TEXTO
: O PENSAMENTO FILOSÓFICO DE NIETZSCHE
Ao
falar de força, Nietzsche não faz um elogio a violência, e sim da tendência a
ultrapassar resistência, observável principalmente nos seres vivos. Ser forte
não é ser violento, porque quem é verdadeiramente forte não busca exterminar os
outros, mas dominá-los o suficiente para manter o jogo em que os fortes podem
se afirmar. Os platônicos, sobretudo cristãos, cultivariam uma atração doentia
pela fraqueza e se apegariam a ele, segundo Nietzsche, em vez de lutar com as resistências que a vida lhe opõe. Fogem da luta e vivem no mundo dos sonhos,
especialmente os sonhos com uma “vida melhor” na eternidade junto com Deus.
No livro Crepúsculo dos Ídolos,
Nietzsche oferece uma síntese de sua critica.
A PRIMEIRA E A SEGUNDA TESES de Nietzsche tomam como ponto de partida a impossibilidade de demonstrar a existência
de algumas outras realidades diferentes da nossa. Se demonstrar significa, de
modo geral, Provar ou dar boas razões para acreditar naquilo que se afirmar,
então se torna difícil demonstrar a existência de uma realidade diferente desta
( o mundo) , pois nada a prova rigorosamente . Por isso, o outro mundo é um não
ser, é o nada, e o nada não existe. Platônicos se cristãos falaram, então do
não ser, do nada, de algo que não existe. Isso é uma ilusão de óptica e ilusão
ética, pois se ética é algo que se refere aos valores morais, então os
platônicos e os cristãos guiaram-se por valores inventados com base em uma
ilusão.
A ilusão de ótica e de ética,
comentada por Nietzsche na segunda preposição de seu texto, liga-se diretamente
com o que é dito na terceira preposição:
fabular sobre outro é algo que não tem sentido e resulta de um instinto de
calunia de apequenamento e de suspeita contra a vida. Esse instinto explicaria
como ela é eles sobretudo, a atitude dos
cristãos, pois em vez de entra na vida (como campo de forças) e explica-la como
ela é, eles se deixam levar por esse instinto de calunia e atacam os fortes,
pretendo faze-los sentir-se culpados por serem fortes.
Na quarta proposição, Nietzsche
explica de outra maneira o que disse nas três primeiras, Ele afirma que dividir
o mundo em dois, o Verdadeiro e o aparente, é um sintoma de decadência. Se
correlacionarmos a quarta proposição com a terceira, poderemos ter já uma visão
do que é decadência: em primeiro lugar, ela significa não olhar para a vida tal
como ela é, mas se refugar em ilusões. Além disso, na quarta proposição,
Nietzsche dá outras indicações do que é a decadência. Ela se refere a vida que
está em diminuição e abatimento. Ela pode, porem retornar suas forças e
revigorar-se, para tanto seria importante denunciar a ilusão platônico –
cristã.
Com efeito. Nietzsche não era um pessimista,
pelo contrário, lutava pela afirmação da vida. A prova disso vem ainda da quarta,
proposição, pois ele proclama aquilo que um artista pode fazer diante da decadência:
em vez de chamar a realidade de aparência, pode considerar que o chamaram de
aparência é o mundo mesmo: é a transformação a instabilidade, a efemeridade. A aparência
seria finalmente compreendida, ela seria vista corretamente. Assumindo-a tal
como ela é, o artista dia “sim” a ela, mesmo diante de tudo o que é problemático
e terrível. O artista é trágico, ou seja, assume que a vida tem prazeres e
dores, coisa boas e coisas difíceis. È por isso que o artista é dionisíaco: ele
percebe vitalidade pôr os lados, mesmo diante dos problemas e das coisas
terríveis. Pode-se mesmo afirmar que, de acordo com Nietzsche, para haver um
bom filósofo, ele deve ser um artista
.
Nietzsche menciona ainda o filósofo alemão Imanuel Kant e o chama de capcioso,
pois, embora Kant tenha tentado construir uma filosofia não baseada em outro
mundo, acabou justificando sua ética pela crença em Deus e pelo temor do
castigo eterno (portanto, pela referência a um outro mundo.
- A CONTRADIÇÃO DA CONTRADIÇÃO.
A filosofia
de Frierich Nietzsche representou como ele mesmo declara, uma contradição da
filosofia platônica e cristã. Isso significa que sele procurou elaborar uma
filosofia oposta ao platonismo e ao cristianismo, a ponto de anula-los.
As
contradições, em Filosofia, têm um papel de grande importância, quando um
filosofo procura mostrar que outro está equivocado e propõe uma nova maneira de
pensar, significa que ele pretende analisar o pensamento do filósofo contradito
e conduzir a uma reflexão mais apropriada a experiência humana.
Ocorre,
porém que alguns especialistas do pensamento de Platão e da história do
cristianismo tem mostrado que Nietzsche, em seu esforço de contradizer o
platonismo e o pensamento cristão, não operou uma analise inteiramente adequada
de ambos. Dessa perspectiva, seria possível realizar uma contradição da
contradição nietzschiana, a fim de chegar a conclusões filosóficas mais
condizentes com os fatos históricos.
Por
exemplo, parece coerente lembrar que Platão considera as formas como
identidades comuns das coisas se só diferencia o aspecto sensível do aspecto
inteligível com finalidades pedagógicas, sem dividir o mundo em dois. Do lado
do pensamento cristão, por sua vez, remeter a deus não significa
necessariamente falar de outro mundo, uma vez que a presença divina é encontrada
neste mundo e no corpo físico. O modelo divino do amor terna mesmo inadequado
pensar que a religião judaica –cristã seja uma pratica que desenvolve o
sentimento de culpa nas pessoas, pois a misericórdia e a compaixão são formas
de valorizar a vida mesmo em seus tropeços, aumentando o gosto de viver.
Segundo
historiadores com Jean Delumeau , o tema da culpa como sentimento doentio é
algo que aparece só tardiamente no pensamento cristão, por volta dos séculos
XVI - XVII– quando se acentuam os debates
sobre o sofrimento de Cristo
levando a uma identificação exagerada com o pagamento pelas faltas humanas .
Antes disso, os erros humanos ( a culpa) eram vistos como ocasião de encontrar a deus , a ponto de cantar , em cerimonias
religiosas , o verso atribuído a Agostinho de Hipona: “ Ó culpa feliz, que
trouxe ao mundo um tão grande salvador”.
Seja como for, consiste em um equívoco histórico afirmar que o sentimento de culpa
pertence a natureza ou a essência do cristianismo.
Quando
ao desprezo pelo corpo, atribuído tanto a Platão como aos Cristãos, trata-se de
outro exagero histórico: a atenção aos riscos da compreensão dos cinco sentidos
como única fonte de conhecimento é interpretada como uma desconfiança radical
com relação a corpo. Contudo, embora Platão usasse algumas expressões de grande
impacto para falar do corpo (por exemplo) “túmulo da alma, elas eram metáforas
do aprisionamento que a inteligência humana pode viver se acreditar que o mundo
é apenas aquilo que os cinco sentidos revelam. Ademais, os corpos e as
aparências físicas serem concebidos por ele como o primeiro momento em que se
pode reconhecer a presença da Beleza. Os cristãos, por sua vez mesmo denunciando
os riscos de confiar no corpo e de seguir
os seus impulsos , viam nele a ocasião da salvação ( o lugar do encontro
com Deus)
Gregório
de Nazianzo , Platônico cristão, é um bom testemunho para confirmar a
necessidade de uma revisão histórica do modo como tem sido a historiografia das
tradições platônicas e cristã desde o século XIX. Ele combina tradição,
lembrando que o corpo permite chegar ao que há de mais belo (Platonismo) e é
parte essencial do ser humano, ressuscitando para a vida com Deus depois da porte(Fé
cristã).
Gregório
de Nazianzo adota o vocabulário do amigo e do inimigo para falar do corpo,
porque alguns dos destinatários de sua
obra eram os adeptos do maniqueísmo, que refletiam sobe todas coisas em termos
de oposição ( como na luta entre o Bem e
o Mal. Adotando a estratégia de falar a
língua dos manqueis , Gregório leva a
perceber que no fundo, o corpo não é um
inimigo ele tem suas diferenças com relação ao eu ou ao pensamento que se sente
como algo que está dentro do corpo ou que entende como algo que possui um
corpo. Mas assim como em uma relação de amizade as diferenças de um amigo não
fazem dele um inimigo, assim também não é contrario ao eu ou ao pensamento que
unido a ele. Se o eu sente medo e duvida de certas coisas específicas de seu
amigo, ao mesmo tempo ele deseja e ama.
Esse
texto de Gregório de Nazianzo
permite um olhar diferente para crítica de Nietzsche aos pensamentos Platônico
e cristão. Considerando também trabalhos historiadores mais atualizados, hoje é
possível pensar que Nietzsche talvez não tenha obtido uma visão adequada do
real platonismo de Platão, nem de sua crítica aos Platônicos que dividem o
mundo em dois ou aos cristãos que defendem um desprezo do mundo e do corpo.
Nietzsche
dispunha dos recursos historiográficos do século XIX, por isso, não podia
estudar nem Platão nem o cristianismo com os dados históricos e filosóficos de
que dispõe hoje. Além disso, não dúvida de que Nietzsche entrou em contato com
formas platônicas e cristã de pensamento que cultivam um espiritualismo prejudicial a inserção humana no mundo, fundado
na ideia de que a alma é independente do corpo. Contra essas formas
espiritualismos desencarnado, o pensamento nietzschiano guarda toda a sua
atualidade. Aliais, dessa perspectiva, o Verdadeiro Platão (o da obra
Platônica) e os pensadores cristão ligados as fontes bíblicas e patrísticas poderiam,
sem dúvida, dialogar intensamente com o filosofo alemão.
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