CENTRO EDUCACIONAL 06 – GAMA/DF
PROFº DENYS F. DA COSTA
DISCIPLINA : FILOSOFIA - 3º SÉRIE
TEXTO BASE PARA
AVALIAÇÃO ORAL
O ESTADO COMO CONTRATO SOCIAL
Uma das novas
ideias políticas surgidas no século XVII foi que a sociedade e sua estruturação
política, o Estado, são criações humanas, e não fenômenos da própria natureza,
como pensava Aristóteles. Haveria, de acordo com essa ideia, um “contrato” para
organizar a sociedade.
O pacto e a instituição da sociedade
Segundo a
noção de contrato social, a sociedade foi instituída pelos seres humanos por
meio de um pacto coletivo — um contrato —, com um contrato - , no qual os
indivíduos convivem, O contrato estabelece regras e leis, assim como um poder
que organiza a coletividade e atua como árbitro nas disputas entre seus
membros. As filosofias baseadas nessa teia ficaram conhecidas como
contratualismo ou jusnaturalismo.
O primeiro
grande filósofo contratualista foi Thomas Hobbes. Preocupado com a situação
política da Inglaterra, agitada pela disputa entre os defensores da monarquia e
os que desejavam instituir uma república, ele escreveu duas obras políticas:
Sobre o cidadão (1642) e Leviatã (1651). Nelas, Hobbes defende um governo
monárquico e absolutista, e em meio a sua argumentação desenvolve a ideia de
contrato social.
Hobbes se
afasta de Aristóteles, para quem os seres humanos seriam naturalmente sociais.
Segundo Hobbes, a natureza humana é individualista e egoísta, e os seres
humanos não viveram sempre em comunidade. Se resolveram viver em agrupamentos
sociais organizados, foi simplesmente para garantir a sobrevivência. Antes
dessa organização, segundo parte dos contratualistas, os seres humanos viviam
em um “estado de natureza”, ou seja, de modo primitivo. No caso de Hobbes, esse
estado é apresentado como uma guerra constante de todos contra todos, o que o
levou a dizer que “o homem é o lobo do homem”.
Cada um queria
impor sua vontade, e todos desejavam acumular Bens. Como não existia uma
regulamentação sobre o direito de propriedade, vencia o mais forte, seja no
sentido físico ou intelectual. Ninguém se sentia seguro, era preciso estar
sempre em vigília. Portanto, ainda segundo os filósofos contratualistas, os
indivíduos se cansaram de viver dessa forma.
Segundo
Hobbes, o pacto social foi feito para selar a paz entre as pessoas, garantindo
a cada indivíduo o direito de viver e acumular bens, sem o medo constante de
ser roubado ou assassinado. E o pacto seria justamente a abdicação da liberdade
natural de cada um em nome da segurança de todos. Os indivíduos se reúnem e
pactuam que dali por diante viverão todos sob as ordens de um único chefe, que
tem a responsabilidade de garantir a segurança de todos. Para isso ele cria
leis que regulamentam a vida naquela comunidade e servirão para arbitrar disputas
entre membros do grupo.
De acordo com
Hobbes, antes do contrato social não há povo, há uma multidão, que não é um
corpo político, pois não tem uma unidade. É o pacto coletivo que transforma a
multidão em povo, em uma unidade política em torno de um projeto comum: a
garantia da sobrevivência e do direito de propriedade. Para esse filósofo, uma
vez feito o contrato os indivíduos já não podem desistir dele, exceto se o
soberano já não for capaz de garantir a segurança e a vida de todos, pois foi
em nome disso que se realizou o pacto.
As ideias
políticas de Hobbes estão presentes nas monarquias absolutistas europeias dos
séculos XVII e XVIII. Entretanto, a situação política da Inglaterra e depois de
toda a Europa tendeu para uma política liberal, que contribuiria para formar
monarquias constitucionais, Estados republicanos e democráticos. No plano do
pensamento político, sua ideia de contrato social teve vida mais longa e serviu
de matriz para outras teorias políticas.
O pacto e o direito à propriedade
Assim como
Hobbes, o médico, filósofo e político John Locke se apoiou nas ideias de estado
de natureza e contrato social para construir sua filosofia política. Locke
defendia uma monarquia parlamentarista, na qual o poder estaria no Parlamento,
nos representantes da população, e não,o na realeza. Esse sistema foi
instaurado com a Revolução de 1689, sendo John Locke um dos que contribuíram
com sua fundamentação teórica.
Como você já
estudou, embora tenha sido influenciado por Descartes, Locke discordava da
existência de ideias inatas. Discordava igualmente da existência de um poder
inato ou de origem divina. Para ele, todo poder vem do povo. A teoria de Hobbes
ajudou-o a desenvolver essa ideia, mas, contrariamente a Hobbes, Locke não via
nesse estado uma guerra permanente. Segundo Locke, o fato de os homens viverem
na mais absoluta liberdade não implica que vivessem sem leis. No estado de
natureza os homens seriam governados pela lei natural da razão, sendo seu
princípio básico a preservação da vida. Portanto, as pessoas não agrediam nem
matavam indistintamente, apenas para impor sua vontade ou tomar a propriedade
de alguém.
De acordo com
Locke, todo indivíduo já nasce proprietário de seu corpo e de sua capacidade de
trabalho. Tudo aquilo que produzir, retirando da natureza ou a transformando,
por meio de seu próprio trabalho, será de sua propriedade, uma vez que empenhou
seu corpo e sua vida nessa tarefa. Portanto, em seu estado natural os seres
humanos, além de gozarem da plena e absoluta liberdade, podem ter acesso a
propriedades. O que os teria levado, então, a abandonar esse estado,
instituindo a sociedade civil?
Com o tempo, o
produto do trabalho humano e o acesso à propriedade se tornaram mais complexos.
Em determinado momento, passou a ser necessário arbitrar sobre os direitos,
devido às disputas que começaram a surgir entre os indivíduos. Se todos são
iguais, quem é o verdadeiro proprietário dos produtos do trabalho? Se todos são
iguais, quem pode arbitrar as questões para fazer justiça?
Os indivíduos
reuniram-se em comunidade, diz Locke, com o objetivo de facilitar o gozo do
direito de propriedade que, mesmo possível, era incerto e inseguro quando se
vivia em estado natural, Para o filósofo, portanto, o principal objetivo do
contrato social é a preservação do direito de propriedade.
O pacto entre
os indivíduos institui a sociedade civil e o Estado. Para Hobbes, o contrato é
um pacto de submissão que visa a instaurar uma situação contrária àquela que
vigorava no estado de natureza, preservando a segurança das vidas humanas; já
para Locke o contrato se configura como um pacto de consentimento em que os
indivíduos, longe de se submeterem todos a um poder comum, concordam em
instituir eis que preservem e garantam tudo aquilo que eles já desfrutavam no
estado de natureza. O contrato social é, para Locke, a garantia dos direitos
naturais, e não a criação de outros direitos.
Locke exemplifica com um tipo bem
corriqueiro de associação civil: o casamento. No casamento, dois indivíduos
consentem na união, e só por isso ela é possível. O mesmo se aplica ao Estado.
Sendo fruto do
consentimento de todos, a instituição de uma sociedade política não significa
uma renúncia à liberdade individual, mas sim a instauração de uma nova forma de
liberdade, a liberdade civil, que não se contrapõe à liberdade natural, mas a
preserva e a amplia. Os direitos naturais se tornam políticos.
Para Locke, há
um pacto de instituição da sociedade e posteriormente a sociedade, assim
instituída, define as formas de governo. Como se observa, o contrato social,
segundo Locke, não é a transferência do poder de cada um para um soberano. A
soberania (o poder) pertence à totalidade do povo. Assim, é esse povo, como
corpo político, que pode indicar quem assumirá as funções de administração e de
governo. E todo aquele que ocupar esse tipo de função o fará em nome do povo,
podendo ser destituído pelo povo quando não corresponder às expectativas.
Locke fala na
necessidade de separar e articular os poderes legislativo (que elabora as
leis), executivo (que as coloca em prática) e judiciário (que arbitra a prática
das leis), para evitar a concentração de poder em uma única pessoa ou grupo.
Essa teoria foi consolidada no século seguinte por Montesquieu se tornou
elemento fundamental do sistema democrático moderno.
O contrato social como expressão da vontade geral
Talvez você já
tenha ouvido a frase: “O homem nasceu livre, e em toda parte vive acorrentado”.
Ela abre o livro Do contrato social, de Jean-Jacques Rousseau. Enquanto Hobbes
concebia o estado natural como guerra e o estado social como fonte de segurança
individual, Rousseau considerava o estado natural como fonte da liberdade e da
igualdade. A sociedade política era a fonte da guerra, pois instaurava a
desigualdade entre os homens. Nascemos livres na natureza, mas nos aprisionamos
pelas convenções sociais, O problema político, para Rousseau, poderia ser
enunciado da seguinte maneira: como estabelecer um pacto social que seja
garantia da liberdade, e não escravização dos indivíduos?
Em seu
Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens,
Rousseau afirma que o estado de natureza foi a idade ouro”, quando os homens
eram todos livres e iguais entre si, autos-suficiente e isolados uns dos
outros, vivendo em paz e harmonia. Isso fez
com que se atribuísse a Rousseau a ideia do “bom selvagem” — a crença de
que o homem é naturalmente bom, mas se corrompe pela vida em sociedade —,
embora ele nunca tenha usado essa expressão. Seu contemporâneo e crítico
Voltaire afirmava que, ao ler os textos de Rousseau, ficava-se com vontade de andar
de quatro, como os bichos tamanho seu encantamento pelo estado de natureza.
Para Rousseau,
a origem da propriedade é também a origem da verdadeira desigualdade. As
diferenças naturais não devem ser levadas em conta, segundo ele, mas apenas a
desigualdade social, a única desigualdade de fato. A origem da propriedade é
também a origem da sociedade, porém não de direito; Rousseau considera que a
fundação histórica da sociedade civil está no ato do primeiro ser humano que
cercou um terreno e afirmou: “Isto é meu!”, tendo encontrado aceitação por
parte de seus semelhantes.
Com a
propriedade, inicia-se o processo de acumulação de bens. Surgem as desigualdades, a escravidão, a ganância e a
violência. Rousseau considera que o primeiro contrato social que instituiu o
Estado não resulta da ação de todos os indivíduos, como pensavam Locke e
Hobbes, mas sim da ação dos indivíduos ricos coagindo os mais pobres, na
tentativa de garantir para si as benesses da propriedade, e não tinha por isso
uma legitimidade jurídica.
Desse modo,
Rousseau antecipa a noção de Estado como instrumento de classe que Karl Marx
enunciou no século seguinte. Entretanto, Rousseau não considera a instituição política como
essencialmente nociva destinada a defender interesses individuais; a sociedade
não contrária ao estado natural, como afirmava Hobbes. O Estado poderia ser
organizado de forma a preservar os direitos naturais e a igualdade entre os indivíduos
.
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