domingo, 21 de maio de 2017

TEXTO BASE PARA O ESTUDO DIRIGIDO 1º BIM 1º ANO ( A FILOSOFIA)

CENTRO EDUCACIONAL 06 – GAMA/DF
TEXTO BASE PARA O ESTUDO DIRIGIDO COM CONSULTA 
PROF: DENYS F. DA COSTA
DISCIPLINA: FILOSOFIA                 SÉRIE : 1º               

A FILOSOFIA
“...Que atividade caracteriza a Filosofia?”
Aqui vou tomar um rumo muito “merleaupontyano”, de considerar a Filosofia muito a partir de Merleau-Ponty, que é a minha.
Se nós considerarmos que a Filosofia é, em primeiro lugar, um trabalho para transformar uma experiência imediatamente vivida numa experiência compreendida e, portanto, a Filosofia é um trabalho para transformar uma experiência em um saber a respeito dessa mesma experiência, o campo da Filosofia é vastíssimo. E o campo de todas as experiências possíveis...
Então, num primeiro momento, vou considerar a Filosofia como essa reflexão exercida pela experiência, com a experiência e sobre a experiência, mas realizada enquanto uma experiência de reflexão. O que eu quero dizer é que não se trata de considerar que de um lado existem experiências, todas elas desprovidas de seu próprio saber, e, do outro algo que se chama reflexão que, de fora, operaria sobre a experiência e a converteria numa experiência verdadeira. Essa ideia de Filosofia é, aliás, a ideia contra a qual Marleau-Ponty se coloca, porque ela está vinculada à suposição de que existe um sujeito do conhecimento que vem de fora da experiência para decifrar a experiência e dizer qual é o sentido que a experiência tem... “Não é isso que aqui estou chamando de Filosofia”.
A Filosofia é a capacidade de fazer com que a reflexão sobre a experiência seja, ela própria, enquanto reflexão, uma experiência. Não algo que vem de fora como uma consciência que se deposita sobre uma experiência significativa. Abolindo, assim, a ideia de urna reflexão que viesse de fora para transformar uma experiência em saber. Esse movimento é interior à própria experiência; ou ela se realiza como uma experiência de reflexão a seu próprio respeito ou ela não se realiza como Filosofia. Esse movimento em que a experiência da reflexão seria o lugar da Filosofia, ao ser colocado como um trabalho, significa duas coisas.
Em primeiro lugar, significa que a experiência da reflexão, enquanto trabalho do pensamento, vai negar a experiência imediatamente vivida como uma experiência imediata e vai mostrar que essa experiência está carregada de sentido, possui uma interioridade, possui o seu tempo próprio, possui significações e que cada experiência é plena enquanto experiência. E que essa plenitude é a reflexão que a experiência realiza  sobre si própria. Esse trabalho é então, um trabalho de conquista da plenitude de sentido e de tempo que uma experiência qualquer possui. É um resgate, portanto, da própria experiência.
Em segundo lugar, é o conhecimento da origem dessa experiência. Quer dizer, o que diferencia a experiência imediata e a reflexão dessa experiência sobre si mesma, é que essa reflexão conduz ao conhecimento da origem de uma experiência e do sentido que essa experiência tem a partir de sua origem

 (Marilena Chauí, texto extraído da conferência Filosofia. e CULTURA, pronunciada na USU, em
Mito e filosofia:(continuidade e ruptura)

Texto 02

Já podemos observar a diferença entre pensamento mítico e filosofia nascente: os filósofos divergem entre si e a filosofia se distingue da tradição mítica oferecendo uma pluralidade de explicações possíveis, uma atitude característica do filósofo. Além disso, a física jônica é a expressão do pensamento filosófico racional e abstrato, ao recorrer a argumentos e não a explicações sobrenaturais. Por exemplo, Hesíodo relata o princípio do mundo (cosmogonia) e o nascimento dos deuses (teogonia) a partir da sua gênese ou origem no tempo, enquanto as cosmologias dos pré-socráticos são baseadas em explicações racionais. Assim justificamos a perspectiva comumente aceita da ruptura entre mythos e logos (razão).
No entanto, para estudiosos como o inglês Cornford, apesar das diferenças, o pensamento filosófico nascente ainda apresenta vinculações com o mito. Por exemplo, Hesíodo relata na Teogonia como Gaia (Terra) gera sozinha, por segregação, o Céu e o Mar; depois, a união da Terra com o Céu, presidida por Eros (princípio de coesão do Universo), resulta na geração dos deuses. Ora, examinando os textos dos filósofos jônicos, Cornford descobre neles a mesma estrutura de pensamento existente no relato mítico: os jônios afirmam que, de um estado inicial de indistinção, separam-se pares opostos (quente e frio, seco e úmido) que vão gerar os seres naturais (o céu de fogo, o ar frio, a terra seca, o mar úmido). Para os filósofos, a ordem do mundo deriva de forças opostas que se equilibram reciprocamente, e a união dos opostos explica os fenômenos meteóricos, as estações do ano, o nascimento e a morte de tudo que vive.
Portanto, na passagem do mito à razão, há continuidade no uso comum de certas estruturas de explicação. Na concepção de Cornford não existe “uma imaculada concepção da razão”, pois o aparecimento da filosofia é um fato histórico enraizado no passado.
Outra observação interessante sobre esse período de transição pode ser feita a partir da produção literária de tragédias, nos séculos VI e V a.C., cujos autores mais conhecidos foram Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Embora o conteúdo das peças teatrais fosse retirado dos mitos, o tratamento dado aos conflitos denota urna consciência trágica que representa a ambiguidade pela qual o destino é questionado, ainda que no final a vontade dos deuses acabe se cumprindo. O esforço humano “na encruzilhada da decisão, às voltas com as consequências de seus atos”, como diz Vernant, representa o logos nascente.
Conclusão

Embora existam aspectos de continuidade entre mito e filosofia, o pensamento filosófico é algo muito diferente do mito, por resultar de uma ruptura quanto à atitude diante do saber recebido. Enquanto o mito é uma narrativa cujo conteúdo não se questiona, a filosofia problematiza e, portanto, convida à discussão. No mito a inteligibilidade é dada, na filosofia ela é procurada. A filosofia rejeita o sobrenatural, a interferência de agentes divinos na explicação dos fenômenos. Ainda mais: a filosofia busca a coerência interna, a definição rigorosa dos conceitos, organiza—se em doutrina e surge, portanto, corno pensamento abstrato.
Na nova abordagem do real caracterizada pelo pensamento filosófico, podemos ainda notar a vinculação entre filosofia e ciência. O próprio teor das preocupações dos primeiros filósofos é de natureza cosmológica, de maneira que, na Grécia Antiga, o filósofo é também o intelectual do saber científico. Só no século XVII as ciências encontram seu próprio método e separam-se da filosofia, formando as chamadas ciências particulares.





TEXTO 03

FILOSOFIA E PENSAMENTO
A Filosofia não é uma ciência, uma teoria ou disciplina do conhecimento, tal como se entendem hoje em dias estes termos. Ao contrário. Toda ciência, teoria ou disciplina do conhecimento é que são, de alguma maneira, dependentes da Filosofia, quer o reconheçam ou não.
A Filosofia também não constitui uma ideologia, concepção de vida ou visão de mundo. Mas não vale a inversão. Pois toda ideologia, concepção de vida ou visão de mundo não podem prescindir da Filosofia. Foi o que, de certa feita, reconheceu Bertrand Russel, com as seguintes palavras: ''Um empirismo lógico, sem compromisso, é logicamente insustentável.''         
Mas, então, que é a Filosofia se não for ciência, teoria ou disciplina do conhecimento, se não for ideologia, concepção de vida ou visão de mundo? Antes de responder, pensemos o que nos torna a pergunta não somente possível como, sobretudo, imperiosa.
A pergunta supõe aceitas, sem mais, muitas coisas. Supõe, por exemplo, que toda Filosofia seja ou, ao menos, pretenda ser um exercício de conhecimento. Supõe, também, que, além de conhecimento, já não sobre nada para a Filosofia ser. Supõe, igualmente, que tudo que é não possa deixar de ser alguma coisa, um quê, e, por isso, pergunta ''que é''. Supõe que toda a pretensão de conhecimento termina sempre com a produção de um conhecimento objetivo e, então, é ciência, ou, com a produção de uma ilusão transcendental ou empírica, e, então, é ideologia. Supõe, por fim, que todas as época tenham concepção de vida e visão de mundo, e não somente a época moderna.
Como se pode ver, não são poucas as suposições que sustentam as perguntas. Mas, e se todas as suposições estiverem a serviço da ditadura da razão, seu raciocínio e sua racionalidade, muito bons, sem dúvida, para conhecer objetos, mas imprestáveis para pensar a realidade do real nas realizações históricas do homem? Neste caso, com que cara ficamos nós, ao perguntar: mas, então, que é a Filosofia se não for nem conhecimento, nem ideologia, nem concepção de vida, nem visão de mundo? Será que ainda ficaremos com alguma cara, quando só nos restar a carranca intransigente da razão e sua ditadura?
Agora, que percebemos os limites da pergunta, poderemos tentar respondê-la.
A Filosofia é uma experiência de Pensamento. Mas não é a única. Outras experiências são o mito e a mística. Uma outra é a experiência dos deuses e do extraordinário, seja ou não religiosa. Ainda outra é a Poesia e a Arte. Ainda outra é a Pólis e a Politéia. A última, por ser no fundo, a primeira experiência de Pensamento, é a vida e a morte, Eros e Thanatos.
Hoje somos pós-modernos. Vivemos os progressos da técnica e os avanços da ciência. Nestas condições, por que nos é tão importante ainda aprender a pensar no nível dos pensadores? Não seria muito mais vantajoso empenhar logo todas as forças e concentrar todo o esforço em desenvolver a técnica e promover o crescimento da ciência, dedicando-se apenas à Filosofia Analítica da Ciência e às Ciências Cognitivas? Que utilidade poderá trazer para nós, ''filhos do carbono e do amoníaco'', ''joguetes nas mão do caos e dos fractais'', ''aranhas da w.w.w''? Para que aprender a pensar, como os pensadores, se os muitos chats já nos fazem repetir os slogans já pensados das ideologias e os big-brothers Brasil nos inculcam sub-repticiamente que o ideal é a exclusão e não a inclusão e a distribuição?
O Pensamento é um passado tão vigente que sempre está por vir. Qualquer esforço da Filosofia não deixa de ser um esforço do Pensamento pelo Pensamento. E por quê? Porque nenhum esforço filosófico pode dispensar a força de futuro do pensamento do passado. Por isso também toda Filosofia vive de pensar a História da Filosofia. É que se tornou transparente, sobretudo, desde Hegel. A Filosofia inclui sempre uma Filosofia da História. Na introdução de suas Preleções de história da filosofia, Hegel pergunta: como é possível que a Filosofia, que busca a verdade, possa, em sua História, desdobrar-se numa multiplicidade de tantas filosofias? De fato, o balcão da história nos mostra, à saciedade, que onde um filósofo diz ''sim'', outro diz ''não'' e vice-versa. Por isso se costuma repetir que é próprio dos filósofos se contradizerem uns aos outros e do filósofo se contradizer a si mesmo.
A todas estas arremetidas da razão contra o Pensamento na Filosofia a resposta de Hegel é dialética: a verdade não é parte. As partes são passagens de que necessita a verdade para chegar a si mesma no todo. A verdade é o todo. Por ser e para ser o todo, a verdade possui a tendência de se desenrolar nas peripécias de uma dialética, formando um fluxo de crescimento, o curso da História. E não somente Hegel que o percebeu. Heráclito já sabia. Platão também, Aristóteles também, Santo Agostinho também, Joaquim de Fiore também, Kant também, Schelling também, Nietzsche também, Heidegger também. Mas é um saber raro. Só os grandes pensadores o possuem. Pois o possuem na medida em que transformam na grandeza de outros endereços de Pensamento e de novos caminhos de pensar. O destino do Pensamento, em qualquer endereço ou caminho é mantê-lo vivo da forma mais pura, na forma de um contínuo questionamento. Por isso os filósofos nascem e morrem como filósofos, num diálogo ininterrupto de Pensamento com seus antecessores e com seus sucessores. Somente morrendo é que um filósofo e uma filosofia se tornam contemporâneos do Pensamento. É o sentido da famosa definição platônica da Filosofia: melete thanatou, empenho da morte. Agora talvez se tenha tornado um pouco mais clara a resposta de que, em distinção de toda ciência, teoria ou disciplina do conhecimento, de toda ideologia, concepção de vida ou visão de mundo, a Filosofia é apenas uma experiência do Pensamento em todos os empenhos de conhecer e sentir, de fazer e agir, em todos os adventos de ser, não ser e vir as ser dos homens em peregrinação histórica.
EMANUEL CANEIRO LEÃO ( FILOSOFO / FONTE JORNAL DO BRASIL
TEXTO 04
A JUVENTUDE E A FILOSOFIA


Você deve estar acostumado a ser visto pelos adultos como um “incômodo” “. E isso não deixa de ser verdade. O adolescente passa por uma verdadeira revolução em sua vida, é uma pessoa em movimento, seu corpo se transforma, suas idéias se transformam, seus sentimentos se transforma... Muitos dos que são mais velhos já estão acomodados na vida, e não desejam - na maioria das vezes – mudanças que perturbem sua situação. Sua situação. E é por isso que o jovem incomoda. Ele representa o novo, que traz em si o antigo do mundo” pronto “em que nasce lutando contra o velho que já passou por esse processo de ser o novo. O jovem é a força do movimento reagindo contra toda a acomodação e, portanto”, incomoda “os acomodados - que se esquecem de que já passaram por isso”.
            Mesmo na escola, você deve viver um pouco dessa realidade, sentido na pele a situação. Mas talvez com a filosofia seja diferente, talvez com ela você se sinta à vontade. É porque a filosofia é uma jovem de quase 2.700 anos de idade. Desde que surgiu na Grécia, no século VII a.C, a filosofia pode ser caracterizada como uma situação de incômodo, de inconformismo. Ela apareceu porque alguma pessoa - os primeiros filósofos – estava insatisfeita com as explicações sobre a realidade que existiam na época.
            Elas se sentiam espantadas diante da complexidade do mundo, e queriam fugir das explicações simplistas que eram dadas. A filosofia surgiu como uma interrogação constante sobre a realidade, e um descontentamento com as respostas oferecidas. Isso fez dela uma eterna revolução, um movimento de construção do saber. Note: a filosofia é a sabedoria, mas um movimento em sua direção, sempre uma busca. E, como nunca deixou de ser busca, a filosofia não envelheceu; continua hoje tão jovem quanto era sua remota origem.
            Se a juventude é vista pelos acomodados como um “incômodo”, o mesmo acontece com a filosofia. No século V a.C. Sócrates, já idoso, foi condenado à morte pelo tribunal popular de Atenas. Diziam que ele não acreditava nos deuses da cidade e corrompia a juventude; mas na verdade ele incomodava demais aqueles que se sentiam confortáveis em sua situação. Ao longo de sua história, a filosofia seguiu sendo incômodo, causando desconforto nas pessoas, mas também possibilitando a emergência de novos saberes, de novas perspectivas e possibilidades.
            Não espere da filosofia, portanto, que resolva sua situação de ‘incômodo “. O que ela pode fazer é deixar você ainda mais incomodado. Mas ajudará você a perceber que o incômodo não é ruim, ao contrário, é o inconformismo que move o mundo, permite que cada um construa sua vida buscando seus próprios caminhos”.
            A filosofia não tem uma “receita mágica” para resolver os problemas da vida de ninguém, mas pode ser um instrumento interessante para entendermos melhores as situações pelas quais passamos, possibilitando que façamos escolhas mais bem pensadas. Daqui para frente, você certamente poderá encontrar muitas outras companhias, filosóficas ou não, que ajudem você a ser sempre jovem, incomodando-se com o mundo e consigo mesmo, construindo uma vida criativa e singular.



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