quarta-feira, 19 de junho de 2019

TEXTO BASE PARA O ESTUDO DIRIGIDO ( PENSAMENTO FILOSOFICO DE NIEZSCHE)



TEXTO : O PENSAMENTO FILOSÓFICO DE NIETZSCHE
            Ao falar de força, Nietzsche não faz um elogio a violência, e sim da tendência a ultrapassar resistência, observável principalmente nos seres vivos. Ser forte não é ser violento, porque quem é verdadeiramente forte não busca exterminar os outros, mas dominá-los o suficiente para manter o jogo em que os fortes podem se afirmar. Os platônicos, sobretudo cristãos, cultivariam uma atração doentia pela fraqueza e se apegariam a ele, segundo Nietzsche, em vez de lutar com as resistências que a vida lhe opõe. Fogem da luta e vivem no mundo dos sonhos, especialmente os sonhos com uma “vida melhor” na eternidade junto com Deus.
            No livro Crepúsculo dos Ídolos, Nietzsche oferece uma síntese de sua critica.
            A PRIMEIRA E A SEGUNDA TESES de Nietzsche tomam como ponto de partida a impossibilidade de demonstrar a existência de algumas outras realidades diferentes da nossa. Se demonstrar significa, de modo geral, Provar ou dar boas razões para acreditar naquilo que se afirmar, então se torna difícil demonstrar a existência de uma realidade diferente desta ( o mundo) , pois nada a prova rigorosamente . Por isso, o outro mundo é um não ser, é o nada, e o nada não existe. Platônicos se cristãos falaram, então do não ser, do nada, de algo que não existe. Isso é uma ilusão de óptica e ilusão ética, pois se ética é algo que se refere aos valores morais, então os platônicos e os cristãos guiaram-se por valores inventados com base em uma ilusão.
            A ilusão de ótica e de ética, comentada por Nietzsche na segunda preposição de seu texto, liga-se diretamente com o que é  dito na terceira preposição: fabular sobre outro é algo que não tem sentido e resulta de um instinto de calunia de apequenamento e de suspeita contra a vida. Esse instinto explicaria como ela é  eles sobretudo, a atitude dos cristãos, pois em vez de entra na vida (como campo de forças) e explica-la como ela é, eles se deixam levar por esse instinto de calunia e atacam os fortes, pretendo faze-los sentir-se culpados por serem fortes.
            Na quarta proposição, Nietzsche explica de outra maneira o que disse nas três primeiras, Ele afirma que dividir o mundo em dois, o Verdadeiro e o aparente, é um sintoma de decadência. Se correlacionarmos a quarta proposição com a terceira, poderemos ter já uma visão do que é decadência: em primeiro lugar, ela significa não olhar para a vida tal como ela é, mas se refugar em ilusões. Além disso, na quarta proposição, Nietzsche dá outras indicações do que é a decadência. Ela se refere a vida que está em diminuição e abatimento. Ela pode, porem retornar suas forças e revigorar-se, para tanto seria importante denunciar a ilusão platônico – cristã.
            Com efeito. Nietzsche não era um pessimista, pelo contrário, lutava pela afirmação da vida. A prova disso vem ainda da quarta, proposição, pois ele proclama aquilo que um artista pode fazer diante da decadência: em vez de chamar a realidade de aparência, pode considerar que o chamaram de aparência é o mundo mesmo: é a transformação a instabilidade, a efemeridade. A aparência seria finalmente compreendida, ela seria vista corretamente. Assumindo-a tal como ela é, o artista dia “sim” a ela, mesmo diante de tudo o que é problemático e terrível. O artista é trágico, ou seja, assume que a vida tem prazeres e dores, coisa boas e coisas difíceis. È por isso que o artista é dionisíaco: ele percebe vitalidade pôr os lados, mesmo diante dos problemas e das coisas terríveis. Pode-se mesmo afirmar que, de acordo com Nietzsche, para haver um bom filósofo, ele deve ser um artista
. Nietzsche menciona ainda o filósofo alemão Imanuel Kant e o chama de capcioso, pois, embora Kant tenha tentado construir uma filosofia não baseada em outro mundo, acabou justificando sua ética pela crença em Deus e pelo temor do castigo eterno (portanto, pela referência a um outro mundo.
  • A CONTRADIÇÃO DA CONTRADIÇÃO.
A filosofia de Frierich Nietzsche representou como ele mesmo declara, uma contradição da filosofia platônica e cristã. Isso significa que sele procurou elaborar uma filosofia oposta ao platonismo e ao cristianismo, a ponto de anula-los.
            As contradições, em Filosofia, têm um papel de grande importância, quando um filosofo procura mostrar que outro está equivocado e propõe uma nova maneira de pensar, significa que ele pretende analisar o pensamento do filósofo contradito e conduzir a uma reflexão mais apropriada a experiência humana.
            Ocorre, porém que alguns especialistas do pensamento de Platão e da história do cristianismo tem mostrado que Nietzsche, em seu esforço de contradizer o platonismo e o pensamento cristão, não operou uma analise inteiramente adequada de ambos. Dessa perspectiva, seria possível realizar uma contradição da contradição nietzschiana, a fim de chegar a conclusões filosóficas mais condizentes com os fatos históricos.
            Por exemplo, parece coerente lembrar que Platão considera as formas como identidades comuns das coisas se só diferencia o aspecto sensível do aspecto inteligível com finalidades pedagógicas, sem dividir o mundo em dois. Do lado do pensamento cristão, por sua vez, remeter a deus não significa necessariamente falar de outro mundo, uma vez que a presença divina é encontrada neste mundo e no corpo físico. O modelo divino do amor terna mesmo inadequado pensar que a religião judaica –cristã seja uma pratica que desenvolve o sentimento de culpa nas pessoas, pois a misericórdia e a compaixão são formas de valorizar a vida mesmo em seus tropeços, aumentando o gosto de viver.
            Segundo historiadores com Jean Delumeau , o tema da culpa como sentimento doentio é algo que aparece  só tardiamente  no pensamento cristão, por volta dos séculos XVI - XVII– quando se acentuam os debates  sobre  o sofrimento de Cristo levando a uma identificação exagerada com o pagamento pelas faltas humanas . Antes disso, os erros humanos ( a culpa) eram vistos como  ocasião de encontrar  a deus , a ponto de cantar , em cerimonias religiosas , o verso atribuído a Agostinho de Hipona: “ Ó culpa feliz, que trouxe  ao mundo um tão grande salvador”. Seja como for, consiste em um equívoco histórico afirmar que o sentimento de culpa pertence a natureza ou a essência do cristianismo.
            Quando ao desprezo pelo corpo, atribuído tanto a Platão como aos Cristãos, trata-se de outro exagero histórico: a atenção aos riscos da compreensão dos cinco sentidos como única fonte de conhecimento é interpretada como uma desconfiança radical com relação a corpo. Contudo, embora Platão usasse algumas expressões de grande impacto para falar do corpo (por exemplo) “túmulo da alma, elas eram metáforas do aprisionamento que a inteligência humana pode viver se acreditar que o mundo é apenas aquilo que os cinco sentidos revelam. Ademais, os corpos e as aparências físicas serem concebidos por ele como o primeiro momento em que se pode reconhecer a presença da Beleza. Os cristãos, por sua vez mesmo denunciando os riscos de confiar no corpo e de seguir  os seus impulsos , viam nele a ocasião da salvação ( o lugar do encontro com Deus)
            Gregório de Nazianzo , Platônico cristão, é um bom testemunho para confirmar a necessidade de uma revisão histórica do modo como tem sido a historiografia das tradições platônicas e cristã desde o século XIX. Ele combina tradição, lembrando que o corpo permite chegar ao que há de mais belo (Platonismo) e é parte essencial do ser humano, ressuscitando para a vida com Deus depois da porte(Fé cristã).
            Gregório de Nazianzo adota o vocabulário do amigo e do inimigo para falar do corpo, porque  alguns dos destinatários de sua obra eram os adeptos do maniqueísmo, que refletiam sobe todas coisas em termos de oposição ( como na luta  entre o Bem e o Mal. Adotando a estratégia  de falar a língua dos manqueis , Gregório  leva a perceber que no fundo, o corpo  não é um inimigo ele tem suas diferenças com relação ao eu ou ao pensamento que se sente como algo que está dentro do corpo ou que entende como algo que possui um corpo. Mas assim como em uma relação de amizade as diferenças de um amigo não fazem dele um inimigo, assim também não é contrario ao eu ou ao pensamento que unido a ele. Se o eu sente medo e duvida de certas coisas específicas de seu amigo, ao mesmo tempo ele deseja e ama.
            Esse texto de Gregório de Nazianzo permite um olhar diferente para crítica de Nietzsche aos pensamentos Platônico e cristão. Considerando também trabalhos historiadores mais atualizados, hoje é possível pensar que Nietzsche talvez não tenha obtido uma visão adequada do real platonismo de Platão, nem de sua crítica aos Platônicos que dividem o mundo em dois ou aos cristãos que defendem um desprezo do mundo e do corpo.
            Nietzsche dispunha dos recursos historiográficos do século XIX, por isso, não podia estudar nem Platão nem o cristianismo com os dados históricos e filosóficos de que dispõe hoje. Além disso, não dúvida de que Nietzsche entrou em contato com formas platônicas e cristã de pensamento que cultivam um espiritualismo prejudicial     a      inserção humana no mundo, fundado na ideia de que a alma é independente do corpo. Contra essas formas espiritualismos desencarnado, o pensamento nietzschiano guarda toda a sua atualidade. Aliais, dessa perspectiva, o Verdadeiro Platão (o da obra Platônica) e os pensadores cristão ligados as fontes bíblicas e patrísticas poderiam, sem dúvida, dialogar intensamente com o filosofo alemão.