outras palavras, Kant nos dá a forma geral da ação moralmente correta (o imperativo categórico], mas não diz nada acerca de seu conteúdo, não diz o que devemos fazer em cada situação concreta.
·         IDADE CONTEMPORÂNEA: ÉTICA DO INDIVÍDUO CONCRETO.
A REFLEXÃO ÉTICA NA Idade Contemporânea  ( século XIX  e XX )desdobrou-se  em uma série de concepções distintas acerca do que seja a moral e sua fundamentação. Seu  ponto comum é a recusa de uma fundamentação exterior  transcendental para a moralidade, centrando no individuo concreto a origem dos valores  e das normas morais.

Um dos primeiros passos  na formulação de uma ética do indivíduo concreto foi dado por Hegel, em sua crítica ao formalismo de Kant.

·         FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICO –SOCIAL
 Como diversos autores contemporâneos , o filósofo alemão Friedrich Hegel (1770 – 1831 ) questionou o formalismo da ética . Para ele, ao não levar  em consideração a história e a relação do indivíduo com a sociedade , a ética de Kant  não apreende o conflitos reais existentes na decisões  morais. Kant teria considerado a moral apenas como uma questão pessoal , íntima  e subjetiva , na qual o sujeito  deve se decidir  entre suas inclinações (desejos, medos, etc.) e sua razão.
         De acordo com Hegel , portanto , a moralidade assume conteúdos  diferenciados  ao longo da história das sociedades, e a vontade  individual seria apenas um dos elementos da vida ética de uma sociedade  em seu conjunto. A moral seria o resultado da relação entre  o indivíduo e o conjunto social. E em cada momento histórico a moral se manifestaria tanto nos códigos normativos como implicitamente, na cultura  e nas instituições sociais. Desse modo, Hegel vinculou a ética à história  e a sociedade.




Texto extraído do livro : FUNDAMENTO DE FILOSOFIA
COTRIM, Gilberto e Mirna Fernandes
Ed. SARAIVA