CENTRO EDUCACIOANL 06 – GAMA /DF
PROF: DENYS F. DA COSTA
DISCIPLINA : FILOSOFIA
TEXTO BASE PARA AVALIAÇÃO ORAL DO BIMESTRE
“CRÍTICA DAS IDEOLOGIAS
E DO SENSO COMUM “
Seguramente,
você já ouviu ou pronunciou, várias vezes, expressões como: “Deus ajuda a quem
cedo madruga”; “filho de peixe, peixinho é”; “todo político é corrupto”. E você
já se perguntou sobre o fundamento dessas ou outras expressões? Quando a nossa
atitude traz a dúvida, a interrogação, a problematização, está nascendo a
dimensão filosófica em nossa razão, que é essencialmente crítica. Trata-se da
percepção e da crítica dos pressupostos subjacentes às afirmativas e aos discursos.
Assim, o filosofar é uma constante busca pela razão de ser e pelo sentido de
cada afirmativa.
A reflexão
filosófica é filha do tempo. Assim, os conceitos são historicamente
construídos. Nas muitas tradições ou nas diversas escolas filosóficas que
existem em nossa civilização, há muitos conceitos abordados que, ao serem confrontados,
aparecem antagônicos. Assim, um mesmo conceito poderá ser abordado de forma bem
distinta entre os diferentes pesadores. Alguns filósofos chegam a absolutizar
um conceito, outros, ao contrário, exaltam a dimensão positiva desse conceito.
Um exemplo disso vemos, aqui, no conceito de ideologia.
Historicamente,
diferentes sentidos foram atribuídos à ideologia. Originariamente, em conformidade
com o criador do termo, o filósofo francês Antoine Destutt de Tracy (1796-1836),
significava a ciência das ideias que sustentavam a vida social. Nesse sentido,
o objetivo dessa ciência, chamada ideologia, seria o de estudar a origem e o
desenvolvimento de nossas ideias.
Contudo, não
demorou muito para que os intelectuais e revolucionários alemães Karl Marx (1818-1883)
e Friedrich Engels (1829-1885) atribuíssem à ideologia um sentido ,pejorativo,
o sentido negativo de ilusão, de consciência deformada ou invertida da
realidade, produzida pela classe dominante. Nessa visão, a ideologia é
instrumento da classe hegemônica para mascarar a realidade, para impedir nos
dominados a consciência da dominação, da opressão. E o mais grave é que a
ideologia consegue fazer com que o oprimido coloque a culpa em si mesmo e não
perceba a relação dialética entre o empobrecido e o enriquecido. Dessa forma, a
ideologia realiza uma inversão da vida real.
A consciência jamais pode ser outra coisa do que o ser consciente, e o
ser dos homens é o seu processo de vida real. E, se, em toda a ideologia, os
homens e suas relações aparecem invertidos numa câmara escura, tal fenômeno decorre de
seu processo histórico de vida, do mesmo modo por que a inversão dos objetos
na retina decorre de seu processo de vida diretamente físico[. ..} Totalmente
ao contrário do que ocorre na Filosofia alemã, que desce do céu à terra, aqui
se ascende da terra ao céu. Ou, em outras palavras: não se parte daquilo que
os homens dizem, imaginam, ou representam, e tampouco dos homens pensados,
imaginados e representados para, a partir daí, chegar aos homens de carne e
osso; parte-se dos homens realmente ativos [...].
MARX, Kar]; ENGELS, Friedrich. A Ideologia alemã. Trad. José Gados
I3runi; Marco Aurélio Nogueira. São Pardo:
l-Iucitec, 1989. p. 37. (Fragmento)
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DESVELANDO IDEOLOGIAS E ALIENAÇÕES
Segundo
Marx, a ideologia é sempre um mascaramento da realidade, uma forma de pensar
que não é expressão da realidade vivida pelos homens, mas tentativa de
universalizar um jeito específico de pensamento, tentativa de universalizar
interesses particulares.
Com a criação e a universalização de uma
concepção particular; a ideologia opera uma inversão da realidade, fazendo algo
ou aparecer ou parecer ser, que em realidade não é. Por exemplo, quando alguém
diz: “O cara é pobre porque é preguiçoso.”, essa afirmativa é uma ideia ou uma
ideologia? Urna ideia que expressa a realidade, verificada na prática, ou uma
ideologia, algo criado, na mente de grupos particulares, para determinar uma
forma específica de pensar?
Para Marx, a
função principal da ideologia é proceder a uma inversão da realidade, fazer com
que a realidade apareça de uma determinada forma, conveniente a um grupo
específico e dominante. Portanto, a ideologia, em Marx, tem a função de não
permitir a percepção da alienação, alienando a consciência, impedindo a revolta
contra a dominação. Sem precisar recorrer à violência física, a ideologia
mantém a “unidade” e a “coesão” da sociedade, escondendo as distorções,
mascarando as desigualdades sociais e ocultando a exploração. Assim, podemos
dizer que a ideologia é instrumento de alienação da mente do oprimido,
fazendo-o pensar e agir da maneira que convém à classe dominante. Essa
consciência invertida da realidade é massificação, falta de pensamento
autônomo, porque vê o que a ideologia quer que seja. Assim, a ideologia camufla
a divisão existente dentro da sociedade, apresentando-a como una e harmônica,
como se todos partilhassem dos mesmos objetivos e ideais.
Generalizar ou universalizar interesses
particulares é a grande estratégia da ideologia. Ela orienta e legitima as
ações de determinados grupos na história. A realidade nos aparece invertida
pela ótica da ideologia. Diante de determinadas realidades injustas e absurdas
(sem sentido), ouve-se repetidamente: “Deus quer assim”; “o carma que eu
preciso carregar”; “A situação está negra”; “Do pau que nasce torto até a cinza
é torta”, “Querer é poder”. Ou, ainda, “Os pobres não enriquecem, porque não se esforçam”, ou “Esta criança não
aprende porque não é inteligente”. Na verdade, a causa real de os pobres não
enriquecerem ou de a fome continuar não está na possível preguiça individual,
mas no modelo de desenvolvimento e de sociedade.
Ao impor a sua
visão de mundo como “a realidade”, a classe dominante também é influenciada
por sua própria ideologia. Ao universalizar a particularidade de sua posição
social, ela estabelece como “natural” a sua dominação, a tal ponto que a “ordem
estabelecida” não lhe pareça ideológica, e sim justa e natural.
Dessa forma, a
ideologia aliena as mentes, tornando-as reféns de um pensar que lhes é
estranho, externo. E justamente isso que significa o termo alienação, tornar-se
alheio, pertencer a outro, perder a autonomia. Por isso, é correto afirmar que
a ideologia, em conformidade com o pensamento de K. Marx, gera a alienação,
impedindo a formação de uma consciência crítica da realidade, mascarando,
ocultando a opressão e a injustiça social. -
Nesse contexto
de universalização de uma única forma de pensar, de formatação das mentes para
não enxergarem a realidade, a postura filosófica se mostra na pergunta: “será?”.
Aqui, a Filosofia deve exercer o seu papel de crítica das ideologias. E preciso
diferenciar e não confundir uma realidade natural com uma realidade normal. É normal, portanto,
cultural, vermos entre nós pobreza e miséria, mas não é natural a pobreza e a
miséria, uma vez que são criação humana. Fazer essas distinções se torna
fundamental para mudar a nossa postura diante da vida.
Em suma,
positivamente, a ideologia exerce a função de articuladora do grupo social,
tornando a sociedade unida em torno de crenças comuns que fazem justamente a
força das tradições. No sentido negativo, a unidade é falsa, pois esconde a
divisão injusta, os preconceitos, as unilateralidades da sociedade para manter
a dominação. Nesse sentido, a ideologia torna-se um poderoso instrumento de
dominação por homogeneizar as diferenças individuais, regionais ou culturais e
as desigualdades entre as classes sociais. A ideologia anestesia as
consciências sociais em proveito das classes hegemônicas.
Essa ideologia
é veiculada das mais diversas maneiras: pelos meios de comunicação de massa, família, escola, igreja, Exército,
empresas, etc. É preciso perceber que não há neutralidade. Sempre há interesses
em jogo. É preciso discernir se o que está em jogo é o bem comum ou interesses
particulares.
Corno
resultado da ação das ideologias, temos o senso comum, no qual encontramos um
modo de pensar ingênuo e acrítico, permeado pela ideologia que impede a visão
autônoma, gerando uma mentalidade preconceituosa, já que é irrefletida.
Considerando o
tema da ideologia em sua relação com a produção da alienação, a Filosofia se
realiza como saber desperto, crítico, atento às sutilezas, hábil no diagnóstico
de distorções presentes nos discursos e das contradições presentes na sociedade.
Texto extraído do livro FILOSOFIA POR UMA
INTELIGÊNCIA DA COMPLEXIDADE
MEIER, Celito