CENTRO EDUCACIOANL 06 – GAMA /DF
PROF: DENYS F. DA COSTA
DISCIPLINA : FILOSOFIA
TEXTO BASE PARA AVALIAÇÃO ORAL DO BIMESTRE
O RACIONALISMO DE RENÉ DESCARTES
René Descartes
(1596-1650) é considerado o pai da Filosofia moderna. Em suas obras Discursos
do Método e Meditações metafísicas aborda o problema do conhecimento.
Com Descartes,
o racionalismo moderno retoma a metodologia empregada pelo racionalismo
socrático-platônico, isto é, abordando o mundo sensível, buscando superar as
opiniões contrárias e ilusórias em direção à verdade. Assim, o exame do erro,
dos nossos preconceitos, suas causas e formas receberão especial atenção.
Para tanto,
criticando o modelo de ciência medieval, superando a concepção escolástica de
inspiração aristotélica, o projeto filosófico de Descartes consiste na defesa
de um novo modelo de ciência, um novo método, seguindo os passos de Copérnico,
Kepler e Galileu.
Em linhas
gerais, podemos dizer que o programa da Filosofia de Descartes consiste em
estabelecer e desenvolver o uso disciplinado da razão livre e autônoma, na
busca da verdade do real.
Partindo da
racionalidade como atributo humano fundamental, Descartes vincula o erro ao
sensível, às percepções e suas linguagens. Para o racionalismo, a percepção
sensível é confusa e é fonte de erros, de obscuridade e visões provisórias e
particulares. Ora, a consciência dos
erros originados das sensações faz Descartes buscar um método que lhe
possibilite chegar a verdades indubitáveis, que resistam a qualquer duvida.
Descartes tem
por objetivo, inicialmente, chegar a uma primeira verdade que não possa ser
posta em dúvida. Propõe-se encontrar uma certeza básica, imune às dúvidas
céticas sobre a possibilidade de ciência em geral. Embora não fosse cético,
considerava o ceticismo muito importante, devido as questões que colocava sobre
a possibilidade de um conhecimento seguro. Para Descartes, o esforço será em
refutar o ceticismo. Para tanto, inicialmente, assume o ceticismo, levando-o às
suas últimas consequências. Devido a isso, estabelece a dúvida como seu método.
Assim, a argumentação de Descartes começa com a dúvida metódica, mediante a
qual coloca em questão todo o conhecimento adquirido da tradição, toda a
ciência clássica, todas as opiniões tidas como certas até então.
Na primeira
meditação, Descartes estabelece os argumentos para refutar o ceticismo e buscar
a verdade que supera qualquer dúvida. No primeiro argumento, contra a ilusão
dos sentidos, Descartes inicia o caminho na busca pelo conhecimento verdadeiro.
O segundo argumento de Descartes considera a inexistência de um critério seguro
para distinguir o sonho da vigilância. Para Descartes, tudo o que acreditamos
perceber claramente pode ser apenas expressão de um sonho no qual estamos. Esse
segundo argumento, contudo, se apresenta ainda insuficiente, uma vez que a
ilusão que ele revela não é propriamente sobre o que percebemos, revela somente
a ilusão do nosso tipo de percepção. Em outras palavras, embora a percepção
(sonho) não corresponda à realidade, os objetos que percebemos, em suas cores e
formas, têm base real.
Levando a
dúvida a suas últimas consequências, Descartes estabelece o terceiro argumento:
a hipótese de um “gênio maligno”. Nessa hipótese, Descartes afirma que Deus
pode ter criado o ser humano de tal forma que ele acreditasse na existência de
céu, terra e todas as realidades, sem que elas efetivamente existissem. Assim,
essa hipótese supõe que ele poderia ter sido criado não por um deus, mas por um
“gênio maligno” que o enganasse sobre a existência das realidades e sobre suas
verdades. Esse gênio maligno, sendo um elemento externo todo-poderoso, pode
criar no ser humano ilusões. Como, então, ter certeza de algo? Assim, em
decorrência, Descartes considera que deve suspender todos os seus juízos sobre
todas as coisas, duvidar de tudo. Com essa atitude, Descartes diz que o
espírito se preparava contra as armadilhas desse deus enganador.
Na segunda
meditação, Descartes retoma o caminho da dúvida buscando a certeza. Descartes
chega à seguinte conclusão:
Esta
proposição: eu sou, eu existo é necessariamente verdadeira todas as vezes que
eu a enuncie ou a conceba em meu espírito.
Nessa dinâmica
da dúvida, Descartes rejeitará como falso tudo aquilo que puder receber a sua
dúvida. Em busca da certeza evidente, na qual e a partir da qual pretende
radicar o seu projeto de reconstrução do sabei; Descartes estabelece a dúvida
metódica, a dúvida como modo correto de caminhar. Por isso, é fácil perceber as
dimensões hiperbólicas (exageradas) e radicais desse processo de duvidar.
Após se ver
mergulhado em dúvidas, nasce a intuição fundamental de Descartes: percebe-se
duvidando, com certeza e clareza. E, ao duvidai; encontra-se pensando. A
consciência de que está pensando vem expressa no cogito ergo sum: “penso, logo
existo”. Uma coisa que pensa, existe, pelo menos enquanto pensa. Descartes
encontra, assim, a certeza primeira.
Mas essa
certeza primeira do Cogito pode levar ao conhecimento de outras coisas, a
outras certezas? Após estabelecer a .evidência do Cogito, Descartes dá um novo
passo, afirmando que é possível ter certeza de que existe um ser que pensa (res
cogitans). Além disso, nada pode ser afirmado, uma vez que o nosso corpo, sendo
algo exterior, pertencendo ao mundo dos objetos, está sempre sujeito à dúvida.
Reconhecendo
como certa a existência de ideias, fica ainda a questão da certeza da
existência das coisas das quais as ideias procedem. Essa questão permanece, uma
vez que a própria mente pode ser a causa do objeto.
Por isso,
Descartes procura uma ideia que não possa ser derivada da mente humana. E a
conclusão à qual chega é que a ideia de Deus (um ser perfeito) não pode ser
causada por um ser imperfeito (o homem),efeito de uma vez que o efeito de uma
coisa não pode ser mais do que a sua causa. E essa ideia de Deus é uma ideia
inata, que nasce com a pessoa, é “a marca do criador em sua obra”. Ora, isso
significa que Deus existe. Dessa forma, com a prova da existência de Deus,
Descartes chega à segunda verdade.
Dessa forma,
além da res cogitas, ou seja, a coisa pensante, existe também a res extensa, a
coisa extensa. Para Descartes, pai do racionalismo moderno, o corpo é uma
realidade física e fisiológica, extensa com massa e movimento, e se encontra
submetido aos determinismos naturais, e sempre sujeito às dúvidas. Em
contrapartida, a mente humana não se encontra submissa às leis físicas. Essa
dicotomia acompanhará, doravante, a caminhada da Filosofia e das ciências
humanas. E importante perceber que uma das consequências do cogito cartesiano é
o dualismo, a dicotomia que se estabelece entre corpo e mente (consciência).
Conforme
vimos, o objetivo de Descartes é encontrar um fundamento seguro para o saber. O
caminho (método) tem como objetivo fundamental oferecer procedimentos através
dos quais o intelecto possa afastar-se tanto dos juízos precipitados quanto das
prevenções, ou seja, das opiniões pré-fabricadas a que aderimos acriticamente,
nas quais evitamos a responsabilidade de um juízo livre e racional. Dessa
forma, a razão deverá constantemente examinar-se a si mesma durante o processo
de busca da verdade.
Em sua obra Regras para a direção
do espirito, composta de 21 regras, René Descartes descreve o seu método, que
ele mesmo sintetiza em seu Discurso do Método, mediante quatro preceitos
fundamentais na busca do conhecimento verdadeiro:
1º Jamais acolher alguma coisa
como verdadeira sem a conhecê-la como tal;
2.° Dividir cada uma das
dificuldades em tantas partes quantas forem necessárias para melhor resolvê-las
3.° Ordenar os pensamentos,
começando pelos mais simples e fáceis de conhece; para progressivamente ir
subindo, degrau por degrau, até o conhecimento mais complexo;
4.° Proceder a constantes e completas
enumerações e revisões, para ter a certeza de não haver omitido nada.
Com base nesses preceitos,
podemos perceber que a evidência é critério decisivo de verdade para Descartes.
Sem a clareza e a distinção, não há verdade racional. Encontrar verdades claras
e distintas, ou seja, evidentes, será um trabalho árduo e disciplinado, uma vez
que é possível duvidar de tudo, considerando a relatividade e a provisoriedade
das opiniões, crenças e dos costumes das pessoas e dos povos.
Assim, o
racionalismo parte do pressuposto da existência de uma verdade universal,
acessível mediante atividade instrumental, superando as ilusões e os enganos
provenientes do âmbito sensível.
Texto
extraído do livro FILOSOFIA POR UMA INTELIGÊNCIA DA COMPLEXIDADE
MEIER,
Celito
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