quarta-feira, 17 de novembro de 2010

texto 2 ano a imitação

A imitação (A mimese na filosofia grega)


Para os filósofos gregos, a Poesia, a Pintura, a Escultura, e até mesmo a Música, são artes miméticas, que têm por essência comum a imitação. Que significa imitar? Que se deve entender por mimese?

A interpretação socrática

Não é difícil compreendermos o alcance da imitação na Pintura na Escultura, objeto das reflexões de Sócrates, numa rápida palestra, documentada por Xenofonte, com o pintor Parrásio e o escultor Cleito.

Parece, a princípio, que o pintor e o escultor, quando imitam, reproduzem a aparência exterior dos corpos e das coisas em geral que ornam por modelo.. Mas, se assim fizessem, faltaria às suas obras a beleza inerente aos abjetos representados. Como, porém, não há modelos totalmente belos, será preciso o artista reunir as partes belas de vários objetos da mesma espécie para formar algo excelente, sem falhas, que impressione pela sua perfeição. Essa reunião de partes fundidas na totalidade perfeita que a obra deve ser não é mais uma simples reprodução, a menos que se dê a essa palavra um sentido mais amplo do que o comum, que é, aliás, o que está nas entrelinhas da lição de Sócrates a Parrásio e a Cleito.

Se o escultor e o pintor podem reconhecer as coisas que são belas, associando-as entre si num modelo ideal, é porque já têm na mente a ideia de Beleza como perfeição. Na verdade, eles não imitam, e sim idealizam o modelo: o escultor seleciona, de conformidade com essa ideia, as partes de cada coisa e de cada corpo humano que melhor representam a perfeição concebida.

Ainda há outro aspecto a ressaltar nas considerações de Sócrates: é que o artista, e particularmente o escultor, alcançando a Beleza, consegue também reproduzir o estado interior, os movimentos da alma do seu modelo. Ele só dá por terminado seu trabalho quando a obra é capaz de produzir a impressão da vida, impressão esta que, no caso da Escultura, a matéria tridimensional favorece. A Pintura, presa às limitações da superfície, não produz com a mesma intensidade da outra arte a ilusão da vida e do movimento. Mas, em conjunto, as duas, Pintura e Escultura, tocam o real pela semelhança de suas representações com os objetos, e serão tanto mais perfeitas quanto mais se aproximarem da Beleza exemplar que têm por função imitar.

Não podemos, no entanto, dizer que a Música imita, como o fazem a Pintura e a Escultura. Sócrates não se ocupou dessa questão, mas, aproveitando os princípios gerais anteriormente estabelecidos, podemos tratá-la aqui.

Pelo que sabemos da Poética de Aristóteles, imitar é representar, por certos meios — linhas, cores, volumes, movimentos e palavras — coisas e ações, com o máximo de semelhança ou de fidelidade. Representa-se, pois, figurando alguma coisa, seja com o auxílio de imagens diretas, como as da Pintura e da Escultura, seja como na Poesia, por intermédio dos significados das palavras, combinadas numa certa ordem. Daí dizer-se que artes como a Pintura, a Escultura e a Poesia, ao contrário da Música, têm conteúdo representativo. Que é que, de fato, podem representar sons fugidios, combinados segundo ritmo e harmonia, que se desenrolam no tempo e no tempo se dissolvem, incapazes, por isso, de comunicar-nos algo definido, assim como as palavras e as figuras podem fazê-lo? Em relação à Música, a doutrina mimética tem certas sutilezas. Assim, por exemplo, no terceiro livro de A república, Platão relaciona determinados modos harmônicos com determinados sentimentos e qualifica os ritmos pela escala moral das atitudes. Há ritmos que imitam a baixeza e o desregramento, existem harmonias patéticas, melancólicas e lânguidas, como há as entusiásticas, enérgicas e marciais. É como se a música pudesse exteriorizar, no tempo, a qualidade afetiva dos sentimentos humanos. Ela imitaria, assim, um conteúdo psíquico ou moral: a forma das combinações de sons corresponderia à forma característica do entusiasmo, da tristeza, da melancolia etc.

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