segunda-feira, 14 de novembro de 2016

TEXTO BASE PARA TESTE ( TEORIA DA BELEZA DE PLATÃO E ARISTÓTELES)

TEORIA DA BELEZA DE PLATÃO E ARISTÓTELES

1.0. O MUNDO DAS IDÉIAS PURAS
Estudar a beleza é tocar, de maneira geral, em todos os problemas, por exemplo: o fato de nós determos sobre o problema de sua natureza suscita, logo a questão do saber se ela pode ou não ser abordada filosoficamente.
Fato que como já vimos, os irracionais negam em seu nome da liberdade, principalmente num campo como o da Arte, onde imperam os dons individuais sempre desiguais e imprevisíveis, tentaremos, porém aqui, dentro essência da beleza, servindo-nos, para isso da contribuição que os pensadores trouxeram a partir do pensamento ocidental.
Como acontece ordinariamente no campo desse pensamento, vamos encontrar as primeiras indicações a respeito da Beleza na obra de Platão, que nos fala pela boca de Sócrates, homem real que foi personagem Platônico em que se transformou para Platão, dentro de sua grandiosa visão idealista do mundo e do homem, a Beleza de um ser material qualquer depende da maior ou menor comunicação que tal possui com as belezas absolutas, que subsiste, pura, imutável e eterna no mundo supra-sensível das idéias.
A teoria Platônica da Beleza e da arte depende, assim de sua visão geral do mundo.
Para usar palavras de Ortega Y Gasset, Platão via o universo como dividido em dois mundos, o mundo em ruínas e o mundo em forma, O nosso mundo das essências, das idéias puras, que acabamos de nos referir. E o mundo eterno e imutável que existe acima do nosso e que chama o daqui para o seu seio. Nesse mundo, a verdade, a beleza e o Bem são essências superiores, legadas diretamente ao ser.
Cada ser do nosso mundo em ruínas, tem no outro modelo os padrões, ou arquétipos, que se situam entre os seres sensíveis e as essências superiores da verdade, do bem e da Beleza.
2.0. A REMINISCÊNCIA
Os críticos do platonismo já tem acentuado a pouca precisão das idéias platônicas sobre os arquétipos, algo que flutua entre o sensível e o espiritual. Mas Platão tem ainda, outros pontos fundamentais em seu pensamento.
A alma é invencivelmente atraída pela beleza, pois sua pátria natural é o mundo das essências puras, a beleza absoluta de natureza divina, por isso sente invencível saudade dela vivendo, como vive, aqui em desterro permanente. Por isso, segundo Platão, a alma sabe tudo e se nós não a acompanharmos nesse conhecimento é porque a nossa parte material é grosseira faz com que nós esqueçamos da maior parte daquilo que a alma sabe por ter contemplado, maior parte daquilo que a alma sabe, por ter contemplado, já a verdade, a beleza e o bem absoluto.
Existem almas mais aptas do que outras a se recordar das verdades e belezas contempladas anteriormente. Assim, que se dedica a Beleza, não a recria na arte, quem se dedica a, não a descobre, pelo conhecimento tanto num caso como noutro, o que acontece é que a alma recorda-se das formas e verdades contempladas no mundo das essências, antes que a alma unisse ao corpo.
3.0. O BANQUETE e o FEDRO
Os diálogos platônicos que mais se referem à Beleza são: o Banquete e o Fedro. No primeiro livro, o chamado discurso de Sócrates, explica quase que de modo definitivo a teoria platônica da Beleza.
Valendo-se do famoso mito da Parelha, Platão aconselha a seus discípulos o caminho místico como único apto a elevar os homens das coisas sensíveis e grosseiras até o mundo das idéias. Para Platão. O caminho da alma que se quer elevar é o amor, isto porque os seres humanos eram, a princípio, andrógino, macho e fêmeo ao mesmo tempo, separados em duas metades, cada alma vive procurando encontrar a sua parelha.
Mas somente os indivíduos inferiores ficam satisfeitos com a forma mais primitiva de amor, apaixonando-se e desejando um belo corpo. Se ele é, porém, um homem superior, em breve descobre a beleza existente naquele belo corpo e irmã da beleza de outro corpo belo, o que o leva a conclusão de que a beleza de todos os corpos é uma só.
Vem daí, como conseqüência, destruição da forma egoísta e grosseira de amor que prende a um só corpo, o amado      passará a amar todos os belos corpos, ou para ser mais preciso, passa a amar não os corpos, mas a beleza existente neles, contemplada desinteressadamente.
4.0. O CAMINHO MÍSTICO
O estágio de aperfeiçoamento seguinte será aquele em que se considera a beleza da fama superior à beleza do corpo. O amador descobre que a beleza corpórea é sujeita a ruína e a decadência, enquanto a beleza moral resiste ao passar do tempo.
Então, ele contemplará a beleza que existe nos costumes e nas leis morais, notando que a Beleza está relacionada com todas as coisas e considerando, então a beleza corpórea como pouco digna de estima.
5.0. A BELEZA ABSOLUTA
No estágio de que estamos falando, o amante toma-se um prisioneiro voluntário do imenso oceano da beleza. Com o tempo, purificando-se sempre no sentido do mais alto e do divino, tendo o espírito fortificado e enriquecido por esse verdadeiro acesso, por essa disciplina amorosa da contemplação, estará atingindo o estágio final que é possível ainda aqui na terra.
6.0. A REMINISCÊNCIA E O MENON
Assim, parece lícito afirmar que para Platão, a beleza causava, antes demais nada enlevo, prazer, arrebatamento, deleitação; E se alguma dúvida houvesse, seria antes sobre o caráter de deleitação, também emprestado no texto platônico citado, a sabedoria, a verdade, as quais segundo suas palavras, "despertaria amor veemente", como se fosse também uma espécie de bem fazer usufruído e não somente conhecido. Isto leva a Maritain a afirmar que "a sabedoria é amada por sua beleza, enquanto que a beleza é amada por si mesma", distinguindo ele que a "beleza é essencialmente deleitável, por isso, por sua própria essência, enquanto beleza move o desejo e produz o amor que a verdade como tal faz somente iluminar".
Obs.: Texto extraído do livro: "Iniciação a Estética, de Ariano Suassuna"


TEXTO 02
CONCEPÇÃO PLATÔNICA DA ARTE
Para Platão, a arte se situa no plano mais baixo do conhecimento pois é imitação das coisas sensíveis, elas próprias imitações imperfeitas das essências inteligíveis ou idéias.
Segundo este raciocínio na sua obra A República, Platão ao elaborar a teoria sobre a cidade perfeita. Ele exclui os poetas, pintores e escultores porque imitavam as coisas sensíveis e oferecem uma imagem desrespeitosa dos deuses, tomados pelas paixões humanas, porém, coloca a dança e a música como disciplinas fundamentais na formação do corpo e da alma, isto é do caráter das crianças e dos adolescentes. Como para Platão, gramática, estratégia, aritmética, geometria e astronomia, são artes, seu ensino é considerado indispensável na formação dos guerreiros e acrescentadas da arte dialética, na formação dos Reis Filósofos.
Platão, também faz uma análise sobre as artes e a técnica. Partindo do pressuposto que a arte tem um sentido de ordenação e habilidade, podendo ser considerada num sentido amplo, um conjunto de regras para atingir uma atividade humana qualquer. Assim podemos falar em arte médica, arte política, arte bélica, retórica e poética. Todas em seus determinados campos são expressões de arte.
Platão não distinguia a arte das ciências, nem da filosofia, uma vez que elas são atividades humanas e regradas. A distinção platônica feita entre dois tipos de arte ou técnica: as justificativas, isto é dedicada apenas ao conhecimento, as dispositivas, voltadas para a direção de uma atividade, com base no conhecimento de suas regras.
        A BELEZA É O PRÓPRIO BEM
Inicialmente, o belo é entendido como manifestação do bem. Para Platão, a idéia de beleza é a mais evidente e aquela que mais atrai o homem. Pôr meio dela, do encantamento e do amor que ela produz, o homem se movimenta em busca do conhecimento das demais idéias.
Quanto à beleza já te disse - ela brilhava entre todas aquelas idéias puras e na nossa estada na terra ela ainda ofusca, com o seu brilho, todas as outras coisas. Á visão é ainda mais sutil de todos os nossos sentidos. Mas não poderia perceber a sabedoria. Despertaria amores veem entes se oferecesse uma imagem tão clara e distinta quanto aquelas que podíamos contemplar para além do céu. Somente a beleza tem essa ventura de ser a coisa mais perceptível e elevadora (Platão 1971:226).
O Platonismo é o pano de findo sobre o qual repousa a estética normativa vigente no Classicismo, que defende a existência de uma idéia ou essência do belo.
2.0. LEITURA COMPLEMENTAR
" O CAMINHO DA BELEZA PURA"
Para Platão, a felicidade e a virtude consistem na contemplação da beleza pura. Todo aquele que deseja atingir essa meta ideal, praticando acertadamente o amor, deve começar em sua mocidade pôr dirigir a atenção para os belos corpos, e antes de tudo, bem- conduzido pôr seu preceptor, deve amar um só corpo belo e, inspirado pôr ele, dar origem a belas palavras.' Mas, a seguir, deve observar que a beleza existente num determinado corpo é irmã da beleza que existe em outro e que, desde que se deve procurar a beleza da forma, seria grande mostra de insensatez não considerar como sendo uma única e mesma coisa a beleza que se encontra em todos os corpos. Quando estiver convencido dessa verdade amará todos os belos corpos, passando a desprezar e ter como coisa sem importância o violento amor que se encaminha unicamente para um só corpo. Em seguida, considerará a beleza das almas como muito mais amável do que a dos corpos, e destarte será conduzido pôr alguém que possua uma bela alma, embora localizada num corpo despido de encantos, e amará, zelando pôr sua felicidade e inspirando-lhe belos pensamentos, capazes de tomar os jovens melhores, O amante contemplará desse modo a beleza que há nos costumes e nas leis morais, notando que a beleza está relacionada com todas as coisas e considerará a beleza corpórea como pouco estimável.
Depois dessas considerações, é para os conhecimentos científicos que o guia dirigirá o seu discípulo a fim de que ele possa agora perceber a beleza que existe nesses conhecimentos. Lançando o seu olhar sobre a vasta região já ocupada pela beleza, deixando de ligar, como um lacaio a sua ternura a uma única beleza a de um jovem, a de um homem, a uma só ocupação o discípulo liberta-se dessa escravidão, deixa de ser esse ente miserável. Ao contrário, volver- se-á agora para o imenso oceano da beleza e, contemplando-o, dará a luz incansavelmente belos e esplêndidos discurso. E os pensamentos surgirão da inesgotável inspiração do saber; e assim será até que o seu espírito fortificado e enriquecido alcance a compreensão de uma ciência única que é a beleza, de que te vou falar! Procura compreender dando-me a máxima atenção de que és capaz.
Quando um homem foi assim conduzido até esta altura da arte amorosa, e viu as coisas belas em gradação regular; quando atingiu corretamente a instituições amorosa, esse homem, caro Sócrates, verá bruscamente cena beleza, de uma natureza maravilhosa, aquela que era justamente a razão de ser de todos os seus trabalhos anteriores. Verá um que, em primeiro lugar, é eterno, que não nasce nem morre, que não aumenta nem diminui, que alem disso não é em parte belo e em pane feio, agora belo e depois frio, belo em comparação com isto e frio em comparação com aquilo, belo aqui e feio acolá, belo para alguns e frio para outros. Conhecerá a beleza que não se apresenta como rosto ou como mãos ou qualquer outra coisa corporal, nem como palavra, nem como ciência, nem como coisa alguma que exista em outra, como pôr exemplo num ser vivo ou na terra ou no céu. Beleza, ao contrário, que existe em si mesma e pôr si mesma, sempre idêntica, e da qual participam todas as demais coisas belas. Essas coisas belas individuais, que participam da beleza suprema, ora nascem, ora morrem; mas essa beleza jamais aumenta ou diminui, nem sofre alteração de qualquer espécie.
Quando, das belezas inferiores nos elevamos através de uma bem-entendida pedagogia amorosa, até a beleza suprem a e perfeita, que começamos então a vislumbrar, chegamos quase ao Jim, pois na estrada reta do amor, quer a sigamos sozinhos quer nela sejamos guiados pôr outrem, cumpre sempre subir usando desses belos objetos visíveis como degraus de uma escada: de um para dois, de dois para todos os belos corpos, dos belos corpos para as belas ocupações, destas aos belos conhecimentos até que, de ciência em ciência, se eleve pôr fim o espírito à ciência das ciências, que nada mais é do que o conhecimento da Beleza em si!.
Se alguma coisa dá valor à vida, caro Sócrates - prosseguiu a estrangeira vinda de Mantinéia , essa é a contemplação da Beleza Absoluta. Se aí chegares um dia, uma vez que seja, nunca mais considerarás belos o ouro, as vestimentas magníficas e mesmo as belas jovens, a quem tanto admirais agora, tu e muitos outros, a ponto de estardes dispostos, para ver vossos amados e viver sempre junto deles, se possível fosse, a deixar de beber o comer, animados unicamente pela paixão da sua contemplação, pelo anseio de estar sempre ao seu lado.
Que devemos pensar de um homem ao qual tivesse sido dado contemplar a Beleza Pura, simples sem mistura, a beleza não revestida de carne, de cores, e de várias outras coisas mortais e sem valor, mas a Beleza Divina! Achas que não teria valor a vida daquele que elevasse seu olhar par ela e a contemplasse, e com ela vivesse em comunicação? Não te parece que vendo assim adequadamente o belo, esse homem seria o único a poder criar, não sobras de virtude, mas a verdadeira virtude, uma vez que se encontra em contato com a verdade? Ora, para aquele que em se cria e alimenta a verdadeira virtude e que vão os favores e o amor dos deuses - e, se é dado ao homem tomar-se imortal, ninguém mais do que esse o consegue! ".
Platão, Banquete. I Diálogos 1. Rio de Janeiro: Ediouro, 1971. p.l 73-5
A CONCEPÇÃO ARISTOTÉLICA  DA BELEZA E DA ARTE
A POÉTICA
Aristóteles estuda especifi­camente o tema da arte na Poéti­ca, que, na realidade, é apenas o fragmento de um estudo muito mais abrangente sobre os gêne­ros literários.
O conceito de poética, para os gregos, deriva do verbo poéin, que significa originalmente "fa­zer", "fabricar", e indica a realiza­ção de uma obra exterior ao su­jeito que a produz. Nesse sentido se distingue de outro fazer, o da praxis, cuja ação é imanente ao sujeito (como no caso da ética e da política).
Da Poética conhecemos apenas a parte dedicada à aná­lise da tragédia. Dessa análise, duas ideias devem ser destaca­das por sua importância e in­fluência em toda a reflexão sobre a arte desenvolvida no Ocidente:.
• a arte é uma imitação (mímesis) da natureza;
                      • a arte é um meio de puri­ficação (catharsis) dos senti­mentos
BELAS-ARTES E ARTES UTILITÁRIAS
Encontramos com Aristóte­les, pela primeira vez, a distinção entre belas-artes - ou artes imi­tativas - e artes utilitárias. Tal distinção, no contexto cultural da Grécia antiga, devia soar no míni­mo estranha: todos os objetos de uso diário deveriam ser "também belos, e os exemplares que nos restam, expostos nos museus de todo o mundo, atestam a impor­tância atribuída à beleza, tão in­dispensável quanto a utilidade do objeto.
Na Metafísica Aristóteles ~avia considerado o sabre pura­mente teórico especulativo superior ao saber prático, ~exatamente por não estar submetido a nenhum objetivo exterior ao pró­prio saber. Pelo mesmo motivo, na Poética, as artes imitativas são consideradas superiores às artes utilitárias. Para conseguir entender corretamente o que é a arte é indispensável, segundo Aristóteles, a distinção dessas duas formas, pois cada uma deIas obedece a uma finalidade di­ferente. Ora, conhecer a finalida­de a que se destina um objeto é condição indispensável para a sua compreensão.
Portanto, se existem duas finalidades diferentes para a arte, cada uma delas determinará um sentido diferente à atividade artís­tica, e não devem por isso ser confundidas.
A ARTE COMO IMITAÇÃO DA NATUREZA
A definição da arte como uma imitação da natureza não é original em Aristóteles. Platão já a definira assim, e parece mesmo que essa era a compreensão usual da arte na Grécia. Por ser também um princípio motor que leva uma forma a manifestar-se plenamente na matéria, a arte imita a natureza.
É importante observar que Aristóteles não define a arte como imitação (ou figuração) dos entes naturais, mas da própria natureza.
Como foi visto no contexto
da Metafísica e da Física, a natu­reza é um princípio motor, um princípio de criação que leva a forma a manifestar-se plenamen­te na matéria na qual se realiza. O mesmo faz o artista quando imprime à matéria a forma determi­nada por sua arte. São múltiplos os exemplos em que Aristóteles se refere à arte e ao artista para explicar o que é a natureza, como ela age e se manifesta. A nature­za é retratada como uma espécie de artista inconsciente da obra que produz.
Na Poética nós o vemos retomar a mesma conexão entre a natureza e a arte, mas numa perspectiva invertida, uma vez que Aristóteles, aqui, está interes­sado na compreensão da arte e não da natureza.
No caso das artes utilitá­rias, a arte completa e corrige a natureza onde esta falha. Um exemplo é o arquiteto que cons­trói o abrigo para o homem "imi­tando" abrigos fornecidos primiti­vamente pela própria natureza, ou o médico que atua para res­taurar a saúde onde ela foi perdi­da. Ao fazer isso, no entanto, o artista (ou artesão) segue as indi­cações e a direção apontadas pela própria natureza.
As belas-artes - ou artes imitativas -, analisadas a partir da tragédia, não imitam os obje­tos naturais nem visam corrigir Ou completar a natureza. Não são artes figurativas, assim como n são utilitárias. O que a tragédia imita e reproduz no espaço delimitado do palco, e durante um tempo estabelecido, são os costumes, caracteres ou qualidades morais (ethos), os sentimentos e paixões que se apoderam dos homens e os dominam (pathos), e as ações dirigidas pela vontade (praxis). Ela imita, enfim, ri próprio drama humano. Esse é o tema central da tragédia grega. A des­crição do ambiente físico ou natu­ral só aparece na condição de ce­nário onde se desenrola o drama.
A arte, tal como a ciência, visa a verdade; mas não a verda­de abstrata e teórica das defini­ções científicas, e sim aquela que se manifesta a partir de situações concretas onde o universal da tra­gédia humana se deixa retratar na individualidade de um destino pessoal.
Aristóteles não identifica a imitação com a reprodução figu­rativa. Isso pode ser comprovado quando diz que, de todas as ar­tes, a que "imita" com mais fideli­dade o caráter e as emoções é a dança. Imitar, no caso, está mais relacionado com manifestar, ex­pressar, do que reproduzir de for­ma figurada.
A ARTE COMO PURIFICAÇÃO
Platão, na sua República, havia condenado a tragédia, as sim como várias outras formas de arte, alegando que excitavam as paixões, causando uma inquieta­ção contrária ao equilíbrio do in­divíduo, capaz de afastá-Io da se­rena contemplação das verdades eternas ..
Já Aristóteles, ao contrário, não considera conveniente repri­mir ou extinguir no homem a par­te emotiva da alma. O equilíbrio rompido pela manifestação das paixões deve ser reencontrado a partir do momento em que esses sentimentos possam se manifes­tar de forma controlada.
Representando o drama com todo o choque de sentimen­tos e paixões, sofrimentos, espe­ranças e ações no espaço delimi­tado pelo palco, a tragédia permi­te que o espectador, identificando-se com os personagens, deixe fluir nele esses mesmos sentimentos (em especial a piedade e o temor), sem deixar-se, por outro lado, do­minar por eles. A tragédia opera assim uma purificação ou purga­ção (catharsis) das emoções. Essa é, segundo o filósofo, uma das suas principais finalidades.
Através da arte o mulher lida com as forças irracionais ou sobrenaturais que o ameaçam, sem entregar-se a elas. Aquilo que não se deixa verbalizar nem expressar de forma racional e objetiva é vivenciado e pode fluir, colocando-se assim diante do ho­mem e permitindo-lhe conhecer e lidar com esses sentimentos sem nenhum risco. Vivemos, através do personagem, o drama da es­colha; sofremos a ameaça do castigo divino; presenciamos a morte e o sofrimento compartilha­dos sem que nenhum desses sentimentos nos domine inteira­mente e nos perturbe.
A ordem rompida pela ação dramática se recompõe inabalável e eterna para além do palco e da ação descrita. A erupção do caos e da paixão que introduzem a de­sordem é permitida dentro do es­paço e do tempo que lhe são con­cedidos pela ação dramática. Des­sa forma, por meio da arte, o ho­mem domina as forças que, no cotidiano, o ameaçam e oprimem.
A arte do poeta permite que o universal se manifeste na sensível, fazendo apelo à imagi­nação e à sensibilidade, e combi­na, num paradoxo, o inesperado com o inevitável.
Tocando a emoção e libe­rando-a, a arte trágica leva o ho­mem a recuperar sua tranquilidade. Essa seria a origem do prazer estético. Claro está que, para produzi-lo, é preciso que o especta­dor seja levado a identificar-se com os sentimentos manifestos pelos personagens; mas é preci­so também que esses sentimen­tos se manifestem de forma gran­diosa, não mascarados nem mis­turados aos pequenos problemas e preocupações do cotidiano dos homens comuns.
A tragédia retrata o drama da existência humana, mas o faz com tal grandiosidade que o es­pectador, ao identificar-se e reco­nhecer-se nos personagens por meio de emoção, se sinta, ele mesmo, engrandecido por partici­par da espécie humana.
CONCLUSÃO
Os outros livros da Poética, anunciados logo no inicio da obra, e que tratariam da comédia e dos ditirambos, foram perdidos. Mas o que restou da obra de Aris­tóteles é, até hoje, peça funda­mental para o estudo da estética. Ela acabou por tornar-se tão imor­tal quanto a tragédia grega, que ainda comove os homens.