domingo, 23 de maio de 2010

ESTUDO DIRGIDO 1º ANO (TER e SER) TEXTO BASE

TER E SER


TEXTO 01

Hoje, como no passado, a criatura humana sofre as mesmas necessidades, possui os mesmos conflitos, agasalha dentro de si as mesmas inquietações, diferenciadas, é lógico, pelas circunstâncias de tempo e de condicionamento de técnica.

Um dos mais constantes problemas que permeia o Espírito é a dificuldade de estabelecer uma relação harmoniosa entre o ter e o ser. Em diversas épocas da Humanidade formularam-se e discutiram-se teorias acerca da posse dos bens terrenos, sua necessidade para o Homem e sua moralidade perante as leis de Deus.

Aristóteles, o eminente filósofo grego da Antigüidade (384/322 a.C.), em sua obra Política, preceituava que o ser humano, para ser virtuoso, necessitava possuir alguns Bens, que seriam os do Espírito, do corpo e das coisas exteriores, sem os quais germens criminológicos poderiam levá-lo ao desequilíbrio.

A religião, em suas diversas épocas e tendências ideológicas, ora pregava que aqueles que possuíssem bens materiais não entrariam no Reino dos Céus e ainda queimariam no fogo do Inferno, fazendo apologia da escassez ou da miséria, na busca da realização pessoal; ora pregava que se reconheciam os escolhidos de Deus por serem bem sucedidos na vida sócio-econômica.

"A psicologia sociológica do passado recomendava a posse como forma de segurança. A felicidade era medida em razão dos haveres acumulados, e a tranqüilidade se apresentava como sendo a falta de preocupação em relação ao presente como ao futuro.

Aguardar uma velhice descansada, sem problemas financeiros, impunha-se como a grande meta a conquistar" 1

Mais recentemente, com a era tecnológica, apregoa-se a necessidade de possuir a maior quantidade possível de recursos materiais, tendo desde o essencial até ao supérfluo, sem se importar com a utilidade de tais aquisições, pois o importante é consumir e consumir.

Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, assevera que os bens terrenos são poderosos elementos do progresso do Espírito, proporcionando o progresso intelectual e por conseqüência o progresso moral.

A posse é, segundo a Doutrina Espírita, uma necessidade que atende objetivos próprios, que não são únicos e exclusivos. O Espiritismo, portanto, não coloca o ter como causa imediata da felicidade, e sim como um meio e instrumento para atingir tal intento, criando condições para o indivíduo se educar e transformar os sentimentos conflituosos em harmoniosos, renovando-se intimamente.

Quando o indivíduo se encontra em estágio de infância psicológica, sendo egocêntrico e ególatra, cria mecanismos escapistas da personalidade, desumanizando-se e passando a categoria de semideus, desvelando caprichos infantis, irresponsáveis, que se impõem, satisfazendo as frustrações.

Revertendo esse quadro através da educação, metodologia da convivência humana e situações em que a Vida impõe mudanças, estrutura-se uma consciência de ser, antes de ter; de ser, ao invés de poder; de ser, embora a preocupação de parecer.

Sendo assim, o ter é elemento para ser, desde que não se abuse dele tornando-o pernicioso e prejudicial ao Espírito. Aplicando tais recursos de maneira sensata e lúcida experimenta o júbilo da realização, a imensa alegria do serviço, exteriorizada no bem estar que proporciona. Adquirindo, a pouco e pouco, a consciência de si mesmo, que é a meta existencial, consegue discernir entre o ter e o ser, vibrando o auto-amor que desdobra a bondade, a compaixão, a ação benéfica em favor do próximo.

TEXTO 02

TER E SER

“Está escrito: Não é só de pão que vive o homem

(Lc 4,4)

Este é um tema bastante discutido nos dias de hoje. Muitos estão tentando “ser”, cansados do materialismo, e, nesta busca, freqüentam seminários, fazem retiros espirituais, lêem coleções de livros, praticam meditação, etc.

Outros, a grande maioria, com os corações ainda imbuídos da ambição insaciável, voltam-se, unicamente, para o “ter”. Colocam toda a sua energia em conseguirem postos e haveres que os realizem. E claro que, se vivemos num mundo material, precisamos de coisas materiais. O alimento, a saúde, o transporte, o lazer, a arte, deveriam seu um direito de todo e qualquer ser humano. Viver tranqüilo e com conforto é urna meta sadia de vida.

Entretanto, temos dois lados de uma moeda triste: aqueles que são privados de tudo ou quase tudo, pela má distribuição das riquezas, fruto de sistemas sociais injustos, e aqueles que desejam ter além do necessário. Que querem mais, sempre mais. Sofrem, provavelmente, de urna neurose compulsiva.

Não é preciso que se sinta culpa pelo desejo de ter. Como já afirmamos, esta é um aspiração natural e saudável no ser humano para que tenha urna vida agradável e feliz.

A necessidade de “ter” passa a ser uma doença, em nível pessoal, exatamente, quando se torna um objetivo em-si. Temos,



neste caso, uma neurose compulsiva ou obsessiva. E ela torna- se urna doença social, que, hoje, tomou conta do organismo coletivo, corno um câncer, quando as pessoas passam a ser valorizadas unicamente pelo que têm e toda a sociedade compele o indivíduo a -lutar, arduamente, pelo sucesso, como se a vida fosse uma maratona, em que todos almejam o primeiro lugar.

Este. tipo de atitude gera os mais graves desequilíbrios, tanto a nível pessoal, como social.

Depressões, estresse, doenças psicossomáticas, violência, miséria, mendicância, etc., são frutos desta triste filosofia.

E preciso que façamos uma reflexão séria: O que procura-trios nesta vida? Pelo que lutamos? A que aspira o nosso coração? E corno nos comportamos nesta luta terrena? Acreditamos que os fins justificam os meios? Mesmo que estes meios signifiquem mentir, fingir, magoar, bajular, desrespeitar as necessidades, os sentimentos e a privacidade do nosso próximo? Mesmo que estes meios criem a injustiça, a desigualdade, a miséria e a violência?

É claro que, se estamos aqui, ternos de nos preocupar com as questões terrenas e cotidianas! Temos de lutar com dignidade pela sobrevivência nossa e pela da humanidade. E natural que queiramos comida sobre a mesa, um teto decente sobre as nossas cabeças e mesmo conforto e beleza. Corno “nem só de pão vive o homem”, é natural que queiramos tempo livre para criar, pensar e gozar de toda a beleza da vida! Entretanto, o luxo, o acúmulo, o que nos sobra é o que falta a tantos... E, se a vida continua após a morte, o que levaremos conosco? O que acumulamos em bens materiais, ou aquilo que “somos”?...

Já vimos que o homem é um projeto inacabado. Até pelo lado físico, ele é o animal que nasce mais incapaz e que tem de conquistar sua independência, dia a dia. O bebê humano, se deixado à míngua, simplesmente morre. Isto significa que ele tem que se fazer: aí está a importância do “ser”.

Não importa acreditar ou não em Deus, ter ou não religião. Urna coisa, porém, é certa: o homem só é feliz quando se realiza, isto é, quando desenvolve tudo aquilo que nele existe em potencialidade: a capacidade ilimitada de amar, compreender, perdoar, acolher; a capacidade intelectual, que abrange, hoje sabemos, também, o desenvolvimento de “poderes”, antes tidos como extra-sensoriais; a capacidade de criar, de renovar, de conviver, etc. Enfim, quando ele desenvolve todas aquelas características que são nitidamente humanas.

Resumindo

— O homem vive num conflito entre o ter e o ser;

— O ter passa a ser urna doença, quando se torna compulsão;

— O homem só se realiza quando se toma plenamente humano.

O texto que se segue é bem útil para discussões sobre o tema. Procure entendê-lo e, depois, debatê-lo com a turma.

A árvore oca

Ela era uma árvore alta e imponente. Destacava-se em toda a floresta. As outras olhavam-na com inveja, imaginando-a bela e forte. Ela, porém, sentia-se, por vezes, cansada de tanto manter-se erguida... Olhava, não sem tristeza, as suas pequenas companheiras, lá por baixo, com seus galhos se enroscando e abrigando pequenos animais e viajantes cansados.

Um dia, uma tempestade horrível tomou conta da floresta. O vento uivava bravio, vergando os galhos flexíveis das peque nas árvores, e, por vezes, até seus próprios troncos. Todas pareciam empenhadas em uma dança louca e macabra. De repente, a grande árvore, que, a todos, parecia assistir impassível, parte-se e cai ao chão.

E logo que a chuva passa, todos se preocupam em assistir ao triste espetáculo: aquela árvore, tão linda e orgulhosa, estava, agora, sobre o chão, com seu tronco partido em dois, deixando visível urna dura realidade: era oca, completamente oca.

As pequenas árvores confabulam, estupefatas: “Ela que parecia tão forte e cheia de vida! ...Deus meu, como é possível?” Olham-na com pena, satisfeitas consigo mesmas. Depois, passam a discutir se devem abandoná-la e deixá-la morrer em paz ou se deverão protegê-la, pois, quem sabe, ainda haveria alguma seiva que a faria reviver? Lembram-se do desdém com que ela as olhava antes... E olham-na, de novo, ali, tão desvalida... Resolvem, então protegê-la.

Depois, um inverno rigoroso se abate sobre a floresta. A vida parecia ter abandonado a tudo e a todos...

Um belo dia, um sol radiante aparece. Pássaros cantando e voejando atarantados. Pequenos animais surgindo daqui e dali. As flores se abrindo... Os brotos rompendo a terra... Uma festa de cores e sons...

E eis que, como num passe de mágica, um tímido galhinho aparece naquele tronco mutilado. Todos olham fascinados. E a árvore que revive! E o eterno milagre da vida que se renova!

(Maria Luiza Silveira Teles)

TEXTO 03

JEAN-LLJC MARION

Por que colocar ainda e sempre a questão do ser? Não teríamos outras preocupações — não perder a vida, não ceder à infelicidade, não aumentar o sofrimento do mundo etc. — a priorizar? Se sabemos o que perguntam tais questões, ainda não sabemos muito bem respondê-las. Mas o que devemos fazer com o ser? Será que temos de nos fazer de filósofos a esse ponto (o que aqui não é nenhum elogio) para com isso nos preocupar?

O que incomoda, nessa negação, é que seu bom senso se contradiz imediatamente. Pois o ser, que não queremos que seja questão nem que dele se ouça falar, já tornou a palavra na nossa. Para dizer que ele não é a questão, já foi preciso dizer E para negar esse direito à questão, será preciso logo dizer por quê, portanto dizer o que é este ser — que é absurdo, não é nada, não é um verdadeiro ente. Em suma, terá sido preciso cometer a contradição performativa que Pascal identificava: para refutar o ser, é preciso definir o ser, mas, para defini-lo, já é preciso dizer é, logo pressupô-lo. A questão do ser se propõe por si mesma, queiramos ou não. O ser já é sempre presente.

Vai ser portanto dizer algo sobre ele. Ora, justamente, pode-se sempre dizer algo sobre ele, urna vez que qualquer coisa já é ainda que falte determinar seu nível de ser: pode se tratar do nada, da cópula (A é B), da existência colocada etc. Decerto, entre existir e não existir, entre a existência e a existência simples cópula, a diferença parece enorme. Entretanto, só podemos avaliá-la se admitirmos que tudo nela se deixa reduzir ao ser. Não apenas no céu das idéias, mas nas coisas no dia-a-dia. Pois de tudo o que me advém, devo, para simplesmente vê-lo (em tamanho, peso, cores, preço, utilidade etc.), acabar por reconduzi-lo ao que ele é perguntar se ele é, como é em que condições é. Devo portanto pensá-lo na medida em que em geral ele é, ou não. Aristóteles, primeira e definitivamente, estabeleceu que “existe uma ciência que estuda o que é enquanto é” — e não, como cada uma das outras ciências, enquanto é isto ou aquilo, de tal tipo ou tal domínio, de tal região ou tal época. Enquanto ele é ente. Pode-se dizê-lo em francês desde pelo menos Scipion Dupleix, trinta anos antes de O discurso do método de Descartes.

Uma vez realizada essa primeira redução, começam as dificuldades. Pois como conceber esse ente, o que l? Precisamente como o que tem de ser. Mas, uma vez mais, o que é ter de ser? Primeira hipótese: “O ente ou então a enticidade-a essência” (ousia, diz Aristóteles). Nesse caso, como propriedade que faz ser esse ou aquele ente, a essência permanece singular (a do animado, do homem, de tal indivíduo etc.); ela torna possíveis ciências regionais (matemática, física, psicologia, cosmologia etc.), mas nada ensina sobre o próprio ser, nem sobre o que ele significa universalmente. Logo, paradoxalmente, passar ao ente corresponde mais a fechar a questão do ser do que a abri-la.

Daí a segunda hipótese: superar cada ente particular para atingir o ser como tal, como o universal. A redução abstrai então o ser das diferenças entre o finito e o Infinito, o criado e o incriado, o acidental e o essencial, o movente e o eterno, o vivo e o inerte etc. No final, o que resta? O ente abstrato justamente, logo indeterminado, até mesmo confuso e vazio. Mas então, o que concebemos ainda? Precisamente, nada a não ser urna representação, pressuposta por todas as outras, mas sem peso real — não o ente, mas o conceito (objetivo) do ente. Esse resultado, tão inevitável quanto estranho, só autoriza por sua vez dois caminhos. Ou bem o ser reduzido ao conceito vazio do ente o define, no melhor dos casos, como uma identidade para si (A = \), uma não contradição racional, cm suma a possibilidade lógica (foi a posição dc Duns Scot e de Leibniz); perdeu-se então o aspecto sério do ser, pois a existência torna-se impensável. Ou então admitimos que o ente não leva a nada, ou antes ao nada, que ele se confunde com o nada; esta via radical e corajosa (a de Hegel e de Heidegger) reconhece pelo menos que o ser difere radicalmente do ente.

Esse duplo impasse pode suscitar urna rejeição brutal (por exemplo, Etienne Gilson): ser é ser realmente, segundo a existência pura e dura. É preciso então ousadamente inferir que só Deus é, até mesmo que Deus é o ser. Fácil dizer, difícil pensar. Pois, ou bem o ser convém a Deus — mas, já que por definição Deus deve permanecer incognoscível enquanto conceito, será preciso que o ser extravase a representação vazia do conceito objetivo de ente e assuma a condição de um “ato puro”, tão “profundamente desconhecido” quanto Deus (e Tomás de Aquino chegará até aí). Assim, pensado a partir de Deus, o ser torna-se incognoscível. Ou então o ente permanece compreensível em seu conceito e identificá-lo a Deus corresponde a pretender submeter Deus a um conceito, logo a blasfemar-lhe a transcendência. Aqui pouco importa que esse conceito sirva para provar a existência ou a “morte” de “Deus”, já que não se trata mais, em ambos os casos, senão de seu ídolo, submetido ao conceito metafísico que dele forjamos. Encerram-se assim ao mesmo tempo a questão do ser e a de Deus.

Uma via acaba de se fechar: o ser, jamais, poderá ser pensado a partir do ente, menos ainda a partir de seu conceito. Heidegger tematizou este princípio sob a expressão “diferença ontológica”. Só resta então pensar o ser sem consideração pelo ente, seguindo portanto um procedimento exatamente oposto ao da metafísica, que sempre acreditou alcançar o ser fixando o ente supremo, que cIcie ofereceria o mais nobre exemplar (segundo sua “constIuição onto-teo- lógica). O ser apenas, em via direta? O próprio Heidegger, no entanto, não teve sucesso nessa estréia. Por duas vezes teve de renunciar. Primeiro, no início, com Ser e tempo (1927), quando ainda se apoiava num ente privilegiado, o ser-aí (Dasein, que, é claro, nunca consegue se reunir ao ser como tal. Depois, no final, com Tempo e ser (1962), em que o ser se encontra (da mesma forma que () tempo) submetido a urna nova instância — o acontecimento (Ereignis — quando, de maneira não dissimulada, desaparece como tal. Assim, mesmo a reformulação radical e/a questão do Ser repetiria as aporias a que chegava a busca metafísica do ser do ente.

Deve-se a partir disso concluir o que Aristóteles anunciava do ser: “. ..Freqüentemente, agora e sempre buscado...”, ele continuaria “sempre faltando”? Aqui, no entanto, abre-se outra possibilidade: o ser poderia colocar urna questão cuja resposta se formularia sem ele ou diferentemente dele; talvez o nome da questão não bastasse para dizer a extensão da resposta. Pois se para todo ente ser significa que ele nos advém (e ele nos advém à nossa revelia incessantemente), o que quer dizer por sua vez todo este advir? Com que direito o ente nos advém? Com o direito que tem o dado de se dar a partir de si. Ou seja, de se dar apenas de si: não a partir das condições que fixaríamos para sua fenomenalidade, mas de sua própria autoridade, surgindo através da presença como um presente e um dom, freqüentemente sem causa nem previsão, sem rima nem razão, até mesmo às vezes do próprio seio do impossível, sem espera nem retorno nem preço, em suma, como um puro dado. O que é o é à proporção que advém segundo seu fato consumado, sobre o modo do que se dá. Esse dado desdobra-se segundo sua doação, que não provém de nenhuma instância transcendente, mas de sua iniciativa imanente. A questão pode muito bem ainda ser dita “Ser ou não ser”, mas a resposta é decidida conforme o dado se dê ou não.



Martin Heidegger ou a Mascara do ente

“Por que existe algo em vez de nada?”, interrogava-se Leibniz, substituído três séculos mais tarde por Heidegger. Questão primordial que o filósofo vai modelar assim como um poeta trabalha a língua. Qualquer explicação que pudéssemos formular quanto ao assunto pressupõe que admitimos a existência de algo, que Heidegger designa como o ente — pois como conceber que não exista nada? E no entanto essa interrogação não pode ser jogada fora impunemente. Ela é fundamental, pois nos reconduz ao fundamento das coisas e nos coloca numa situação propriamente filosófica, a do espanto diante do mundo. “Por que o ente é arrancado à possibilidade do não ser? Por que não recai nela por si mesmo e a todo momento? Por que o ente é? Com essa questão, colocamo-nos no ente de modo que ele perca sua evidência banal como ente.”1

Tentemos fazer a experiência. O pedaço de giz branco que tenho na mão é uma coisa de forma e comprimento determinados e de certa cor. Mas ele poderia ser azul e mais comprido. Poderia igualmente não se achar na minha mão neste momento. Poderia até simplesmente não existir. E essa possibilidade que ‘põe a descoberto o ente em sua vacilação entre ser e não-ser”. Logo o giz, como todo ente, (IOVC seu ser ao ser. “O ente e seu ser, são a mesma coisa? O que é o ente, por exemplo, neste pedaço de giz? O ente significa primeiro o que é sendo, em cada caso; aqui, esta massa de um cinzento esbranquiçado, de forma determinante leve, quebradiça. Podemos, além disso, facilmente compreender que aquilo de que falamos pode também não ser, que no fim das contas este giz não tem que ser aqui, nem que ser em geral. O que é então, diferentemente do que pode caber no ser ou recair no não-ser o que é então, diferentemente do ente, o ser?1

“Nem sobre o ente, nem dentro do ente, nem onde quer que seja, não podemos apreender o ser do ente diretamente. Onde se esconde então o ser? De qualquer modo é preciso que algo desse gênero pertença ao giz, já que ele mesmo, este giz, é.”1 Há, portanto, certamente uma distinção fundamental entre o ente como coisa que é, dotada de um conjunto de determinações, e o que acontece a este ente, o acontecimento que lhe concerne: o fato de que ele está sendo. Pois é um “acontecimento” que a coisa vive, mesmo que ele não nos cause espanto de imediato. E ai reside a grande dificuldade. O ser como processo em ação no âmago das coisas é dissimulado na presença imponente das próprias coisas. Da mesma for- rua, podemos dizer também que o Ser é “dom” de todas as coisas, mas “um dar que dá apenas sua doação, mas que se dando assim, no entanto se retém e se subtrai”.

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