sexta-feira, 1 de abril de 2016

TEXTO BASE PARA AVALIAÇÃO ORAL DO BIMESTRE - O RACIONALISMO DE RENÉ DESCARTES

CENTRO EDUCACIOANL 06 – GAMA /DF
PROF: DENYS F. DA COSTA
DISCIPLINA : FILOSOFIA
TEXTO BASE PARA AVALIAÇÃO ORAL DO BIMESTRE
O RACIONALISMO DE RENÉ DESCARTES
René Descartes (1596-1650) é considerado o pai da Filosofia moderna. Em suas obras Discursos do Método e Meditações metafísicas aborda o problema do conhecimento.
Com Descartes, o racionalismo moderno retoma a metodologia empregada pelo racionalismo socrático-platônico, isto é, abordando o mundo sensível, buscando superar as opiniões contrárias e ilusórias em direção à verdade. Assim, o exame do erro, dos nossos preconceitos, suas causas e formas receberão especial atenção.
Para tanto, criticando o modelo de ciência medieval, superando a concepção escolástica de inspiração aristotélica, o projeto filosófico de Descartes consiste na defesa de um novo modelo de ciência, um novo método, seguindo os passos de Copérnico, Kepler e Galileu.
Em linhas gerais, podemos dizer que o programa da Filosofia de Descartes consiste em estabelecer e desenvolver o uso disciplinado da razão livre e autônoma, na busca da verdade do real.
Partindo da racionalidade como atributo humano fundamental, Descartes vincula o erro ao sensível, às percepções e suas linguagens. Para o racionalismo, a percepção sensível é confusa e é fonte de erros, de obscuridade e visões provisórias e particulares.  Ora, a consciência dos erros originados das sensações faz Descartes buscar um método que lhe possibilite chegar a verdades indubitáveis, que resistam a qualquer duvida.
Descartes tem por objetivo, inicialmente, chegar a uma primeira verdade que não possa ser posta em dúvida. Propõe-se encontrar uma certeza básica, imune às dúvidas céticas sobre a possibilidade de ciência em geral. Embora não fosse cético, considerava o ceticismo muito importante, devido as questões que colocava sobre a possibilidade de um conhecimento seguro. Para Descartes, o esforço será em refutar o ceticismo. Para tanto, inicialmente, assume o ceticismo, levando-o às suas últimas consequências. Devido a isso, estabelece a dúvida como seu método. Assim, a argumentação de Descartes começa com a dúvida metódica, mediante a qual coloca em questão todo o conhecimento adquirido da tradição, toda a ciência clássica, todas as opiniões tidas como certas até então.
Na primeira meditação, Descartes estabelece os argumentos para refutar o ceticismo e buscar a verdade que supera qualquer dúvida. No primeiro argumento, contra a ilusão dos sentidos, Descartes inicia o caminho na busca pelo conhecimento verdadeiro. O segundo argumento de Descartes considera a inexistência de um critério seguro para distinguir o sonho da vigilância. Para Descartes, tudo o que acreditamos perceber claramente pode ser apenas expressão de um sonho no qual estamos. Esse segundo argumento, contudo, se apresenta ainda insuficiente, uma vez que a ilusão que ele revela não é propriamente sobre o que percebemos, revela somente a ilusão do nosso tipo de percepção. Em outras palavras, embora a percepção (sonho) não corresponda à realidade, os objetos que percebemos, em suas cores e formas, têm base real.
Levando a dúvida a suas últimas consequências, Descartes estabelece o terceiro argumento: a hipótese de um “gênio maligno”. Nessa hipótese, Descartes afirma que Deus pode ter criado o ser humano de tal forma que ele acreditasse na existência de céu, terra e todas as realidades, sem que elas efetivamente existissem. Assim, essa hipótese supõe que ele poderia ter sido criado não por um deus, mas por um “gênio maligno” que o enganasse sobre a existência das realidades e sobre suas verdades. Esse gênio maligno, sendo um elemento externo todo-poderoso, pode criar no ser humano ilusões. Como, então, ter certeza de algo? Assim, em decorrência, Descartes considera que deve suspender todos os seus juízos sobre todas as coisas, duvidar de tudo. Com essa atitude, Descartes diz que o espírito se preparava contra as armadilhas desse deus enganador.

Na segunda meditação, Descartes retoma o caminho da dúvida buscando a certeza. Descartes chega à seguinte conclusão:
Esta proposição: eu sou, eu existo é necessariamente verdadeira todas as vezes que eu a enuncie ou a conceba em meu espírito.
Nessa dinâmica da dúvida, Descartes rejeitará como falso tudo aquilo que puder receber a sua dúvida. Em busca da certeza evidente, na qual e a partir da qual pretende radicar o seu projeto de reconstrução do sabei; Descartes estabelece a dúvida metódica, a dúvida como modo correto de caminhar. Por isso, é fácil perceber as dimensões hiperbólicas (exageradas) e radicais desse processo de duvidar.
Após se ver mergulhado em dúvidas, nasce a intuição fundamental de Descartes: percebe-se duvidando, com certeza e clareza. E, ao duvidai; encontra-se pensando. A consciência de que está pensando vem expressa no cogito ergo sum: “penso, logo existo”. Uma coisa que pensa, existe, pelo menos enquanto pensa. Descartes encontra, assim, a certeza primeira.
Mas essa certeza primeira do Cogito pode levar ao conhecimento de outras coisas, a outras certezas? Após estabelecer a .evidência do Cogito, Descartes dá um novo passo, afirmando que é possível ter certeza de que existe um ser que pensa (res cogitans). Além disso, nada pode ser afirmado, uma vez que o nosso corpo, sendo algo exterior, pertencendo ao mundo dos objetos, está sempre sujeito à dúvida.
Reconhecendo como certa a existência de ideias, fica ainda a questão da certeza da existência das coisas das quais as ideias procedem. Essa questão permanece, uma vez que a própria mente pode ser a causa do objeto.
Por isso, Descartes procura uma ideia que não possa ser derivada da mente humana. E a conclusão à qual chega é que a ideia de Deus (um ser perfeito) não pode ser causada por um ser imperfeito (o homem),efeito de uma vez que o efeito de uma coisa não pode ser mais do que a sua causa. E essa ideia de Deus é uma ideia inata, que nasce com a pessoa, é “a marca do criador em sua obra”. Ora, isso significa que Deus existe. Dessa forma, com a prova da existência de Deus, Descartes chega à segunda verdade.
Dessa forma, além da res cogitas, ou seja, a coisa pensante, existe também a res extensa, a coisa extensa. Para Descartes, pai do racionalismo moderno, o corpo é uma realidade física e fisiológica, extensa com massa e movimento, e se encontra submetido aos determinismos naturais, e sempre sujeito às dúvidas. Em contrapartida, a mente humana não se encontra submissa às leis físicas. Essa dicotomia acompanhará, doravante, a caminhada da Filosofia e das ciências humanas. E importante perceber que uma das consequências do cogito cartesiano é o dualismo, a dicotomia que se estabelece entre corpo e mente (consciência).
Conforme vimos, o objetivo de Descartes é encontrar um fundamento seguro para o saber. O caminho (método) tem como objetivo fundamental oferecer procedimentos através dos quais o intelecto possa afastar-se tanto dos juízos precipitados quanto das prevenções, ou seja, das opiniões pré-fabricadas a que aderimos acriticamente, nas quais evitamos a responsabilidade de um juízo livre e racional. Dessa forma, a razão deverá constantemente examinar-se a si mesma durante o processo de busca da verdade.
Em sua obra Regras para a direção do espirito, composta de 21 regras, René Descartes descreve o seu método, que ele mesmo sintetiza em seu Discurso do Método, mediante quatro preceitos fundamentais na busca do conhecimento verdadeiro:
1º Jamais acolher alguma coisa como verdadeira sem a conhecê-la como tal;
2.° Dividir cada uma das dificuldades em tantas partes quantas forem necessárias para melhor  resolvê-las
3.° Ordenar os pensamentos, começando pelos mais simples e fáceis de conhece; para progressivamente ir subindo, degrau por degrau, até o conhecimento mais complexo;
4.° Proceder a constantes e completas enumerações e revisões, para ter a certeza de não haver omitido nada.
Com base nesses preceitos, podemos perceber que a evidência é critério decisivo de verdade para Descartes. Sem a clareza e a distinção, não há verdade racional. Encontrar verdades claras e distintas, ou seja, evidentes, será um trabalho árduo e disciplinado, uma vez que é possível duvidar de tudo, considerando a relatividade e a provisoriedade das opiniões, crenças e dos costumes das pessoas e dos povos.
Assim, o racionalismo parte do pressuposto da existência de uma verdade universal, acessível mediante atividade instrumental, superando as ilusões e os enganos provenientes do âmbito sensível.
Texto extraído do livro FILOSOFIA POR UMA INTELIGÊNCIA DA COMPLEXIDADE

MEIER, Celito

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